No passado mês de Abril, a revista CIO lançou uma votação on-line. A pergunta em causa era “A sua empresa tem em curso alguma iniciativa de Gestão de Conhecimento?”. A votação terminou e devo confessar que fiquei deveras espantada com os resultados: de um total de 330 votantes, 143 (43.3%) responderam negativamente, enquanto as restantes 187 (56.7%) disseram que sim. Este pequeno texto pretende explicar as razões do meu espanto, e apresentar hipóteses para os valores obtidos.
Encontro-me a viver em Londres, a capítal do país europeu onde o conceito de Gestão de Conhecimento é mais conhecido (talvez seguida de perto por alguns países nórdicos). Aqui, tenho tido oportunidade de visitar exposições onde falo com diversas pessoas e assisto a demonstrações de vários produtos. Tanto nas conversas que tenho, como nas demonstrações, percebo com tristeza que ainda há muito, muito caminho para andar. Infelizmente, persiste a ideia de que Gestão de Conhecimento é uma questão tecnológica e que se resolve com a instalação de uma qualquer ferramenta. Os vendedores de software espalham essa ideia, e só algumas (poucas!), conseguem questionar essa “verdade” de vendedor.
Além disso, apercebo-me que, muitas vezes, quando as empresa anunciam vagas para Gestores de Conhecimento, esperam empregar bibliotecários. Esperam alguém que organize a informação que têm, que defina a taxonomia adequada, que assegure a actualidade e relevância da informação disponível e que pesquise, por forma a ceder aos restantes empregados a informação de que necessitam.
Percebem agora por que razão me espanta este (quase) empate?
Pois bem, a forma como tento entender este resultado, conduz-me a várias hipóteses:
- manipulação de resultados;
- sorte (ou azar);
- vergonha; ou,
- desconhecimento do verdadeiro significado de Gestão de Conhecimento.
Pondo de lado a primeira hipótese que me parece bastante improvável devido ao carácter sério desta publicação, restam as outras três alternativas.
Quando digo que uma das razões pode ter sido a sorte, significo com isso que as pessoas que visitam o site podem fazer parte de empresas que, realmente, fazem Gestão de Conhecimento. Nesse caso, foi sorte ter conseguido esta votação que tão favoravelmente pinta esta realidade. Contudo, também consigo ver esta situação, como um enorme azar, já que, quanto mais as pessoas pensarem que se faz Gestão de Conhecimento, menos se irão esforçar para que isso aconteça.
Quanto à razão seguinte, o que tenho a dizer é que, por vergonha, pessoas de empresas que não façam GC, podem ter optado pela abstenção. O que significa, neste caso, que provavelmente por vergonha, nada farão nos seus locais de trabalho para mudar a realidade actual.
Contudo, a razão que me parece mais plausível, é mesmo a última, e suporto-a com as situações reais que acima descrevi. Creio, sinceramente, que muitas das pessoas que afirmaram a existência de iniciativas de GC nas suas empresas, se podem estar a referir a bases de dados que supostamente armazenam informação relevante, ou à existência de um Gestor de Conhecimento que acumula também funções de Director do Departamento Informático.
Não quero parecer negativista (não o sou, acreditem!), nem pôr em causa a importância destas votações, mas creio que elas têm de ser, friamente, analisadas para que os seus resultados não enganem o leitor menos atento. Há ainda muito caminho para andar, muito terreno a desbravar, muitas mentalidades a mudar, antes de se chegar a um ponto onde a Gestão de Conhecimento não necessite de uma pessoa responsável, mas seja da responsabilidade de todos. Ou, antes disso, onde a Gestão de Conhecimento seja mesmo sobre gerir conhecimento!