Gestão de Conhecimento em Portugal

Ana Neves é a editora do portal KMOL, o primeiro portal português dedicado à gestão de conhecimento. Lançado em Abril último, e actualmente na sua quarta edição, o site já andou um longo caminho para compensar a falta de informação disponível no país sobre gestão de conhecimento e aprendizagem organizacional.

“Portugal é um pequeno país que tenta andar nas trilhas traçadas por outros”, diz Neves. Como resultado, continua ela, a GC está apenas a começar a ter impacto. Uma pesquisa na Internet por gestão de conhecimento em Portugal, por exemplo, irá apresentar ligações a pesquisa universitária – em particular, a conduzida na Universidade de Coimbra, onde Neves estudou – e a um pequeno número de empresas que publicitam soluções e serviços de GC. “Isto é um bom reflexo da realidade da GC em Portugal no momento”, diz Neves.

Contudo, ao seguir exemplos estabelecidos por empresas operando em países onde a gestão de conhecimento está mais presente, as empresas portuguesas são capazes de tirar maior partido de melhores práticas e lições aprendidas que estejam documentadas. Como ilustração, Neves aponta a experiência do seu país na instalação de caixas multibanco. Enquanto Portugal foi um dos últimos países da Europa ocidental a instalá-las, o equipamento usado representou o que havia de mais avançado, baseado nas experiências de outros países, muitos dos quais gastam agora imenso dinheiro para substituir e actualizar máquinas obsoletas. “Se forem a Portugal”, diz Neves, “de certo ficarão admirados com o seu interface e com a quantidade de operações disponíveis através das caixas multibanco.”

O mercado da gestão de conhecimento está decididamente a crescer, mas de acordo com Neves, as empresas que actualmente vendem serviços relacionados com GC caem ainda em dois grupos principais. O primeiro consiste em empresas maiores, bem conhecidas, que tiveram sucesso ao chamar GC às suas soluções tecnológicas, e em “criar receitas usando este nome bonito”. Estas empresas conseguiram tirar proveito do seu alto estatuto e estão contentes ao vender data warehousing, bases de dados, motores de pesquisa e portais corporativos como ‘soluções’ de gestão de conhecimento. O segundo, diz Neves, é principalmente composto por empresas mais pequenas que não têm medo de sujar as mãos com a verdadeira essência da GC, mas que lutam para verdadeiramente penetrar no mercado.

Em termos mais latos, as iniciativas de gestão de conhecimento têm de ultrapassar certos obstáculos que Neves sugere serem típicos das empresas portuguesas. Continuando com a ideia de que Portugal gosta de aprender com a experiência dos outros, Neves acredita que quem propõe GC terá de mostrar retornos quantificáveis do investimento, não apenas a longo prazo, mas também num futuro mais imediato. “Quando a GC começar a entrar, de facto, no mercado português, as empresas vão imediatamente olhar para fora para encontrar histórias de sucesso que justifiquem o investimento”, diz ela. “As empresas portuguesas irão exigir provas fortes e substanciais do que a GC tem para oferecer.”

De igual modo, como Neves refere, as empresas portuguesas são tradicionalmente muito hierárquicas. Isto, também, ameaça atrasar a adopção da GC em Portugal, já que, a não ser que a GC seja uma iniciativa abordada de cima para baixo, a necessária mudança cultural para assegurar o sucesso vai ser difícil de obter. “Vão ser necessários líderes extraordinários para ajudar as empresas portuguesas a mudar a sua cultura e aceitar os ‘termos e condições’ da GC”, diz Neves. “Eles querem que as pessoas trabalhem x horas por dia, mas ler um livro relacionado com o trabalho não é trabalhar. Eles querem que as pessoas desenvolvam os seus interesses, mas apenas no seu tempo livre. Eles querem que as pessoas dêem opiniões, mas não há processos simples para isso. Eles querem um ambiente aberto, mas um chefe é um chefe e uma pessoa deve fazer aquilo que ele/ela diz.”

Neves pensa que a situação está a mudar, mas devagar. Com o portal KMOL, ela está a tentar oferecer um fórum para quem quer promover o lado não técnico da GC, e criar uma consciência para os potenciais benefícios e resultados quantificáveis que a gestão de conhecimento promete. “O portal KMOL existe para fazer as pessoas pensar sobre GC, e perceber que há muito mais para além da tecnologia”, diz ela. “Espero também que as pequenas empresas que mencionei tenham a oportunidade de mostrar aquilo de que são capazes.” De alguma forma, Neves está a oferecer às empresas portuguesas a fonte de justificação que elas procuram para investir na gestão de conhecimento como uma iniciativa cultural de pleno direito. Por último, e embora Neves acredite que a GC está para ficar em Portugal, ela também pensa que será difícil quebrar a associação entre a GC e a tecnologia que já se instalou no país.

(Tradução de Ana Neves. Baseado numa entrevista a Ana Neves, Simon Lelic escreve este artigo sobre o estado da gestão de conhecimento em Portugal.)

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