Era uma vez…

Steve Denning é um dos nomes que nos vêm à cabeça quando falamos de narrativas. Ele é uma das pessoas que mais tem feito recentemente pela divulgação e evolução desta ferramenta. Depois de em Junho do ano passado ter tido a oportunidade de o ouvir num evento organizado pelo KM Forum, tive este mês o prazer de o ouvir de novo, desta feita numa organização da Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce. Pensei que fosse assistir à mesma apresentação, contudo fui agradavelmente surpreendida com um conjunto de slides completamente distinto e com uma dinâmica também diferente. (Tenho para mim que o próprio Steve Denning tem andado a aprender a contar histórias.)

O primeiro conjunto de slides exemplificou, para as cerca de 200 pessoas na audiência, o impacto que as histórias podem ter na vida das organizações (como a HP) e da sociedade em geral (como os eventos de 11 de Setembro, 2001). Recortes de imprensa, responsáveis pela criação dessas histórias, foram apontados como também responsáveis por inúmeros acontecimentos posteriores.

De seguida, Denning começou a sua própria história. Em 1996, enquanto Director da Região de África do World Bank, Steve Denning estava à beira de ser despedido. Lembrou-se, então, de oferecer os seus serviços noutros departamentos e o que recebeu foi a seguinte ordem “Vai procurar informação”. Descobriu nessa altura que a informação disponível é imensa e que de pouco serve recolhê-la e organizá-la se a organização que a possui não for capaz de mudar para a acolher. Começou assim uma dura batalha em que tentou convencer esta instituição mundial a iniciar um programa de gestão de conhecimento.

As dificuldades foram muitas e só quando Denning usou, por acaso, uma história para ilustrar os possíveis impactos da gestão de conhecimento, se apercebeu do poder das narrativas. Foi nesse momento que, a par do seu interesse pela gestão de conhecimento, Denning começou a alimentar a sua paixão pelas narrativas.

Os cinco princípios em que assentam as narrativas são:

  • as narrativas são um fenómeno na primeira pessoa (em oposição, a análise ocorre na terceira pessoa);
  • as narrativas pressupõem abdicar do controlo;
  • há pessoas com quem as narrativas nunca vão funcionar;
  • as histórias têm de ser contadas com paixão; e,
  • as narrativas devem andar de braço dado com a análise.

Segundo Denning as histórias têm o poder que se lhes atribui porque conseguem transportar o ouvinte para um mundo que não o seu: ele passa a ser uma personagem que vive intensamente cada detalhe e, no final, a história passa a ser como que um episódio da sua vida. Elas incendiam o pavio que conduz até à compreensão dos indivíduos.

Segundo Denning as boas histórias são compreensíveis, têm um só protagonista, retractam uma situação / pessoa facilmente identificável, tem um certo grau de estranheza, são plausíveis, incluem a ideia a transmitir, são recentes e verdadeiras, são simples, e têm um final feliz.

As histórias, que podem ser contadas por qualquer pessoa, servem os seguintes propósitos:

  • comunicar ideias complexas;
  • levar as pessoas a trabalhar em conjunto;
  • transferir conhecimento;
  • interromper uma dinâmica de narrativa; e,
  • traçar o caminho para o futuro.

De acordo com o fim a que se destinam, as histórias devem ser “tristes” (para convidar à acção) ou ter um final feliz (para vender uma ideia).

No final da sessão, e em resposta a algumas questões, Steve Denning confessou que considera o termo “gestão de conhecimento” estúpido. Podemos partilhar conhecimento mas é impossível geri-lo. Não obstante, ele considera que a gestão de conhecimento continuará em voga nos próximos anos, já que criar pontes entre as pessoas e oferecer-lhes ferramentas de comunicação será a preocupação do século XXI.

Uma pessoa comum que aprendeu a contar, de forma apaixonada, histórias possíveis, verdadeiras, recentes, simples, compreensíveis, e com um final feliz: Steve Denning veio para ficar!

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