Palestra de José Cláudio Terra

Este é um resumo de uma palestra proferida por José Cláudio Terra no passado dia 3 de Abril no “Seminário Gestão do Conhecimento & Novas Tecnologias” que decorreu na Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil.

Terra iniciou sua exposição mostrando que há algumas décadas não havia departamento de Marketing nas empresas. Porém, as funções deste eram realizadas de maneira informal por outras áreas.

De forma análoga, até há pouco tempo não havia uma função explícita de Gestão de Conhecimento, muito menos uma área específica. Porém, de alguma forma as pessoas compartilhavam informações e conhecimento.

O avanço da tecnologia possibilitou o desenvolvimento dos processos de digitalização e sua conseqüente utilização em larga escala. Simultaneamente, estes viabilizaram o surgimento dos sistemas de KM.

O palestrante citou que Steve Denning – ex CKO (ex-diretor de Conhecimento) do banco Mundial -, em livro recentemente publicado, detalha exemplos da importância da utilização do compartilhamento do conhecimento também no âmbito social. Ele cita o caso de um cientista, que com poucos dólares criou um site na internet ensinando como tratar a malária. O impacto deste conhecimento para a África foi imensurável. Terra arrematou salientando que este fato exemplifica a única forma dos países emergentes, como o Brasil, darem grandes saltos, já que o custo marginal da reprodução de conhecimento é próximo de zero e o benefício advindo do seu compartilhamento é extremamente significativo.

Terra mostrou exemplos de empresas como a Texaco, Siemens, Xerox, Lilly, Nortel etc, às quais a implantação de KM alterou essencialmente a forma de operarem.

A era do conhecimento traz uma nova classe de funcionários: os trabalhadores do conhecimento. Há 20, 30 anos a proporção dos trabalhadores do conhecimento em relação aos trabalhadores braçais era muito baixa. Esta relação foi substancialmente invertida. Atualmente, as pessoas podem contribuir muito. A partir deste momento, Terra discorreu sobre as necessidades dos trabalhadores do conhecimento e as necessidades das organizações da era do conhecimento.

Necessidade dos trabalhadores do conhecimento:

  • Equilibrar vida pessoal e profissional – quebra da dicotomia histórica (pessoas querem sair do trabalho às 18:00h).
  • Evitar atividades de baixo valor (repetitivas).
  • Economizar tempo – recurso mais escasso atualmente.
  • Ser produtivo e criativo.
  • Gerenciar excesso de informação. (Obs: não deixe o trabalhador do conhecimento overloaded).
  • Colaborar com outros (do próprio departamento, outras áreas da empresa, outras organizações).
  • Aprender continuamente.
  • Gerenciar sua própria carreira.
  • Manter-se em contato com outros e com pessoas de sua área de conhecimento (mesmo na praia).
  • Ser ouvido.
  • Ser reconhecido.

Terra observou que as ferramentas mais avançadas permitem fazer um mapeamento social para apontar quem mais colabora na empresa.

Necessidade das organizações da era do conhecimento:

  • Identificar e capturar conhecimento estratégico de dentro e de fora da empresa.
  • Organizar e disseminar conhecimento.
  • Reter e proteger conhecimento de valor.
  • Colaborar com empregados, clientes, parceiros, fornecedores, governo etc.
  • Pensar que todos são stake holders ou players da empresa.
  • Garantir que os empregados estejam motivados a criar e inovar.

Terra passou a apresentar os Portais Corporativos que permitem total integração, mas ressaltou que estes devem obrigatoriamente ter foco no usuário. Explicou que os portais são diferentes de sites. Eles personalizam a utilização, por usuário, por meio de uma infra-estrutura única de segurança. Isto significa que dependendo do perfil de cada usuário o acesso é feito à mesma base de dados, com pequenas diferenças. Como se cada usuário tivesse uma diferente janela para enxergar a mesma base de dados.

Ele ainda informou que os portais têm mecanismos de busca muito mais avançados e voltados para KM do que a internet aberta. Possuem ferramentas de mensuração que permitem avaliar quais as áreas de conteúdo mais utilizadas e as não utilizadas. Citou o exemplo de alguns que pesquisam eletronicamente, por meio de algoritmos, os e-mails enviados e recebidos pelos funcionários e capturam palavras chaves mais utilizadas. Assim, é possível descobrir, por exemplo, quem está tratando de aço escovado ou inteligência artificial numa determinada empresa. Desta forma, a Microsoft realiza reuniões quinzenais para discutir as pistas fornecidas pela ferramenta sobre os temas mais recorrentes entre seus 30.000 colaboradores em todo o mundo.

Terra afirmou que portais corporativos são soluções sócio-técnicas: dependem da integração entre as pessoas, do relacionamento, do ambiente. Devem ter a característica de surpreender o cliente. Citou o exemplo do portal da Amazon que, quando o cliente faz uma consulta sobre determinado livro, recebe informações de pessoas que tem perfil semelhante. Estas informações incluem opiniões sobre o livro consultado e comparações com outros da mesma área.

Os portais possuem links com um único mecanismo de busca para acesso a informações estruturadas e não estruturadas, fornecendo resultados já categorizados por clusters. Por meio deles o usuário pode ter acesso a sistemas ERP, CRM, E-Procurement, WEB, Intranet, Workflow, Groupware, E-Learning etc.

Os portais têm também características como a taxionomia – categorização automática hierarquizada – e single sign-on.

Terra ensinou que a definição de cargos está em extinção. Em algumas empresas inovadoras, as pessoas usam vários “chapéus” (ex: engenheiro de produção, gerente de departamento etc).

Informou ainda que as pessoas têm acesso a vídeos de treinamento e a templates para testarem seu conhecimento em algum assunto específico. Citou o exemplo de templates de apresentações em Power Point que reduzem muito o tempo de confecção das mesmas. Os funcionários podem visualizá-los, fazer download e dar feedback para quem os criou.

Ele ressaltou a necessidade de se planejar os detalhes dos portais, citando a expressão “o diabo está nos detalhes…” – ditado americano que significa que o que mais interessa são os detalhes.

Terra mostrou o exemplo de uma empresa cujo portal faz a apresentação de um funcionário por dia: foto, dados curriculares, projetos em que atuou, família, hobbies etc. Esta é uma ótima forma de aproximar as pessoas, mesmo que seja pelo gosto comum pelo soccer.

Concluindo, apresentou um vídeo da simulação de um portal corporativo com comunicação viva voz, o qual possibilita a conversa real entre as pessoas e afirmou que isso não é mais futurologia.

Encerrando sua palestra, José Cláudio Terra teceu elogios ao Rodrigo Baroni, do BDMG. Segundo ele, Baroni foi o responsável pela tradução do livro de sua autoria recém-lançado, e executou esta tarefa demonstrando conhecimento, experiência e competência.

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