Por ocasião do lançamento do livro “Comunidades Virtuais”, de Jayme T. Filho, foi realizado debate no dia 21/5/2002, de 18:30 as 20 h, no Auditório do SENAC Rio, na Rua Marquês de Abrantes, 99, Flamengo, Rio de Janeiro, sobre o tema Comunidades Virtuais, com a presença de executivos brasileiros do mercado de E-Business e especialistas em Gestão do Conhecimento.O debate foi mediado por Frederico Novaes, gerente do Centro de Educação em Informática do SENAC Rio, com a participação de: Bruno Fiorentini, Presidente do Yahoo! Brasil; Pedro Paulo Magalhães, Director de Soluções de E-Business da ISM; Alberto Rocha, Gerente de TI do Lloyds para América Latina e Director de Tecnologia da SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento; Gustavo Andrade, consultor e professor universitário; e Jayme Teixeira Filho, consultor da Informal Informática e professor da FGV.
Com público estimado de 100 pessoas, o debate girou em torno de questões como: como as comunidades virtuais estão sendo usadas na prática no mercado para gerar vantagem competitiva, quais os benefícios reais obtidos pelos profissionais que participam de comunidades virtuais em suas empresas, qual o papel das comunidades virtuais de práticas na implantação da gestão do conhecimento nas empresas, quais as oportunidades existentes nas empresas para criação de comunidades de prática, e quais os factores críticos para o sucesso de uma comunidade de prática.
O debate foi transmitido em tempo real pela ISM (www.ism.com.br), via Internet, com imagem e textos com o resumos dos debates, através do website do Calandra (www.calandra.com.br).
O debate foi iniciado pelo mediador, Frederico Novaes, que pediu que a mesa comentasse inicialmente sobre o impacto da Internet hoje nas empresas. Bruno Fiorentini destacou que a revolução trazida pela Internet agora e que está começando a ser compreendida nas empresas, e hoje todos fazemos parte desse processo revolucionário. Para Pedro Paulo Magalhães, a Internet é um espaço novo para as comunidades, que se formam a partir da interatividade. Mas as empresas estão aprendendo a usar esse potencial nas suas diversas aplicações, como por exemplo no atendimento a clientes. Bruno Fiorentini colocou que, hoje, o que os recursos humanos têm de diferencial nas empresas é o capital intelectual, o pensamento, a criação, o conhecimento. O espaço de trabalho que sobra é o cerebral. As empresas que realmente querem se destacar, e que vão liderar o processo nesse século, são as que melhor aproveitarem esse capital, usando de sua criatividade no dia-a-dia do trabalho. Na comunidade virtual, pessoas com diferentes pontos de vista trocam experiências, aprendem com as outras, surgindo ideias e soluções que podem ser aproveitadas pelas empresas. Empresas que têm implementado sistemas que fazem com que seus funcionários troquem informações, estão ganhando com as novas ideias que daí surgem. Já Alberto Rocha comentou que uma comunidade virtual interna é o meio de disseminar conhecimento entre o grande staff da empresa. Ele destacou também que a Internet pode ser usada no combate à exclusão digital, para que mais pessoas exerçam sua cidadania. Jayme Teixeira Filho observou, por sua vez, que estamos começando a aprender a usar a Internet. Ainda há muitas distorções. Por exemplo, as pessoas tornam-se reféns na propaganda pela web, preenchendo formulários com informações pessoais e depois não conseguindo mais se livrar do assédio publicitário. Gerenciar conhecimento sobre os clientes é muito mais do que isso, muito mais do que simplesmente um website. Jayme destacou que dá trabalho gerenciar comunidades virtuais, mas que apesar disso as empresas devem aproveita-las mais internamente e externamente.
Em seguida, Bruno Fiorentini indicou que o foco não deve ser a tecnologia, e sim as pessoas, já que não adianta a empresa ter um poderoso software e não haver pessoas treinadas para o usar. Bruno comentou ainda, respondendo à pergunta por e-mail de uma pessoa que acompanhava o debate pela Internet, que o Yahoogrupos tem cerca de 400.000 participantes activos, em comunidades virtuais sobre os mais diversos temas. Hoje no Brasil há cerca de 10 milhões de mensagens por dia sendo trocadas, o que mostra como as comunidades virtuais estão se desenvolvendo rapidamente.
Comentando a aplicação em empresas, Gustavo Andrade observou que deve-se procurar usar a gestão do conhecimento para criar repositórios do que é debatido nas comunidades virtuais, registrando inclusive a referência da pessoa que produziu aquele conteúdo. Já por sua vez, Pedro Paulo Magalhães indicou que numa comunidade virtual pode-se registrar as informações e conhecimentos trocados. Numa empresa baseada em conhecimento, nem sempre há especialistas à disposição, mas é preciso encontrar as informações com facilidade e rapidez. O colaborador não precisa ser especialista, mas usa a informação como tal. Jayme Teixeira Filho destacou que no Brasil há uma tradição oral mais forte do que a escrita, e é muito mais fácil mandar um email do que fazer documentação. Se o conteúdo das mensagens trocadas nas comunidades virtuais nas empresas for editado e colecionado estruturadamente, pode-se montar uma riquíssima base de conhecimento.
Respondendo a uma pergunta do público presente sobre propriedade intelectual das ideias geradas em uma comunidade virtual numa empresa, Bruno Fiorentini observou que se há uma forma comunicada de apropriação de conhecimento (da empresa para o funcionário) não ha problemas. O importante é que se a empresa criar comunidades que gerem ideias, isso funciona como diferencial. Jayme Teixeira Filho argumentou que embora muitas empresas estejam sendo restritivas e cautelosas, o momento deve ser de estímulo à participação em comunidades virtuais e ao uso de Internet. Alberto Rocha colocou, por sua vez, que a propriedade e da empresa, isso deve ser determinado.
Respondendo a uma pergunta colocada pelo público presente, sobre o possível isolamento causado pelo uso intensivo de comunicação virtual, Alberto Rocha argumentou que uma comunidade virtual jamais suplantará o encontro frente a frente, e que ela funciona apenas como um complemento. Já Bruno Fiorentini argumentou que são diferentes formas de se comunicar, cada uma com as suas vantagens e desvantagens. Frederico Novaes argumentou que a forma como a Internet é usada não tem a ver com a ferramenta e sim com a vivência de cada um. Bruno observou que estamos muito mais acessíveis, seja por email, instant messenger, telefone, e temos que aprender a filtrar todas as informações que chegam, aprender a prioritizar. Essas demandas devem ser filtradas, o que significa gerenciar seu conhecimento.
Respondendo a uma pergunta do público presente, sobre mecanismos legais para protecção do capital intelectual nas comunidades virtuais, Frederico Novaes argumentou que é difícil definir uma legislação para algo tão recente como a Internet, ou a propagação de ideias por mídia eletrónica.
Comentando uma observação de uma pessoa da plateia sobre a comunicação virtual apoiando a presencial, Jayme Teixeira Filho lembrou que a SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento – foi criada a partir da vontade das pessoas de uma lista de discussão em se conhecerem pessoalmente, gerando um encontro que foi o ponto de partida para a sua fundação. Jayme citou o exemplo ainda da Tecnovila (www.tecnovilaestrela.hpg.ig.com.br), uma comunidade virtual que congrega os moradores da serra de Macae, próxima a Sana, como um caso em que o virtual está ao serviço da comodidade e da qualidade de vida das pessoas.
Após o debate, Frederico Novaes convidou os presentes para o coquetel de lançamento do livro “Comunidades Virtuais”, de Jayme Teixeira Filho, com a presença do autor, no saguão contíguo ao auditório.