Quinta dos Moinhos de São Filipe. Parque Nacional da Arrábida. Setúbal. Portugal. Um local idílico. Um tempo óptimo. Um fantástico grupo de pessoas. Vieram dos Estados Unidos, do Reino Unido, Austrália, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Holanda, Áustria, e Portugal. São médicos, consultores, investigadores, entrepreneurs, professores, gestores, e alunos. São solteiros e casados. São homens e mulheres. São altos e baixos, gordos e magros, louros e morenos. A única coisa que têm em comum é a sua paixão comum pela aprendizagem e acreditarem que as Comunidades de Prática são provavelmente o melhor ambiente para que a aprendizagem aconteça.
A comunidade foi criada on-line. Era um grupo de pessoas que se inscreveram nos cursos do Etienne Wenger e do John Smith sobre comunidades de prática. Outros juntaram-se depois. A esses era atribuído um “compincha” (buddy), uma pessoa da comunidade responsável por ajudar os recém-chegados a ambientarem-se à comunidade. Havia um espaço virtual que a comunidade usava para comunicar, através de e-mails e mensagens. Também recorria a teleconferências para que os membros pudessem ouvir as vozes uns dos outros e chegar a um consenso em alguns assuntos. Conhecendo-se virtualmente, as pessoas queriam-se encontrar. Decidiram-se por Portugal pelo seu bonito sol.
Não havia qualquer agenda para o encontro e a nossa primeira tarefa de grupo foi decidir horários, os tópicos para discussão, e os casos para apresentação. Não foi fácil e foi tacitamente decidido que se iria pensar um dia de cada vez. Foram surgindo papéis espontâneos que davam resposta às necessidades de controlar o tempo, facilitar as discussões.
Aqueles que tinham mostrado interesse, apresentaram o seu caso ao resto do grupo que, de seguida, dispararam imensas perguntas, tentando descobrir o máximo possível sobre a situação. Depois disso, e reunidos em pequenos grupos, todos tentavam responder às questões do “apresentador”. Alguns pediram ao grupo para identificar o tipo de problemas que deveriam antecipar. Outros, já conscientes dos problemas envolvidos, pediram ao grupo para avançar algumas possíveis soluções. Relatar ao resto do grupo era sempre muito engraçado. Ninguém conseguia controlar-se e o desejo de explorar, tentar, jogar, desafiar, e envolver, era mais forte que os moderadores. A experiência de trabalho em pequenos grupos foi muito positiva. Os grupos pequenos encorajavam a participação dos mais tímidos e as discussões eram mesmo boas. Contudo, ninguém teria abdicado das sessões em que todos estavam presentes já que todos estavam desejados por ouvir todos os casos apresentados. Mesmo que o “apresentador” não tivesse tempo de contar todo o caso e o seu contexto, era possível falar com ele/a depois e tentar saber mais detalhes.
Alguns dos casos discutidos foram:
- a nossa comunidade de prática em comunidades de prática (CPSquare);
- uma comunidade de pais de crianças com transplante de fígado;
- uma comunidade que decide o futuro de um pedaço de terra Holandesa;
- uma comunidade de polícias Holandeses;
- comunidades de alunos de moderação de comunidades;
- uma comunidade de professores primários Britânicos; e,
- uma comunidade de instituições governamentais Dinamarquesas.
Apesar de não se ter chegado a nenhuma conclusão, sinto-me muito mais confiante para reconhecer e lidar com estes aspectos.
Também discutimos o papel dos moderadores. Quais são as suas responsáveis? O que deveriam fazer para encorajar participação? O que podem fazer para promover aprendizagem? Como criar um sentimento de pertença? Como agir face ao conflito? Este tópico era tão extenso que não trabalhámos nele tanto quanto gostaríamos. Em pequenos grupos discutimos a nossa experiência, tanto como membros como moderadores, e tentámos derivar algumas sugestões. Foi acordado que um pequeno grupo da comunidade irá continuar a debruçar-se em mais detalhe sobre este tópico on-line.
A posição circular das cadeiras encorajava a participação e criava um ambiente mais acolhedor. Às vezes sentia-me como que se numa reunião de Alcoólicos Anónimos. Todos partilhámos as nossas experiências, os nossos sucessos e os nossos fracassos. Todos demos ao grupo uma parte de nós e confiámos nos outros para nos dar bons conselhos desinteressados.
No verdade espírito comunitário, todos tínhamos o nosso turno para pôr a mesa, carregar a comida, e lavar os pratos. Também isto me vez pensar nas antigas comunidades reunidas para dar resposta aos desafios do ambiente envolvente. Penso que a nossa comunidade entende a necessidade de continuamente aprender e evoluir. Isso torna-nos mais chegados e torna-nos mais fortes.
Um dos membros da comunidade é Etienne Wenger. Ele é o homem que cunhou o conceito de comunidades de prática. O homem que as definiu e o homem que defende as vantagens desta forma de interacção social. Ele acredita que através de comunidades de prática os indivíduos podem crescer e aprender das interacções com outros praticantes do mesmo domínio.
Etienne revelou-se uma pessoa muito humilde, apesar do seu conhecimento e da sua experiência em comunidades de prática. Partilhou as suas ideias, falou-nos das comunidades de prática com que já trabalhou, e também acolheu as nossas opiniões. Tal como disse, ele estava desejoso por aprender connosco.
Todos fomos a Setúbal com as nossas chávenas de chá vazias (ver caixa). Todos fomos lá para aprender, para partilhar as nossas experiências, e para pedir conselhos para os problemas que enfrentamos. Íamos com dúvidas sobre se trabalharíamos bem em conjunto (muitos de nós nunca se tinham visto) e não estávamos certos se cinco dias das nossas vidas seria um bom investimento. Acontece que todos adorámos e estávamos tristes por nos separarmos (fisicamente).