O filme chamado Patch Adams – O amor é contagiante, conta a história real de um homem que por tentar suicídio, decide internar-se em uma clínica psiquiátrica. Nesta clínica, para nossa sorte, ele descobre uma vocação que mudaria sua vida para sempre. Uma vocação dedicada a ajudar pessoas. Uma qualidade extremamente importante a função gerencial, inclusive a gestão do conhecimento. Embora relate a vida de um médico brilhante, o filme e seus exemplos, são interessantes para profissionais de todas as áreas e principalmente relevantes ao pessoal envolvido com a gestão do conhecimento.
Durante o período de internação na clínica, Patch Adams descobriu que se aproximando das pessoas e se importando verdadeiramente com elas, um comportamento novo positivo era obtido. Essencial à recuperação de seus colegas. Logo no início do filme, Patch Adams, vivido por Robin Williams, é entrevistado por seu psiquiatra, que muito claramente demonstra despreparo para a função. Seu médico além de não lhe conceder a atenção necessária, consecutivamente olha para o relógio, demonstrando não ver a hora de terminar a consulta, e sem lhe prestar a devida atenção acaba demonstrando não envolver-se profundamente com seu paciente.
Quantas vezes isso ocorre em nossas empresas? Quantos gerentes, embora ansiosos pela inovação, se acham sem tempo para ouvir seus funcionários, desprezando o que eles tem a contar? Quantas vezes as pessoas na empresa apenas fingem ouvir o que as outras estão dizendo? Quantas idéias relevantes são perdidas anualmente por este tipo de comportamento? Quais as conseqüências dessa postura gerencial? Qual a extensão real dos prejuízos causados por este tipo de conduta nas empresas? Essa conduta não seria classificada como inimiga do conhecimento?
Já que havia se internado voluntariamente, depois de ajudar Rudy (um outro paciente) a vencer seus temores e movido pelo forte desejo de entender e ajudar outras pessoas, Patch Adams decide deixar a clínica, contrariando profundamente seu psiquiatra. Nesse instante, Patch Adams relata ao seu médico: Ontem a noite, com Rudy, fiz conexão com outro ser humano. Quero aprender a ajudar gente com problemas como ele. O Doutor prontamente lhe disse: Más isso é o que eu faço. Patch Adams lhe respondeu: Más é péssimo. Nem olha para os que falam com você. Eu quero dar atenção a eles. Eu quero ouvi-los.
Ouvir e dar atenção tem importante papel na gestão do conhecimento. As competências de ouvir, prestar atenção e apoiar verdadeiramente os funcionários, são inerentes à função de gerência e, portanto, deveriam ser monitoradas e cobradas pelos executivos da empresa. Se desejam aprender e crescer, as pessoas precisam aprender a ouvir as outras. Esta é uma rica lição, pois ilustra a importância da socialização, das conexões humanas, do ouvir, do olhar nos olhos das pessoas para o êxito da gestão do conhecimento.
Depois de deixar a clínica, Patch Adams entra na faculdade de medicina e por acreditar que o bom humor é o melhor remédio para os pacientes, enfrenta sérios problemas até atingir sua formação. O filme evolui e Patch realiza vários experimentos com pacientes do “hospital escola”, obtendo excelentes resultados. Embora conseguisse as melhores notas nas provas, o estilo de Adams contrariava a maioria das pessoas na universidade, pois seu comportamento e suas técnicas chocavam com a tradição, com paradigmas enraizados, com modelos e verdades inquestionáveis.
Quem nunca viu isso acontecer nas empresas? Aqui extraímos mais alguns bons exemplos relevantes à gestão do conhecimento: a importância dos experimentos; a importância de acreditar nos instintos; quando inovamos encontramos resistência em todos os níveis; as mudanças e o novo incomodam as pessoas; paradigmas enraizados e verdades inquestionáveis são prejudiciais ao conhecimento; a tradição precisa ser questionada na empresa e em nossas vidas, entre outros.
A quase uma hora e meia de filme, há um exemplo clássico de gestão do conhecimento. Nesse momento, Patch Adams decide ir embora da faculdade quando um outro estudante, até então muito arrogante e pouco simpatizante de Adams, num exemplo de rara humildade insiste que ele permaneça e afirma: A Sra. Kennedy do 212 não quer comer. Há três semanas que a visito diariamente e não consigo fazê-la comer. Sei tudo que é para saber sobre medicina. Estudei inexoravelmente. Sei mais e sou melhor diagnosticador que qualquer cirurgião no hospital, mas não a convenço a comer. Você tem um talento Adams. Sabe lidar com gente. Eles gostam de você. Se você for embora, não poderei aprender seu método.
Neste trecho do filme consigo obter vários outros exemplos úteis a gestão do conhecimento. O primeiro deles é a humildade essencial à aprendizagem e a obtenção do conhecimento. Um outro exemplo que gostaria de enfatizar, está relacionado à importância de tanto as pessoas, quanto a própria empresa conhecer seus limites. Notem que o aluno que faz o apelo para que Patch continue com eles, conhece exatamente seus pontos fortes e fracos e sabe que conhecimentos complementam e se somam ao dele, tornando ambos muito mais fortes. Da mesma forma, reconhece as potencialidades de seu amigo.
As pessoas na empresa deveriam se comportar de maneira similar e assim descobrir alternativas para geração de riquezas a partir do que elas sabem. Assim como, a empresa do conhecimento deveria ter uma visão bastante clara das suas competências essenciais e saber que outras competências podem lhe ser agregadas para torná-la muito melhor. Além disso, deve ter a humildade para procurá-las.
Outro exemplo, também encontrado neste trecho do filme é a importância da retenção dos talentos. O que o doutor estava fazendo com Patch era pura gestão do conhecimento, pois estava tentando reter Patch Adams na escola e assim ter mais tempo para aprender com ele e explorar os conhecimentos dele. “Se você for embora, não poderei aprender seu método”, disse ele.
Quanto profissional talentoso tem deixado sua empresa? Você tem se importado com isso? O que de fato sua companhia tem feito para reter e atrair os melhores talentos do mercado? O que você tem feito para evitar a saída deles da companhia? O que sua empresa tem feito para minimizar o impacto dessas evasões? Qual o impacto da rotatividade dos talentos em sua empresa sobre a evasão do conhecimento?
Para concluir, quase ao fim do filme, Patch Adams é ameaçado pelo diretor da escola que tenta negar-lhe o direito de se formar. Submetido ao conselho de alunos e professores, sua última e única chance de poder concluir o curso e se formar, Patch Adams conclui o filme com um discurso brilhante, que além de muito interessante, de uma riqueza indiscutível, exemplar a qualquer profissional, também se mostra recheado de exemplos úteis à gestão do conhecimento.
“Este auditório está repleto de futuros médicos. Não se deixem anestesiar pelo milagre da vida. Sempre se extasiem pela glória do corpo humano. Concentrem-se nisso, não em procurar notas que não indicam o tipo de médico que serão. Não esperem demais para recuperar a humanidade. Aprendam a entrevistar. A falar com estranhos, com amigos e com todos. Cultivem amizades com essas pessoas incríveis, as enfermeiras. Elas cuidam de pessoas dia após dia. Têm muito a ensinar. Bem como os professores que não tem o coração gelado. Aprenda a ter compaixão”.
“Quero ser um médico de todo o meu coração. Queria ser um médico para poder ajudar o próximo. Por causa disso, perdi tudo. Compartilhei das vidas de pacientes e pessoal do hospital. Rimos e choramos juntos. Quero dedicar a minha vida a isso. E hoje, seja qual for a decisão dos senhores, juro por Deus que vou chegar a ser o melhor médico de todo o mundo. Podem impedir que eu me forme. Podem me negar o título e a bata branca. Mas não podem dominar meu espírito nem evitar que eu aprenda. Não podem me impedir de estudar. Portanto, você tem uma escolha: podem me ter como um colega apaixonado, ou como um intruso, mas ainda inquebrantável. Seja como for, ainda vou ser um espinho. Mas prometo, vou ser um espinho que não se pode arrancar.”
Não preciso dizer que Patch Adams se formou e seu método prosperou. É interessante imaginar, que nossa última lição, também relevante à gestão do conhecimento, tenha sido comprovar na prática, como a experiência alheia pode ser útil à aprendizagem, tal como o filme Patch Adams, de onde extraímos vários exemplos interessantes tanto à gestão do conhecimento, quanto à nossas próprias vidas.
Aplica=se à disciplina que leciono.