Impressões do KMBrasil 2002

Entre os dias 16 e 18 de setembro, a Sociedade Brasileira deGestão de Conhecimento realizou o KMBrail 2002. O evento ocorreu em São Paulo e contou com cerca de 20 stands de exposição, mais de 40 palestras e 9 tutoriais. Eduardo Lapa e Fernanda Soares participaram do congresso pela Informal Informática e trazem aqui um resumo do evento e de algumas palestras.

A abertura do evento foi feita por uma mesa composta de integrantes de diversas instituições, onde os integrantes falaram, entre outras coisas, da era que estamos atravessando. Logo na abertura, tivemos a gratificante surpresa de poder rever uma fita de vídeo, onde Jayme Teixeira Filho falava sobre o evento de Embú, quando foi criada a SBGC.

O primeiro dia…

A primeira conferência contou com a presença de uma palestrante da Microsoft, Trina Seinfeld, que deveria ter falado sobre as tendências mundiais em gestão do conhecimento. A palestrante mostrou a questão do conhecimento sobre três pontos de vista: Econômico, Pessoas e Processos. Na visão dela, as empresas têm uma preocupação pelo viés econômico por estarem antenadas no aumento brusco da competitividade, questões de globalização. No ponto de vista de pessoas, ela acredita que estas têm resistência à tecnologia e à modernidade. Quanto a processos, ela aponta o desnível entre tecnologia de informação e estratégia de negócios.

Trina falou também sobre o advento da tecnologia, a melhoria na captura e compartilhamento de informações através da Internet, além da possibilidade da documentação eletrônica. Ela fez um paralelo entre os anos 80 e 90, onde as empresas possuiam “ilhas” de informação, enquanto que hoje, através de correio eletrônico, softwares de colaboração e programas de mensagem instantânea, isso não existe mais. No restante da palestra, Trina falou sobre as tecnologias da Microsoft para web.

A segunda palestra, contou com Brooke Aker, presidente da americana Cipher Systems. Brooke falou sobre o estado da arte em Inteligência Competitiva e as tendências mundiais. Brooke iniciou definindo inteligência competitiva como processo de contextualização, junção e análise de informações para tomada de ações.

O palestrante abordou que é importante em um projeto de inteligência competitiva, a utilização e cruzamento entre informações internas e externas. Para Brooker o que diferencia a questão de informação competitiva e inteligência competitiva é o tempo. A informação é algo que retrata o passado, enquanto que a inteligência tem a função de prevenir, trazendo assim redução de riscos para o negócio.

O palestrante também falou sobre a importância de traçar estratégias ao implantar Inteligência Competitiva na empresa, afim de melhorar os resultados do negócio. De acordo com ele, a Inteligência é o principal driver da estratégia, e a criatividade é o principal driver da Inteligência.

Para ilustrar, foi feito um paralelo entre as estratégias da Dell e da IBM. A primeira aposta na intimidade com o cliente, enquanto que a segunda objetiva a liderança de produto.

Na parte da tarde, optámos por assistir à mesa redonda sobre Capital Intelectual como a grande vantagem competitiva. Em paralelo houve conferência sobre Educação à Distância na capacitação de recursos humanos e painel sobre a Inteligência e Conhecimento na esfera pública.

Nesta mesa redonda, Petros Katalifos, da Siemens, Leo Bruno, do Instituto Genius e Carlos Siffert, da Promon, falaram basicamente da diferença entre o Capital Estrutural e Capital Intelectual. Petros usou a metáfora de árvore para representar esta diferença, colocando o capital financeiro como a parte que vimos da árvore, como o tronco e as folhas e o capital intelectual como a raiz.

Pareceu consenso entre os participantes que capital humano não é propriedade da empresa, e quando o funcionário “vai para casa”, invariavelmente o carrega com ele. Para estimular o capital intelectual, o potencial do colaborador deve ser estimulado através de listas de discussão, premiações, reconhecimento de autoria e comunidades de práticas por exemplo.

Petros ressaltou que funcionários que ocupam cargos de gerência têm função importante dentro do processo de criação e compartilhamento de informações. Por este lado Petros falou sobre empowerment, estímulo à criatividade, liderança entre outros aspectos importantes para um gerente.

Logo a seguir, houve outra mesa redonda sobre a prática da Gestão do Conhecimento e da Inteligência Competitiva nas organizações, com Ana Mcloughin da PriceWaterHouseCoopers, Paulo Lemos da OPP, Robson Lisboa da Nokia, e Rodrigo Pimentel, da GE Plastics. Paralelamente, ocorreu a continuação do painel sobre Inteligência e conhecimento na esfera pública.

A mesa começou com Ana falando sobre o caso PWC, onde foram alinhados organização (compartilhamento de conhecimento), processos, cultura (eliminação de barreiras) e tecnologia. Através da soma de conhecimento da empresa somada ao conhecimento externo, a PWC pode oferecer um serviço de qualidade ao cliente.

Ana falou sobre a experiência e os princípios da PWC em gestão do conhecimento. Dentre os princípios colocados, destacaríamos:

  • Entregar conhecimento certo para pessoa certa no momento certo.
  • Gestão do conhecimento é chave para cultura de valor e estilos
  • A decisão de “o quê” compartilhar é de cada área
  • O papel da equipe de gestão do conhecimento é o de facilitar no processo de inclusão e recuperação de conteúdo.

Robson Lisboa falou sobre o portal do conhecimento da Nokia, divulgado com forte endomarketing na empresa, e lançamento em comunidades virtuais. O portal da Nokia contempla iniciativas de e-Learning, páginas amarelas e comunidades de prática.

Uma segunda ação bem interessante da Nokia é um sistema de gestão de conhecimento para técnicos em manutenção de aparelhos celulares. O sistema, batizado como DIGS, “ensina” e “aprende” com o usuário, fornece acesso a todos os técnicos da Nokia, é multi-idiomas e fornece os procedimentos padronizados.

Rodrigo Pimentel, abordou casos de e-seminar, permitindo interatividade com o usuário e e-solutions center, que consiste numa junção de todas as ferramentas que estreitem a relação com o consumidor, como CRM, database marketing e a equipe de vendas.

E o segundo dia. Como foi?

No segundo dia optámos por iniciar no auditório amarelo, onde houve um ciclo de palestras denominado Gestão do conhecimento – Grandes temas, onde foram tratados assuntos como mapeamento de competências, mapeamento de processos, comunidades de prática e portais corporativos.

Leopoldo Antonio de Oliveira Neto, da FGV/SP, falou sobre mapeamento de competências, que exige abordagens coerentes e abrangentes. Na sua visão, as competências devem ser classificadas em motivos, traços, conceitos, conhecimento e conteúdo, bem como categorizadas em realização, assistência, influência, administração, cognitivas e eficácia pessoal. Leopoldo citou ainda que para existir tal tipo de mapeamento precisamos ter preocupação com capital intelectual, estrutural e de relacionamento.

Luiz Piemonte, da IDS Scheer, abordou o assunto do mapeamento de processos, explorando as seguintes correntes: EUA, onde o uso da tecnologia da informação é bastante presente; Japão, onde o capital humano é mais analisado; Suécia, com a tradução, ou seja, como gerir e usar o conhecimento de forma mais prática. Em seguida Piemonte falou sobre a metodologia de mapeamento de processos da IDS, que engloba análise qualitativa, quantitativa e gestão do capital humano e pode ser representada da seguinte forma:

  • Entender estratégia (Objetivos)
  • Identificar estrutura organizacional
  • Identificar competências p/ processos
  • Identificar competências p/ cargos
  • Gerar BD de competências requeridas
  • Identificar pontos de trabalho
  • Avaliar competências
  • Revisar estrutura organizacional
  • Associar recursos aos cargos
  • Simular processos

Jerônimo de Souza, da Promon, falou sobre sua experiência em comunidades de prática na sua empresa. A criação das comunidades da Promon deu-se através de reuniões de interesse por gestão do conhecimento, onde funcionários de diversos níveis hierárquicos trocavam experiências e debatiam sobre gestão do conhecimento. O grupo, ao contrário do que se imaginava, foi crescendo e, hoje, levanta temas para incluir no planejamento estratégico da empresa. O palestrante também falou sobre a importância de processos para captar conhecimento, como a criação de portal corporativo.

José Cláudio Terra, da Balance Consulting, falou sobre portais corporativos que, em sua visão, devem ser criados com foco final nos usuários. Nesse tipo de portal, o funcionário pode compartilhar informações que sejam importantes para a empresa, servem para interligar diversos sistemas de informação existentes na empresa, entre outras funcionalidades.

Carlos Roland, da Conceito Intelligence, falou sobre intranet para pequenas e médias empresas. O palestrante começou dando um panorama geral de como funciona uma Intranet e seus benefícios, como possibilidade de interatividade, fácil expansibilidade, informações bem distribuídas, eliminação de burocracia e duplicação de informação (através de ferramentas), etc.. Definiu o portal corporativo como uma Intranet aliada a sistemas de inteligência, GC, gestão de documentos, automação de processos e datawarehouse. Ele também diferenciou os tipos de portal, de conteúdo, conhecimento e acesso.

Na parte da tarde, houve outro ciclo de palestras sob o tema: Inteligência Competitiva – Grandes temas. Neste ciclo foram debatidos assuntos como a ética na implantação de sistemas de inteligência competitiva nas empresa, o papel do profissional de inteligência competitiva nas organizações, contra-inteligência, metodologias para coleta, análise e mensuração de resultados dos trabalhos de inteligência competitiva.

Neste ciclo, chamou bastante a atenção uma pesquisa que o Marcos Furtado Carvalho, da ABRAIC mostrou. A pesquisa foi sobre o papel do profissional de IC nas organizações, levando em consideração aspectos como perfil do profissional, em qual área da empresa ele se encontra, há quanto tempo trabalha com isso, salário do profissional, etc..

Walter Felix Cardoso, da UFSC, falou sobre contra-inteligência e proteção do conhecimento. Mostrou a importância de se prevenir, obstruir e detectar problemas dentro de empresas que trabalham com produtos ou serviços ricos em conhecimento. Na visão de Walter, a empresa deve saber o que o concorrente não pode, em hipótese alguma, descobrir sobre a sua organização. Durante o planejamento, a empresa deve definir como prioridades de proteção:

  • Informações críticas que levariam os concorrentes a terem insights de valor
  • Indicadores que podem despertar a atenção
  • Desenvolvimento de planejamento de proteção para cada indicador
  • Conhecimento sobre a concorrência
  • Colocar-se no lugar do rival
  • Dissimular informações, desinformar
  • Como o concorrente se portaria diante de suas contramedidas?
  • Aplicação de métodos analíticos de inteligência
  • Difusão para os tomadores de decisão

Por último, frisou a importância, na implantação de um projeto de contra-inteligência, da seqüência:

1º Identificação dos usuários e determinação das necessidades

2º Coleta e pesquisa

3º Processamento do material

4º Disseminação das inteligências

Alcir da Motta Mesquita, da Norwich, falou sobre metodologias de análise, coleta e mensuração de resultados de projetos em inteligência competitiva. Alcir falou sobre qual a diferença entre “Nice to know” e “Need to know”. O primeiro representa tudo aquilo que é bom saber, mas não faz muita diferença para a organização, enquanto que o segundo é um conjunto de informações importantes para a empresa. O palestrante, além de abordar o assunto, mencionou que Inteligência Competitiva é a atividade voltada para o decisor, por isso é importante um planejamento antecipado das necessidades de informação e posteriormente deve-se pensar nas fontes de informação e o processo de coleta.

Após este ciclo de palestras, houve a mesa redonda sobre o tema “O Conhecimento na competitividade das pequenas e médias empresas – redes de informação e apoio”.

Paulo Alvim, do SEBRAE, falou sobre as principais dificuldades em implementar um programa de gestão do conhecimento em pequenas e médias empresas. Entre eles, ressaltaríamos a diversidade de modelos existentes, a multiplicabilidade, a necessidade de baixo custo e simplicidade e, principalmente, o uso compartilhado de ferramentas e sistemas de informação, ou seja, um cluster ou setor compra uma ferramenta e utiliza os recursos desta de forma compartilhada. Paulo citou casos de gestão do conhecimento em PMEs do SEBRAE, como o programa de telecentro, o portal das PMEs, e falou sobre a importância da difusão das informações e das parcerias do SEBRAE para desenvolver os programas de gestão do conhecimento.

Terceiro e último dia…

Na quarta-feira, iniciamos o dia participando de uma reunião, mediada por Paulo Fresneda, com os representantes dos pólos regionais da SBGC. Estavam presentes representantes do polo RJ, SP, MG, RS, entre outros.

Jorge Cataldo, representante do Rio, colocou que não há estrutura financeira para dar continuidade a certos projetos, embora alguns já tenham sido criados. Um deles seria o de “clippar” notícias e artigos e disponibilizar. Jorge também tem o projeto de fazer um mapeamento de equipas de gestão do conhecimento, buscando contato com as equipas de GC das empresas, porém as questões “tempo” e “dinheiro” tem sido bastante críticas.

O representante do polo SP, disse que a maior dificuldade é arrumar uma estruturação física para o pólo. Outro problema é a dificuldade de prender o interesse dos participantes dos pólos para discutir assuntos administrativos e regulamentos. Um dos projetos do pólo foi a criação de grupos de trabalho sobre GC.

O representante do polo centro-oeste falou sobre a dificuldade de encontrar pessoas dispostas a “colocar a mão na massa”, para levar adiante as ações. Sugeriu a criação de eventos de menor porte sobre gestão do conhecimento e inteligência competitiva espalhados por diversas regiões do país. Outra sugestão: alavancar eventos relacionados à gestão do conhecimento junto a pequenas empresas.

Fechando o terceiro dia, participamos do debate e colocação de propostas para criação do Prêmio “Jayme Teixeira Filho” de Gestão do Conhecimento, onde participaram Jorge Cajazeira, da Bahia Sul, José Claudio Terra, da Balance Consulting, Edson Vaz Musa, da FPNQ e Ricardo Correa, da Fundação Casemiro Montenegro Filho.

Os participantes discutiram os possíveis critérios para premiação, ilustrando com casos de sucesso. Um dos temas discutidos, sobre o critério de avaliação, foram as diferentes maneiras de definir GC e como foi aplicada na organização, já que isso pode ocorrer de duas maneiras: GC como cultura ou sistema. Isso torna a comparação bastante difícil na hora da premiação. Foi também discutida a dificuldade de pesquisa sobre casos reais.

Além disso, é importante, na hora da elaboração do prêmio, não estabelecer regras que devam modificar a cultura de GC dentro da empresa, para que ela não tenha a obrigação de se adequar aos critérios estabelecidos pela premiação.

Ressaltando a um ponto levantado: é preciso ter cuidado para que não haja o que houve com os prêmios de qualidade, onde as empresas adequavam seus projetos, iniciativas e processos, de modo a ganhar o prêmio.

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