Este mini-artigo apresenta as características de um agente e enfoca a idéia proposta pela “teoria da complexidade”, proposta por Axelrod & Cohen, contemplando o conceito de agente como alguém que interage com outros agentes dentro de um espaço físico e conceitual, e como as estruturas de variação, interação e seleção repercutem nas relações pessoais e organizacionais. Salienta a importância de ver-se como agente, concluindo que para conhecer os outros e interagir de forma efetiva, é necessário em primeiro lugar conhecer-se a si mesmo e que para mudar os outros, precisamos mudar primeiro a nós mesmos.
Características de um agente
Etimologicamente, “Agente é o que age, que exerce alguma ação; que produz algum efeito. Pessoa agente. Tudo aquilo que age, que atua. Indivíduo encarregado da direção de uma agência. Ser que realiza a ação expressa pelo verbo. Causa, razão, motivo. Que pratica a ação”.
Assim, pode-se dizer que o Agente é àquele que pratica uma ação e que produz um efeito, ou seja, é o elemento que produz a energia que faz funcionar a engrenagem organizacional, produzindo um resultado.
Axelrod & Cohen (1999) define agente como “um conjunto de propriedades (especialmente localização), estratégias e capacidades para interagir com artefatos e outros agentes. Um agente tem a habilidade de interagir com seu ambiente, incluindo outros agentes. Um agente pode responder pelo que acontece ao seu redor e pode fazer coisas com mais ou menos propósito”.
Considerando o contexto em que o agente se insere e os múltiplos papéis que desempenha num mesmo ou em diferentes espaços físico e conceitual, pode-se dizer que ele possui as seguintes características:
- Interativo – interage com outros agentes, artefatos e com o contexto em que se encontra inserido, promovendo mudanças.
- Histórico – situa-se num determinado espaço e tempo.
- Transcendental – traz ao seu meio as impressões de seu passado e age de acordo com o comportamento de seus antepassados.
- Tipológico – assume vários tipos a partir dos papéis que desempenha dentro de uma ou várias organizações. Um tipo é uma categoria de agente dentro de uma grande população.
- Estratégico – define, implementa e avalia as estratégias dentro de uma organização.
- Adaptável -ajusta-se ao meio e ajusta suas experiências através da revisão de suas estratégias, promovendo a mudança no contexto no qual outro agente está tentando se adaptar.
- Variável – suas ações são diversificadas, tanto na definição de estratégias, quanto na implementação de idéias.
- Sociável – organiza-se em grupos sociais, denominados de populações de agentes.
- Modelo – podem ser copiados, tanto como agentes (genética – clonagem), quanto nas estratégias que adotam e nos estilos gerenciais, quando líderes.
- Normativo – define normas para o grupo em que vive e age a partir das normas organizacionais e sociais do contexto em que atua.
- Avaliador – atribui crédito na seleção de agentes ou de estratégias, categorizando como sucesso ou insucesso.
Assim, de acordo com Axelrod & Cohen, ” Agentes, de uma variedade de tipos, usam suas estratégias em interações padronizadas, entre si e com artefatos. Medidas de desempenho dos eventos resultantes, direcionam a seleção de agentes e/ou estratégias através de ‘error-prone’ cópia e recombinação, mudando assim a frequência dos tipos dentro do sistema”.
Vendo-me como agente
Olhar para o contexto em que estamos inseridos e avaliarmos os agentes que nele atuam, atribuindo-lhes crédito de sucesso ou de fracasso, é comum e até fácil.
No entanto, olhar para dentro de nós mesmos requer uma habilidade de introspecção, o que é muito difícil quando temos arraigado pré-conceitos e quando recebemos uma educação calcada na concepção de que o nosso é o melhor e de que o certo é sempre tirar vantagem de tudo.
Para que possamos enxergar o que somos, é necessário nos conhecermos e acima de tudo é fundamental a adoção de novos paradigmas, a fim de que mude a nossa maneira de pensar acerca de nós mesmos e dos outros agentes com os quais interagimos.
Elaborar uma lista de qualidades pessoais é possível, mas enumerar os defeitos e pontos de atritos para uma convivência equilibrada em uma ou mais população de agentes nas organizações, é a parte mais crítica do comportamento humano.
É fundamental compreendermos que, para mudar os outros, precisamos primeiro mudar a nós mesmos.
Segundo O´Donnell (1994, p.11), para trabalharem juntos os indivíduos “precisam ter as qualidades – respeito, tolerância, humildade, cooperação, percepção, sensibilidade e sinceridade-(…). No papel parecem maravilhosas. Colocá-las na prática requer um entendimento mais profundo, além de um esforço pessoal permanente. A introspecção, a reflexão profunda ou a meditação são ferramentas extremamente úteis na aquisição e na consolidação destas qualidades”.
A mudança de paradigmas requer o entendimento das organizações como sistemas, cuja engrenagem é movida pela ação e pela interação dos agentes em uma abordagem coerente e holística, para projetar intervenções num mundo complexo, onde cada coisa afeta todas as outras de alguma maneira.
De acordo com O’Donnell (1994, p.35), “internamente, na organização, o que cada um pensa, fala e faz, tem um efeito na própria organização, o que volta a afetar todos os seus membros. O indivíduo ou grupo que entender esta lei da interdependência, implícita na visão holística, passa a ter um compromisso mais forte com melhorias. Afinal, se ele melhora, tudo melhora na mesma extensão”.
Este processo de ver a organização dentro de uma visão holística, requer que os agentes tenham competência para interagir de forma pró-ativa, a fim de buscar a qualidade de vida tão necessária para todos os sistemas humanos e sociais.
A fim de ter competência para desenvolver essa interação é necessário que o agente tenha conhecimento técnico, humano e visão de mundo; habilidade para efetuar na relação teoria-prática e, atitude coerente e compatível com aquilo que as organizações e o macro-sistema social esperam dele.
Um agente competente desenvolve melhorias contínuas no desempenho profissional e na satisfação pessoal, o que segundo Covey (2001) é possível através do despertar dos 7 hábitos das pessoas altamente eficazes, que são:
- Seja proativo – nosso comportamento resulta de decisões tomadas e não de condições externas;
- Comece com o objetivo em mente – saber para onde está seguindo e dar os passos sempre na mesma direção;
- Primeiro o mais importante – organizar e executar conforme as prioridades;
- Pense em ganha-ganha – busca constantemente o benefício mútuo em todas as interações humanas;
- Procure primeiro compreender e depois ser compreendido – princípio mais importante no campo das relações interpessoais e a chave da comunicação eficaz;
- Crie sinergia – é a atividade mais dinâmica de toda a vida, o verdadeiro teste e a manifestação de todos os outros hábitos vistos em conjunto;
- Afine o instrumento – preserva e melhora seu bem mais precioso: você mesmo. Renova as quatro dimensões de sua natureza- física, espiritual, mental e social/emocional.
Conforme preconiza a abordagem dos Sistemas Adaptativos Complexos (SACs), apresentada por Axerold & Cohen (2000), enquanto agente numa organização, podemos ter a seguinte atuação:
- Estruturar as rotinas organizacionais para gerar um bom balanço entre exploração e descoberta.
- Fazer as ligações de processos que geram extrema variação, para efetuar a seleção com pequenos erros na atribuição de crédito.
- Construir redes de interação recíproca que promovam confiança e cooperação.
- Avaliar estratégias levando em conta as consequências da mesma se espalhar.
- Promover vizinhanças efetivas.
- Não semear grandes fracassos ceifando pequenas eficiências.
- Usar a atividade social para suportar o crescimento e espalhamento de critérios que tenham valor.
- Buscar pequenas medidas de sucesso de curto prazo, que possam se manter de forma útil, se você pensa em longo prazo e objetivos maiores.
Bibliografia
AXELROD, Robert and COHEN, Michael D. Harnessing Complexity: organizational implications of a scientific frontier. New York: The Free Press, 2000.
O’DONNELL, Ken. Raizes da transformação: a qualidade individual como base da qualidade total. Salvador, BA: Casa da Qualidade, 1994.
COVEY, Stephen R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. São Paulo, Ed. Bester Seller, 2001.