Assisti recentemente a uma apresentação sobre gestão de conhecimento. Não será certamente uma daquelas apresentações de que me irei lembrar no futuro, mas o orador colocou algumas questões que me fizeram pensar. Achei interessante partilhá-las aqui. Para além dos pontos referidos pelo orador, atrevi-me a acrescentar alguns comentários pessoais.
Geralmente diferentes projectos têm muitas semelhantes mas as pessoas estão mais preocupadas em encontrar as diferenças para poder defender o carácter único do seu projecto
No geral, as pessoas ficam mais entusiasmadas pela criação de coisas novas e diferentes. Para muitos, a ideia de desenhar um carro de raiz é mais interessante do que aperfeiçoar um carro já desenhado por outros. Para além disso, em muitas organizações, o mérito é dado a quem cria e não a quem aperfeiçoa. Consequentemente, as pessoas sentem-se tentadas a ignorar o que já foi feito e a começar de novo.
Isto conduz, muitas vezes, à duplicação de trabalho, à repetição de erros já cometidos no passado, ao gasto desnecessário de recursos (materiais e humanos), e, quando as coisas correm mal, a um decréscimo na moral das pessoas envolvidas.
Se, ao invés de se concentrarem nas diferenças, as pessoas e as organizações focassem nas semelhanças entre projectos, muitas destas situações poderiam ser evitadas.
Gestão do risco é gestão de conhecimento – tenta prever o futuro com base no conhecimento do passado
Eu diria que a gestão do risco requer adequados processos de gestão de conhecimento. Mas, se formos a ver, qual a actividade organizacional que os pode dispensar? Já pensaram o quão mais fácil seria para uma telefonista se existisse uma lista de pessoas e dos projectos sob a sua responsabilidade, para que pudesse rapidamente encaminhar as chamadas recebidas? E, quão melhor seria se o departamento de marketing tivesse melhor informação sobre tendências de mercado, estratégia de empresas concorrentes, necessidades de clientes, e o conjunto de projectos da sua própria organização?
Por cada desastre, é grande a probabilidade de terem havido vários “quase acidentes” no passado
Se fosse capaz de registar e aprender com esses “quase acidentes”, talvez conseguisse evitar os desastres.
Por exemplo, se alguém morre porque a ambulância demorou muito tempo a chegar, é preciso pensar “quantas pessoas escaparam por pouco?” Estamos a registar esses eventos? Estamos, colectivamente, a analisá-los, a tentar identificar as causas e a rever os processos para evitar situações semelhantes com piores consequências? Talvez sim, mas é sempre possível fazer melhor!
Um outro exemplo: quantas vezes fomos já chamados para trabalhar num novo projecto sem sabermos que um projecto semelhante havia já começado numa outra parte da organização? Às vezes apercebemo-nos disso antes de termos tido muito trabalho, mas outras vezes… Quanto tempo, esforço e dinheiro é despendido neste processo?
Coleccionar ou conectar? (Collect or Connect?)
Devemos coleccionar conhecimento e informação ou devemos ajudar as pessoas a estabelecerem contacto entre si? Ambos, penso eu. Seria interessante entender o comportamento predominante na organização, analisar as razões e o impacto.
Investir na captura do conhecimento no final de um projecto OU, no início do projecto, investir num processo que garanta a captura do conhecimento durante a vida do projecto
A opção mais fácil é a primeira. A mais eficaz é a segunda. Penso que são estas práticas que distinguem as organizações que sobrevivem das organizações bem sucedidas e que atingem um nível de excelência.
Gostei do seu pequeno artigo. Os pontos levantados são todos relevantes e apontam quase todos no mesmo sentido: a necessidade de se ter e de se desenvolver um “mind-set” socio-técnico para abordar seja o que for na GC.
Estive a ler o seu artigo, permita que lhe chame “desabafo”, face à sua falta de entusiasmo com a apresentação que assistiu, mas deu, para reflectir sobre a “criação de coisas novas e diferentes”. Tenho muitas dúvidas sobre a existência de coisas genuinamente novas, pois basta existir o conhecimento que adquirimos ao longo da nossa vida, em várias situações, para que qualquer coisa que “inovamos” esteja impregnada do conhecimento anteriormente obtido. O que fazemos é acrescentar algo que resulta do acumular de conhecimento.
Quando apareceram os primeiros aviões, foi uma novidade? Os pássaros sempre voaram.
Os cientistas, que a todos transmitem a ideia da criação, acumulam o seu conhecimento ao conhecimento de outros cientistas e divulgam algo acrescentado, que por falta de melhor palavra se possa chamar de “nova coisa”. Mas porque não chamamos a essa “nova coisa ” de… não sei.
Quem cria está a aperfeiçoar e não deve ignorar, nem o passado nem o presente, pois caso contrário está a perder tempo.
O acesso mais fácil ao conhecimento através de recentes tecnologias, permite acrescentar conhecimento ao conhecimento.
É assim que damos vida a um projecto.
Entendo como saudável a discussão de problemas que resultam da inversão de valores por parte do agente humano associado ao processo de Gestão do Conhecimento. Talvez uma comparação com o canto da sereia possa ajudar a compreender esta atitude… Mesmo que não seja saudável para uma organização, conceitos estanques de concorrência e competitividade interferem, sobremaneira, na capacidade de interação das unidades de negócio de uma empresa, fragilizando, de certo modo, a própria capacidade de intervenção no mercado. Conseguir reconhecer esta situação, e descrevê-la, pode vir a ser o diferencial de sucesso e/ou fracasso de um empreendimento.
Cumprimento a autora pelo texto.
Ana
Quanto mais dominas um campo, mais difícil será aparecer uma novidade estrondosa. De lá para cá deves ter assistido à inúmeras apresentações com esta característica. Mas podes estar certa que teu subconsciente busca nuancias e um significado maior, que vai emergir como que por encanto.
Sempre aprendemos algo, mesmo sem perceber.
Sem dúvida, Ferdinand. Tenho apenas pena de não poder assistir a mais eventos e de não falar com mais pessoas. Mas, por algum motivo criei o KMOL, certo? 😉
Ana
Não sabemos o que te motivou a criar o KMOL ( ótimo, por sinal).
Somos (nós os leitores) muito gratos às tais forças ocultas que te motivaram.
E neste processo ganhamos todos.
Ferdinand, nem a propósito, aqui fica o link para um post que adicionei hoje e onde pode ver o vídeo da minha apresentação no TEDxCoimbra 2010. Nele explico as minhas motivações para criar o KMOL. Espero que goste!
De cima para baixo ou de baixo para cima: abordagens e geografias