A abordagem da Gestão do Conhecimento nas organizações tem tido ênfase no compartilhamento de conhecimentos e formação de memória organizacional, principalmente visando captar, reter e disseminar o conhecimento tácito nas organizações. Mas não paramos por aí. Existem as outras correntes de pensamento, que visam trabalhar competências, com mais foco nas pessoas do que nos métodos de como fazer este tal compartilhamento acontecer. Além destes existem os grupos de pensamento que apostam na tecnologia de informação como suporte a Gestão do conhecimento entre outros. A idéia deste relato é explicitar algumas idéias com relação a, como anda a gestão do conhecimento e como essa abordagem tem evoluído.
Há anos atrás, muito pouco se lia e ouvia-se sobre a importância do conhecimento nas organizações. No início da década de 90, ouvia-se falar muito pouco de gestão do conhecimento e afins, afinal de contas, as empresas estavam terminando aquelas dores de downsizing, reengenharia, estavam voltadas para seus programas de qualidade total e isso tudo abalou muito as organizações. Na segunda metade da década citada, já começamos a ter mais referenciais sobre o tema gestão de conhecimento, capital intelectual, inteligência competitiva e em 1998 acho que tivemos um recorde de bibliografias sobre o tema conhecimento e a gestão do mesmo. A questão de tratamento das ativos intangíveis parece que começou a ser melhor discutida deste ponto para cá e hoje, nos parece, que se essa questão não está resolvida, está bem encaminhada.
Vimos em muitos artigos, livros e até reportagens, relatos de que esta questão de trabalhar o conhecimento, de gerar vantagem competitiva através do uso intensivo de conhecimento nos processos de negócio, nos processos produtivos já foi internalizada pelas organizações. Tento me convencer disto lendo alguns dados estatísticos e livros mais consolidados e, certas vezes, vou me convencendo de que isso realmente já foi internalizado, já foi aceito e entendido pelas organizações.
Vendo alguns dados de uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas com as 500 maiores empresas brasileiras, havia a identificação de que 81% dos executivos entrevistados acreditavam na importância da utilização da gestão do conhecimento dentro das corporações. Vendo alguns outros dados, visualizo que 15% das empresas dos entrevistados possuem sistemas de gestão do conhecimento implantados e outros 34% em processo de criação de seus sistemas. Vejo que a maioria, cerca de 80%, dos que desenvolveram projetos, o fizeram internamente, o que mostra que as empresas possuem massa crítica para isso. Metade do público entrevistado acredita que o maior ganho da gestão do conhecimento é a transferência de conhecimento para toda a empresa e a minoria, 15%, acredita que a gestão do conhecimento tem como maior objetivo a redução de tempo nas decisões.
São dados realmente contundentes e que tento comparar diariamente o que vejo nestas pesquisas com a realidade em empresas que conheço, em empresas que visito, em conversas informais, em prospeções e projetos que realizo. E isso tudo parece uma situação muito paradoxal. A gestão do conhecimento no discurso tem sido muito mais bonita do que a realizada nas empresas, embora tenhamos evoluído bastante neste tema nos últimos anos. Mas como estamos aqui para falar do panorama de gestão do conhecimento, então vamos ao que as empresas mais tem feito neste tema.
Gestão de competências
Tem sido esta uma fonte de preocupação em diversas organizações públicas e privadas, não por menos, mas por surgirem perguntas que gestores não conseguiam responder, por exemplo, “Você conhece o potencial de seus colaboradores?”, “Caso precise preencher uma vaga em sua empresa, poderá indicar um profissional interno com as competências necessárias?”, “Os programas de treinamento oferecidos aos seus colaboradores tem trazido resultados significativos e contribuído para tornar sua empresa mais competitiva?”.
O momento das empresas brasileiras vem exigindo cada vez mais a melhoria na capacidade de obter resultados através das pessoas. Investimentos em tecnologias de última geração ou inovação nas metodologias de trabalho, ou melhoria nos processos podem ser realizadas por toda e qualquer empresa, mas já a preparação das pessoas – que são as que fazem a organização andar – não estiverem sendo capacitadas, não adiantará muito esforço. Montar um “Banco de Talentos Internos”, através da identificação de potenciais tem sido um belíssimo exemplo de como começar a realizar gestão do conhecimento: Conhecendo o que o colaborador conhece! Empresas como Eletrobrás, Ericsson, Siemens realizam atividades similares há bastante tempo.
Memória Organizacional
Mesmo nos dias atuais, com toda a abordagem de gestão do conhecimento à disposição, o que vimos é a indisponibilidade de informações e dados, isolamento entre unidades de negócios, ineficiência na comunicação organizacional, desperdício de práticas e experiências e não-compartilhamento e falta de registro de informações. Segundo pesquisa da consultoria PriceWaterhouse Coopers, 60% do tempo dos executivos é gasto na recuperação de informações já processadas e disponíveis em algum ponto da empresa. Empresas como Natura cosméticos, O Globo, Sebrae entre outras já experimentam destas iniciativas para não sofrerem o que sofreram as empresas participantes de pesquisa realizada pela Korn Ferry International, onde 90% das informações e conhecimentos não são compartilhadas internamente. Isso significa, que as empresas não possuem memória organizacional, em recente entrevista que concedi, mencionei que “A empresa que possui um banco de dados com informações sobre os processos adotados durante todo o período de gerenciamento de um projeto, por exemplo, evita retrabalho, repetição de erros e desenvolvimento de projetos simultâneos”, e o que quero dizer: uma memória organizacional, se bem planejada, pode trazer vantagens reais a empresa, como reutilização de soluções, armazenamento de histórico de projetos anteriores, bancos de problemas e soluções, perguntas e respostas, bibliotecas virtuais, materiais didáticos entre outras.
Inteligência Empresarial
Possuir bancos de dados e bases informativas, as empresas já possuem, e se procurarmos bem, existem dados e informações por todos os locais das empresas. Talvez o passo seguinte ainda necessita ser dado. As organizações precisam fazer bom uso das informações para gerar algum tipo de vantagem à empresa para a qual trabalha. Neste sentido, é necessário existir um ciclo onde a empresa:
- Defina as suas necessidades de informação
- Defina as fontes de informação
- Estabeleça um processo de coleta de informações
- Estabeleça um processo de análise e contextualização das mesmas e
- Realizar um processo contínuo de disseminação de informações
Pode não adiantar muito também parar neste estágio. É necessário que haja (re)utilização das informações para gerar alguma vantagem real. Por exemplo, “meu concorrente direto acaba de iniciar um programa de relacionamento com clientes, o que devo fazer?” ou “a tecnologia que utilizamos em nossa operadora de telecom está obsoleta e nosso concorrente acaba de adotar um padrão bem mais moderno…” ou até mesmo “vou ganhar um novo concorrente este ano”. Saiba que tudo isto pode acontecer, com uso de inteligência empresarial ou não, mas se a sua empresa possui processos estabelecidos para que consiga “conhecer” estes fatores antes de ser pega de surpresa, as coisas ficam melhores.
Comunidades de prática
Talvez o advento da web tenha sido o grande impulsionador e viabilizador do crescimento acelerado que vem tendo as comunidades de prática. É claro que podemos ter comunidades de prática sem “um pingo” de tecnologia, mas seria complicado. Para empresas multi-site, tem sido a web e as comunidades de prática grandes impulsionadores e mecanismos para que o compartilhamento de conhecimento aconteça nas organizações.
Mapeamento de Processos
Existem alguns passos para “preparar” uma empresa a receber iniciativas e estratégias de gestão do conhecimento, mas talvez o mapeamento dos processos seja o alicerce para todo e qualquer trabalho de gestão do conhecimento. Uma empresa precisa conhecer como ela mesmo funciona. A organização precisa ter bem mapeado como são realizadas suas operações, seus negócios, suas atividades e a tarefa de mapeamento de processos consiste nisto.
Diversas outras iniciativas vem sendo implantadas em empresas no Brasil de maneira crescente, o que aponta um crescimento representativo da utilização e aperfeiçoamento de conceitos de gestão do conhecimento. Os portais corporativos, por exemplo, tem sido amplamente utilizados. Mesmo que muitos websites corporativos estejam sendo chamados indevidamente de portais corporativos, isso significa que estas empresas já estão caminhando neste sentido.
As iniciativas de CRM, gestão de relacionamento com clientes, foram em 2003 o maior alvo de investimentos, segundo pesquisa realizada pela IBM Consulting Services nas áreas de TI das empresas. Se olharmos sob o prisma de que o cliente é uma das pontas da qual a organização deve reter e utilizar conhecimento, este é um bom indicativo.
Outra iniciativas como GED – Gestão Eletrônica de Documentos, E-Learning, Mudança Organizacional, Intranets e aprendizagem organizacional também tem tido bastante crescimento de utilização.
Tendo em vista todo este panorama no Brasil, que, apesar de interessante é preciso passar por boas melhorarias, alguns acadêmicos norte-americanos e algumas instituições apontam em estudos um chamado segundo ciclo da gestão do conhecimento.
Gostaria muito de entrar em contato com o autor do texto “Panorama da Gestão do Conhecimento no Brasil”, Sr. Eduardo J L Lima. Interessou-me pelo fato de poder fazer uma analogia com estudos realizados sobre as escolas de Reggio -Emilia , na Itáia.