A estratégia de Lisboa define, de forma clara, um objectivo muito ambicioso para a Europa que é o de ser a economia mundial mais desenvolvida, competitiva, dinâmica e baseada no conhecimento até 2010. Esta estratégia baseia-se no princípio de que a competitividade de uma economia é função da intensidade do conhecimento existente nessa sociedade e que, por seu lado, esta depende da competitividade do seu sistema de ensino, ciência e tecnologia.
Cada um dos países da União Europeia tem de contribuir individualmente para este objectivo e tornar cada vez mais competitivo o seu sistema nacional de ciência e tecnologia pelo que o papel das universidades é decisivo para que os objectivos acima enunciados sejam conseguidos.
Em Portugal o esforço tem de ser bem maior e torna-se urgente mobilizar o sistema de ensino, ciência e tecnologia para o cumprimento dos objectivos da estratégia de Lisboa. Os últimos vinte anos proporcionaram um rápido crescimento do sistema nacional de ensino, ciência e tecnologia, tendo chegado o momento de proceder a importantes mudanças neste sistema para o tornar mais competitivo, dinâmico e, em particular, há a urgente necessidade de o articular com as organizações e as empresas responsáveis pela criação de riqueza em Portugal.
A necessidade de proporcionar um grau académico de ensino superior a grandes camadas da população portuguesa conduziu a uma rápida expansão da rede de instituições universitárias e politécnicas públicas e privadas espalhadas por todo o território mas esta pressão deixou pouco espaço para uma maior articulação do sistema de ensino, ciência e tecnologia com a actividade produtiva e criadora de riqueza na nossa economia.
Praticamente este sistema limitou-se a responder ao crescimento sem atender à empregabilidade dos seus alunos e sem prever uma formação que os capacitasse para enfrentar os novos desafios da Sociedade de Informação e do Conhecimento que requer características como a criatividade, o espírito empreendedor e inovador, ou conhecimentos cada vez mais importantes como a liderança, a motivação, a capacidade de trabalhar em equipa e de se inserir em ambientes com culturas muito diversificadas.
Estas características aliam-se à necessidade de ter conhecimentos e práticas rotinadas de experimentação e de investigação, conhecimentos de gestão de tarefas e de projectos e uma capacidade de rápida adaptação a situações prolongadas de stress ocasionadas pela intensidade do trabalho que tem de ser finalizado com prazos cada vez mais curtos.
Características como a flexibilidade, a diversificação, a diferenciação, a globalização, a internacionalização e integração, são hoje definitivamente conceitos que têm de estar endogeneizados na aprendizagem de cada um de nós logo à partida para conquistar um emprego e contribuir de modo individual para tornar a economia mais competitiva e com um maior valor acrescentado.
Estas características adquirem-se na formação académica e científica durante a frequência das instituições de ensino universitário pelo que hoje a Universidade tem de rever a sua missão para que seja possível uma melhor e maior articulação com o tecido produtivo e com os objectivos estabelecidos pela estratégia de Lisboa. O investimento em capital humano, a aprendizagem ao longo da vida e o combate à ileteracia são hoje responsabilidades novas do sistema de ensino, ciência e tecnologia, bem como as competências chave para a Sociedade de Informação e do Conhecimento.
Também decorre deste comprometimento da estratégia de Lisboa, a obrigação de aumentar o investimento em investigação e desenvolvimento para 3% do PIB até 2010, em que a componente pública deverá ser da ordem do 1% enquanto o investimento em I&D privado deverá atingir os dois por cento do PIB.
Nesta vertente, a universidade tem de ser capaz de abrir as suas portas às empresas e às organizações públicas e privadas com e sem fins lucrativos para que o conhecimento possa ser a chave da mudança e da inovação com o objectivo de criar novos produtos e serviços que lhes permitam aumentar a sua competitividade e de aumentar a sua criação de riqueza.
A criação de núcleos de investigação e desenvolvimento nas empresas deverá tornar-se numa tarefa prioritária para a universidade portuguesa. Não só contribuirá para a criação de mercado de investigação, desenvolvimento e inovação, mas também a criação de emprego muito qualificado nas empresas, contribuindo decisivamente para o objectivo de aumentar significativamente a intensidade de I+D+I de origem privada.
O crescimento e o desenvolvimento sustentável passa pela promoção de uma cultura de empreendedorismo, designadamente junto dos jovens, estimulando-os a criar empresas de base tecnológica, da adaptação de cursos de formação para gestores e quadros de PMEs, pela oferta no local do trabalho de sistemas de ensino e formação em gestão e consultoria, de conhecimentos e disseminação de conhecimentos sobre tecnologias dirigidas às PMEs para que estas empresas possam identificar, seleccionar, adaptar e utilizar as novas tecnologias de informação e produção com o objectivo de aumentar a competitividade das empresas e garantir a empregabilidade dos colaboradores da empresa.
A Universidade portuguesa tem em todos estes desafios um papel da máxima relevância pois é nela que se encontra a maior reserva de conhecimento científico e que se torna fundamental para que seja possível a sua articulação com as empresas e as entidades responsáveis pelas políticas públicas para que Portugal consiga cumprir os objectivos da estratégia de Lisboa. Este é também um excelente desafio que o país poderá e deverá vencer.