Durante gerações, a Procter & Gamble (P&G) conseguiu grande parte do seu crescimento fenomenal através de inovação interna. Contractaram os melhores talentos e construiram enormes instalações para investigação. E durante muito tempo, essa estratégia funcionou muito bem. Mas em 2000, o recém-nomeado CEO A. G. Lafley dispensou a velha filosofia “inventarmos nós mesmos” e criou uma abordagem de “ligar e desenvolver” – que usa o mundo como uma gigantesca fábrica de ideias.
Hoje em dia a empresa procura em todo o lado novas tecnologias, embalagens e produtos que possa melhorar, aumentar e vender. A empresa colabora agora, em grande escala e desafiando as barreiras geográficas, com fornecedores, concorrentes, cientistas e empreendedores. Na verdade, a produtividade da investigação e desenvolvimento (I&D) na Procter & Gamble aumentou quase 60%. Nos últimos dois anos, a P&G lançou mais de cem novos produtos com elementos desenvolvidos fora da empresa.
A Procter & Gamble não é a única empresa a olhar para fora. De acordo com o Global CEO Study 2006 da IBM, os líderes cada vez mais procuram ideias inovadoras fora das suas empresas. Apesar de os CEOs, nesse estudo, classificarem os empregados (especialmente nos departamentos de vendas e marketing) como a maior fonte de novas ideias, também sublinham a extrema importância da inovação em colaboração com clientes e parceiros.
O estudo também salienta a relação entre colaboração externa e desempenho financeiro. As empresas com melhor desempenho recorrem 30% mais a fontes externas do que as restantes. Referindo-se a este tipo de colaboração, um CEO disse “Precisamos de terceiros como ponto de referência e parceiros de corrida. Isto também ajuda os nossos empregados a alargar as suas perspectivas.” Um outro disse apenas, “Se pensa que internamente temos todas as respostas, está errado.”
Em oposição à velha doutrina, onde inovação era considerada demasiado crítica e proprietária para se envolverem pessoas externas, as grandes alianças estratégicas tornam-se rapidamente a nova vantagem competitiva. Nas palavras de um cliente meu “Os nossos concorrentes podem recrutar colaboradores nossos e duplicar os nossos processos – mas a complexa rede de relacionamentos que temos com empregados, clientes, parceiros globais, corpos reguladores, e fornecedores é só nossa. Não pode ser copiada. Cada organização tem de começar a sua de raíz.”
Mas mesmo os CEOs do estudo da IBM consideram a parceria colaborativa teoricamente fácil e difícil na prática. Isto significa que, apesar do valor que atribuem à colaboração, muitos líderes ainda não a operacionalizaram. Alguns dos obstáculos à colaboração são externos – incluindo obstáculos governamentais e restrições legais. Mas as maiores barreiras estão relacionadas com os empregados da empresa, o fraco investimento, e (acima de tudo) culturas corporativas desfavoráveis.
Se a sua organização busca formas de colaborar para inovar, aqui ficam algumas ideias de como começar:
Traga o cliente. Apesar dos benefícios já demonstrados de trabalhar com o cliente para aumentar as vendas, aumentar inovação de produtos, e melhorar a relação entre oferta e procura, um estudo recente da Deloitte revelou que apenas 3% a 8% dos inquiridos envolvem os seus clientes desta forma. Se a sua empresa não está ainda a colaborar com clientes para o desenvolvimento de produtos / serviços inovadores, este deve ser o ponto de partida.
A LEGO Factory já tem alguns anitos, mas permanece um exemplo de como aproveitar a criatividade dos seus clientes. As crianças e outros construtores entusiastas são convidados, quando visitam o site, a desenhar modelos (usando aplicações de software grátis e fáceis de usar) e a participar em competições para ganhar prémios LEGO. O ano passado, o prémio de um concurso bastante popular era a produção do modelo vencedor e a sua venda através do Shop@Home, com 5% do preço de venda dado ao seu autor.
Inclua os fornecedores na solução. Na Chrysler, uma parte do SCORE (Supplier Cost-Reduction Effort) é a responsabilidade partilhada por ideias inovadoras que consigam peças mais baratas. O objetivo de cada fornecedor é identificar oportunidades de redução de custo que equivalham a 5% da sua factura anual à Chrysler. O programa de colaboração gerou mais de 100 ideias por semana e poupanças estimadas em $2.5 biliões.
Faça parcerias com os concorrentes. A colaboração entre empresas concorrentes é a mais difícil e delicada forma de parceria. Mas os arqui-rivais Procter & Gamble e Clorox conseguiram-na. As duas empresas competem nas categorias de produtos de limpeza e purificação de água, e no entanto ambas lucraram quando o Press’nSeal, um novo revestimento plástico baseado numa inovadora tecnologia da P&G, foi comercializado sob a estabelecida marca Glad da Clorox. E a colaboração continua com o recente lançamento dos sacos do lixo Glad ForceFlex, que são feitos com um plástico forte mas elástico desenvolvido pela P&G.
Escolha as pessoas certas. Os melhores projectos de colaboração são muitas vezes aqueles em que os membros da equipa conseguem largar as suas opiniões e ideias, e adoptar um estilo mais aberto de trabalho. Porque a colaboração se constrói em alicerces de boas relações de trabalho e confiança entre as pessoas, as qualidades pessoais (bons comunicadores, bons construtores de relações, flexíveis, competências culturais e políticas, confiança sem arrogância) são muitas vezes mais importantes do que experiência numa determinada área. Os peritos podem ser convidados como recurso para o processo, enquanto que as competências inter-pessoais são o que mantem a aliança colaborativa.
Com as constantes pressões sobre recursos e as expectativas sempre crescentes dos accionistas, fazer tudo sozinho já não é a opção mais viável para uma organização. E, na realidade, todas as organizações existem dentro do seu único ecossistema de redes organizacionais. A inovação colaborativa é apenas uma forma de expandir e capitalizar essas redes de forma a criar uma vantagem competitiva.