O pensamento tácito e os seus inimigos

Em Knowledge Management, especialmente quem conhece  o livro The Knowledge Creating Company, de Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi, foi apresentado ao conceito de conhecimento tácito. Primeiramente definido por Polanyi (1976), o tácito é todo e qualquer conhecimento não traduzível por linguagem, ou seja, todo o nosso campo intuitivo.

Este conceito é, na minha opinião, muito reducionista, pois no intuitivo da mente humana existe todo um universo.

Merlin Donald
Foto de: Anders Gade

Descobri uma classificação interessante feita pelo Prof. Merlin Donald, onde ele propõe uma teoria do desenvolvimento da mente, a partir de nossos primos símios. Donald elenca quatro estágios de desenvolvimento mental, com três transições importantes.

O primeiro estágio, “Episodic Thinking”, é onde se encontram os “Great Apes” de hoje. Eles vivem exclusivamente no presente e seu pensamento apresenta respostas de curto prazo, com memórias de conteúdo específico e contexto específico. Teríamos sido assim há mais de 400 mil anos. Na primeira transição as mentes individuais deixaram de ser isoladas.

O segundo estágio, “Mimetic Thinking”, é bastante diferente do anterior. Ainda desprovido de linguagem, o desenvolvimento da cultura é bastante lento e apoiado na mimética. A mímica, a imitação intencional, a expressão facial e a reprodução de sons e gestos permitiram desenvolver intencionalidade, criatividade, referência, coordenação e, sobretudo, pedagogia. Estima-se que isso ocorreu com nossos antepassados num período de aproximadamente 400 mil a 50 mil anos atrás. Na segunda transição emerge a linguagem.

O terceiro estágio, “Mythic Thinking”, é onde se encontram as tribos de catadores-caçadores de hoje. Vivem em um mundo próprio, dominado pelo pensamento mítico. Aconteceu num passado estimado em 60 mil a 40 mil anos. Na terceira transição emerge o raciocínio abstrato.

O quarto estágio, “Theoretic Thinking and Culture”, onde nos encontramos hoje, começou há cerca de 25 mil anos e evoluiu até a fase chamada de “Demythologizing”, acontecida na Grécia Clássica.

Como em todos os outros sistemas, incorporamos e adaptamos tudo do modelo anterior:

  • Vivemos no presente – Episodic Thinking
  • Somos bons de mímica e cópia – Mimetic Thinking
  • Temos dificuldade no modo racional, vivemos muito no emocional (intuitivo) – Theoretic Thinking and Culture

Nossa percepção é bastante limitada, pois vivemos em nichos cognitivos (não escapamos facilmente dos modelos mentais), e não conduzimos nosso pensamento. Temos apenas poder de veto.

Assim, fica claro porque o nosso intuitivo (tácito) é tão poderoso. Foi sobre ele que foram construídos a linguagem e o raciocínio abstrato, aquisições muito recentes dentro de nossa evolução.

1 comment

Leave a reply