Dos Dados ao Conhecimento e depois à Inovação

Recentemente sentei-me para representar a relação entre dados, conhecimento e inovação. Esta reflexão veio no contexto de um projeto em que estou a esboçar um ecossistema de inovação.

Comecei por pegar na conhecida pirâmide DIKW. Esta pirâmide, cujas origens são incertas, ilustra a relação entre dados (D), informação (I), conhecimento (K, do inglês “knowledge“) e sabedoria (W, do inglês “wisdom“). Contudo, nem gosto da palavra “sabedoria” nem a vejo como um equivalente a inovação.

Pirâmide DIKW

Pirâmide DIKW
Imagem de Longlivetheux, Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International license

De seguida revisitei o trabalho de Harold Jarche. A relevância e riqueza da sua Seek-Sense-Share Framework surpreendeu-me mais uma vez. Gosto da forma como considera o esforço ativo necessário para conseguir inputs, o sensemaking no centro de tudo, e a importância de partilhar o conhecimento criado.

Seek-Sense-Share de Harold Jarche
Framework Seek-Sense-Share de Harold Jarche

Apesar disso, eu queria mesmo uma imagem que relacionasse a inovação com os dados e o conhecimento.

Inspirada pelo trabalho do Harold Jarche, desenhei um modelo que, tal como os anteriores, pode ser aplicado no contexto pessoal, de uma equipa, de uma comunidade ou de uma organização.

Modelo que representa a relação de dados, informação e inovação
Modelo que criei para representar a relação entre os dados, o conhecimento e a inovação,
e que refere também a informação, as ideias e as ações

Neste texto foco-me na aplicação do modelo no contexto organizacional.

Quer queira ou não, uma organização está constantemente a produzir e a receber dados de fontes internas e externas. Por sua vez, pode ir buscar informação ou produzi-la através da análise dos dados.

Os dados e a informação são fundamentais. As organizações devem estar conscientes dos dados e informação que têm e de que precisam.

Devem depois:

  • identificar e caracterizar as fontes existentes – por exemplo, se são de confiança, quais os custos associados, o risco e impacto de se ficar sem elas;
  • entender quem utiliza os dados e informação disponíveis e que outras partes da organização também poderiam beneficiar deles;
  • avaliar o impacto de não ter os dados e a informação necessários;
  • identificar formas de conseguir os dados e a informação necessários mas em falta.

Com base neste trabalho, a organização pode depois ir em busca do que falta, gerir o que existe, e explorar os dados e a informação disponíveis para seu benefício (mais eficiência, ganhar mercado, etc.).

O modelo ilustra outros aspetos da relação dados-conhecimento-inovação:

  • fazer sentido dos dados e da informação (making sense) gera aprendizagem e, consequentemente, a criação de conhecimento;
  • as novas ideias emergem do conhecimento, especialmente do conhecimento que se encontra na interceção de vários domínios;
  • as novas ideias são avaliadas e implementadas de acordo com o conhecimento, os dados e a informação existentes;
  • a inovação é a aplicação de novas ideias e, por isso, uma das formas de aplicação de conhecimento;
  • o produto da inovação é simultaneamente uma forma de partilhar conhecimento e uma nova fonte de dados e informação que devem reverter para a organização;
  • o conhecimento pode ser usado para criar actionable insights que depois conduzem à ação;
  • partilhar e aplicar conhecimento, quer seja através de ações ou inovação, cria valor para a organização e para os seus stakeholders.

Este modelo pretende representar a relação entre dados, conhecimento e inovação, de forma a mostrar o fluxo sem o complicar em demasia.

Será que o modelo cumpre a sua promessa? Adorava ler os vossos comentários – e, já agora, as vossas sugestões para o nome do modelo e para a tradução dos termos “seek“, “retrieve” e “sense“.

Nota: Este texto é uma tradução de um texto de Ana Neves originalmente publicado no Linkedin a 17 junho 2020.

6 comments

  1. Victor Couto Alves 16 Julho, 2020 at 22:34 Responder

    Olá Ana, parabéns pelos seus textos. Tenho acompanhado a algum tempo e são sempre muito didáticos! Também tenho estudado, acompanhado e escrito sobre Gestão do Conhecimento Pessoal, especialmente a metodologia do Harold Jarche desde o início do ano passado! Criei inclusive um blog no medium para organizar meus pensamentos e disseminar essa metodologia: https://medium.com/gest%C3%A3o-do-conhecimento-pessoal

    Respondendo à sua pergunta, minha interpretação e tradução de SEEK, SENSE e SHARE para português é essa abaixo:

    SEEK = como buscamos, filtramos e consequentemente, entendemos o mundo à nossa volta
    SENSE = como damos sentido e criamos valor com o que filtramos
    SHARE = como contribuímos e compartilhamos para a sociedade essa criação de valor

    Faz sentido pra você também?

    • Ana Neves 24 Agosto, 2020 at 10:19 Responder

      Obrigada pelo comentário e pela partilha, Victor.
      O que sugere, faz-me sentido mas a minha pergunta ia no sentido de encontrar palavras em português para traduzir os conceitos de “seek”, “retrieve” e “sense”. Isto é, qual a palavra em português que poderia ser usada para comunicar a ideia de “seek”? E “retrieve”? E “sense”?

  2. Victor Couto Alves 24 Agosto, 2020 at 13:06 Responder

    Ana, obrigado! Na linha do que comentei, eu costumo dar a seguinte tradução:

    SEEK = Buscar / Filtrar
    SENSE = Dar sentido / Criar valor
    SHARE = Compartilhar / Contribuir

    Coloquei 2 definições pois dependendo do contexto pode ser um ou outro.

    A propósito, você tem conhecimento de grupos/comunidades em português pra se discutir sobre Personal Knowledge Management? Eu já estou na comunidade do Harold (Perpetual Beta Coffee Club) e do Tiago Fortes (Building a Second Brain), porém é sempre bom trazer isso pra lingua portuguesa também.

    Espero que tenha sido útil!

  3. Ana Neves 4 Setembro, 2020 at 14:56 Responder

    Obrigada pelas sugestões, Victor. Sinto que as palavras em português (especialmente quando tentamos resumir a apenas uma palavra) não comunicam o sentido original. Tal como há palavras em português que não têm uma tradução boa para o inglês, também acontece o inverso. Mas, continuaremos a pensar nisto 😉

    Não me ocorre nenhuma comunidade em português sobre PKM, Victor. Quem sabe dá para você iniciar uma, provocando os participantes lusófonos que estejam nesses grupos ou noutros grupos lusófonos que possam estar a olhar áreas relacionadas…

  4. Victor Couto Alves 4 Setembro, 2020 at 21:14 Responder

    Muito obrigado Ana! Essa semana apresentei um painel que coordenei sobre Gestão do Conhecimento Pessoal no Congresso Brasileiro de Gestão do Conhecimento, KM Brasil 2020. Isso mostra que o interesse sobre esse assunto tem crescido, especialmente na comunidade de Gestão do Conhecimento no Brasil. Os convites para participar de lives e webinars sobre o tema mostra isso também. Podem acessar nesse link: https://wakelet.com/wake/9wl7wlPjlpsLM5z8b9byP

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