Hábitos de Leitura em Portugal

Há algum tempo atrás, alguém resolveu pedir a minha opinião sobre se os hábitos de leitura em Portugal se podem perder com a crescente importância e adopção dos meios audio-visuais. Resolvi partilhar aqui a minha resposta:

O hábito de leitura em Portugal não existe porque os livros são caros e pouco acessíveis. Em Inglaterra onde resido, por exemplo, bem perto de onde vivo, existem 5 bibliotecas públicas onde posso requisitar livros gratuitamente por períodos renováveis de 3 semanas. Além disso, é muito fácil comprar livros em segunda mão (até nas próprias bibliotecas). Isto encoraja a leitura. Há ainda programas de rádio que apresentam pessoas conhecidas (geralmente actores) a ler excertos de livros. Por exemplo, esta poderia ser a semana do livro X e durante todos os dias da semana, às 21.00, o actor Y lia um capítulo. Mais uma vez, isto não retira a vontade de ler o livro, faz com que as pessoas o vão comprar / requisitar. Mais ainda em todas as bibliotecas encontram-se livros em várias línguas, em letras grandes para pessoas com fraca visão, e audio-livros para invisuais ou pessoas que prefiram ouvir os livros enquanto conduzem. E isto vê-se em todas as bibliotecas e livrarias. Todas! Em Portugal, nalgumas bibliotecas é necessário pagar um depósito inicial e depois só se podem requisitar os livros por períodos muito curtos, e a oferta é pequena, e não se pode falar nas bibliotecas, etc.. Ah, em Inglaterra, as bibliotecas funcionam também como locais de informação ao cidadão. Pode encontrar-se informação sobre farmácias, médicos, impostos, compra de casa, emprego, etc.. Isto também serve como um atractivo para que as pessoas as visitem. Ah, e estão abertas até às 8 da noite.

E, sobre se, com a chegada dos livros em edição electrónica, as pessoas vão começar a ler mais, eis o que penso:

Talvez mas não necessariamente. A leitura é um hábito como outro qualquer: cria-se. E cria-se mais facilmente quando se é mais novo. E cria-se mais facilmente quando o contexto envolvente o propicia. Era preciso haver algo mais forte do que a disponibilidade das versões electrónicas para que Portugal se transformasse num país de leitores.

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