Um dos brinquedos favoritos do meu filho é uma mesa de actividades. Vários botões permitem-lhe ouvir diferentes ritmos musicais, o som de algumas letras do alfabeto, etc.. Para além dos botões coloridos, há também um auscultador em plástico e com algumas bolinhas dentro de forma a que possa ser usado como roca. Ora, é exactamente do auscultador que ele gosta mais: passa longos períodos batendo com ele no chão e nas paredes.
Outro dia pensava para comigo, quando será que ele se vai aperceber de que é igual ao que os adultos usam e nos vai imitar com o seu auscultador de plástico? Foi aí que me apercebi que dificilmente isso vai acontecer. A verdade é que o meu filho nunca viu um objecto com aquele formato. O nosso telefone é um daqueles portáteis e, para além disso, a maioria das vezes que falamos ao telefone usamos um headset ligado ao computador.
Parece que alguns brinquedos já estão desactualizados. De que adianta colocar um objecto (como um auscultador) num brinquedo se a criança não o vai reconhecer? Mais valia colocar uma bola, ou uma qualquer forma geométrica. As brincadeiras que os construtores e os designers do brinquedo esperavam que o brinquedo provocasse dificilmente se irão concretizar pois o meu filho não sabe o que objecto pretende imitar.
A tecnologia parece evoluir tão rapidamente que as pessoas e as empresas têm dificuldade em acompanhar: ficam agarradas aos modelos mentais que têm e perdem oportunidades.
No caso do brinquedo do meu filho, a oportunidade perdida é a de que ele use o auscultador não só como uma roca mas também para imaginar conversas telefónicas de “faz-de-conta”. E no caso da sua empresa? Quantas oportunidades está a sua organização a perder por não se preocupar em acompanhar a evolução? Será que a sua organização continua a recorrer ao telefone ou ao papel como suporte de processos que poderiam, hoje em dia, ser mais eficientes se recorressem ao email? Ou, será que a sua organização continua a recompensar os seus colaboradores pelo seu desempenho individual, perdendo os benefícios do trabalho em equipa?
É importante que as organizações mantenham os olhos bem abertos para o exterior, identificando tendências e novas realidades. Mas, isso de nada serve, se a organização não for igualmente capaz de manter os olhos bem atentos para o que se passa no seu interior, de questionar práticas e processos existentes, e de ter coragem para os adaptar devidamente.
Os modelos mentais são como as palas que os cavalos usam para que não se distraiam com o que os rodeia e para que sigam sempre a direito. Algumas organizações parecem usar dessas palas, por conforto, segurança ou ignorância. A sua competitividade depende da sua capacidade de tirar as palas, olhar em volta e corrigir o seu caminho de acordo com o que as rodeia.
Ana
Uma das mais divertidas coisas que chamam atenção em teus posts é a diferença entre o português de Portugal e o do Brasil.
Não sei ainda o que é roca ( seria o nosso chocalho?), mas vou ao dicionário depois.
Palas, com certeza são as “viseiras”.
Com certeza as usamos muito mais do que percebemos.
E percepção ( diferenças de percepção)é um dos componentes cruciais do nomeado “problema de comunicação ” nas organizações.
Este post mereçe ser expandido, devido sua importância para a KM.