Devido ao trabalho que desenvolvo com o KMOL, tenho tido oportunidade de ler bastantes livros nas áreas da gestão de conhecimento, gestão de informação, aprendizagem organizacional, comunidades de prática.
Uma coisa que sempre me fascinou é a diferença que existe entre o tipo de conteúdo dos livros portugueses e dos livros estrangeiros.
Muitos dos livros estrangeiros que leio (brasileiros incluídos) apresentam casos práticos, descrevem modelos práticos de actuação, baseiam-se na experiência prática dos autores, etc.. Os livros portugueses que tenho lido, por seu lado, são exposições teóricas, são apanhados da literatura, são análises críticas à teoria existente.
Os livros estrangeiros são escritos por académicos que fizeram os seus trabalhos de investigação junto de empresas reais, por consultores que quiseram falar da sua experiência (por motivos altruístas ou não), por pessoas que experimentaram na pele o que é “fazer coisas” nas suas organizações. Os livros portugueses são escritos por académicos que decidem publicar as suas investigações, ou por pessoas que decidem publicar o produto final das suas teses de mestrado ou doutoramento.
Eu entendo porque razão o teor dos livros portugueses é o que é dado o perfil de quem os escreve. O que não consigo entender é porque razão não há mais autores a escrever sobre a sua experiência.
Dinheiro? É certo que, enquanto no estrangeiro alguns autores ainda conseguirão fazer algum dinheiro com a venda dos seus livros, tal não acontecerá em Portugal.
Falta de experiência? Apesar de não haver ainda muita experiência em Portugal na área da gestão de conhecimento, há muita experiência na área de gestão de informação e esta também não é partilhada.
Falta de motivação? Penso que também não seja essa a razão principal já que muita gente ainda crê na ideia de que uma vida será bem vivida depois de se plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
Assim, a minha lista de hipóteses deixa-me com dois motivos: falta de vontade de partilhar e falta de tempo.
Acredito que haja muitas pessoas em Portugal que têm óptimas experiências para contar. Algumas terão sido boas experiências, outras terão sido lições valiosas de “como não fazer”. Quem vai querer contar sobre quando as coisas correram mal? Ninguém, nem mesmo os autores estrangeiros o fazem (a não ser quando podem também falar de muitas outras bem sucedidas).
E sobre as experiências positivas. Bem, nesse caso, acho que ficamos a olhar para a outra possibilidade: falta de tempo. As pessoas andam tão ocupadas, tão cheias de trabalho e pressão para fazer mais e mais rápido nas organizações onde trabalham que não lhes sobra tempo para escrever sobre o que fizeram. Estivessem algumas das outras motivações disponíveis (dinheiro, reconhecimento, progressão na carreira) e talvez as coisas fossem diferentes. Mas assim…
Finalmente há que referir que, caso houvessem mais oportunidades de desenvolver trabalhos práticos de doutoramento e mestrado em organizações reais, pelo menos os livros resultantes poderiam ter um cariz mais prático. Infelizmente, as oportunidades não são muitas: a integração empresa – academia ainda não está totalmente conseguida e os alunos vão-se ficando por trabalho de laboratório.
Confesso que tenho imensa pena pois adorava ler mais sobre casos reais, experiências vividas, por portugueses em organizações portuguesas.
O que seria preciso para que as coisas mudassem? O que pode cada um de nós fazer para que as coisas mudem?
PS – Tenho a certeza de que há excepções a esta generalização que fiz. Se tiver conhecimento de alguma, por favor deixe um comentário.