SHiFT 08: Primeiro e Segundo Dias

Estive em Lisboa, nos dias 15, 16 e 17 de Outubro a assistir ao SHiFT 2008. Na continuação do espírito de partilha tão presente no evento, não poderia deixar de registar aqui algumas das minhas observações e impressões esperando que, com isso, outros possam beneficiar um pouquinho.

A SHiFT, que arrancou em 2006, teve este ano a sua segunda edição. É reflexo do entusiasmo, da competência e do espírito que envolve uma comunidade que não tem nome, não é homogénea, e cujo único factor comum entre os seus membros é, provavelmente, o facto de estarem “ligados”. Ligados à Internet, parte de numa rede social bastante compacta, fortes elos de “uma web 2.0”.

O primeiro dia do evento foi de workshops. Assisti a um sobre o CMS Joomla, workshop esse facilitado pelo Márcio Marques.

Não sei se foi pelo apresentador (que, segundo ele, nunca tinha feito uma sessão deste tipo fora de empresas), ou pelas dúvidas e questões colocadas que iam desviando o fluxo da conversa, ou pela estrutura pensada. O que é certo é que o workshop soube a pouco.

Mais do que ir de menu em menu, descrevendo cada uma das opções de configuração, teria sido bastante mais interessante começar com uma instalação de raíz (que fizemos) e seguir os passos necessários para reproduzir uma arquitectura de informação e um design básicos propostos à cabeça.

Ou isto, ou utilizar a sessão para falar da forma como o Joomla está a ser usado em situações reais e desventrar um desses casos: quais os objectivos, quais os passos seguidos, quais os obstáculos enfrentados, etc..

A ideia com que fiquei no final da sessão, para a qual fui sem saber quase nada sobre o Joomla, foi a de que é bastante flexível e fácil de usar em algumas coisas (por exemplo, na criação de menus e módulos na página) mas rígido e complexo noutras (permissões, por exemplo).

Foi útil mas tenho de garantir que não deixo que o que vi influencie demasiado a minha reacção se um cliente, por exemplo, me falar da ferramenta. Tenho de ir investigar e “brincar” com ela primeiro.

A manhã do segundo dia começou, para mim, com uma apresentação do Jorge Baptista Joaquim Baptista da Altitude Software sobre o uScrum. uScrum, abreviatura de “uncertainty Scrum”, tem alguns pontos em comum com a abordagem Scrum mas tem também várias diferenças que emergiram em resposta ao contexto individual da empresa. Interessou-me bastante a forma como a aprendizagem da equipa está no centro desta abordagem e tenho na minha lista de coisas a fazer investigar duas coisas: de que a forma é que as lições aprendidas circulam entre equipas e influenciam o trabalho futuro, e como é que o wiki, que a empresa usa para suportar esta abordagem, é usado e com que resultados.

A apresentação do Bruno Afonso da Sapo, sobre a importância do design, desiludiu um pouco. E desiludiu não porque não atingiu as minhas expectativas iniciais (não tinha nenhumas) mas porque o orador não conseguiu expressar aquilo que parece saber. Eu não conhecia o Bruno mas fiquei com a sensação de que ele sabe daquilo… “a potes” (ou para os brasileiros, “pra caramba”).

A sessão WikiLife apresentada pela Eddie Correia da Chama Inc, por outro lado, ficou àquem das expectativas. Eu estava à espera de algo relacionado com… wikis. A sessão foi um momento de reflexão sobre o papel e o poder de influência e realização das comunidades motivadas. Assim, o título da sessão deriva do espírito da Wikipedia e do facto de que as pessoas estão dispostas a doar o seu tempo e energia para o bem comum e que essa vontade deve ser orientada para todas as coisas que nos rodeiam. Esta apresentação fez-me lembrar do livro Conectado que li recentemente e que tão bem fala da economia de oferta e fez-me recordar também o conceito de colectivos apaixonados de Francesco Alberoni para o qual o Artur Ferreira da Silva me alertou.

A parte da tarde começou com uma sessão bastante estranha. Com o título “Knowledge, networks and the social: fostering user-centred learning”, o apresentador abordou o tema de uma forma não totalmente clara para mim. Os 10 minutos em que, realmente, falou foram interessantes mas, durante o resto da apresentação passou a palavra. E passou a palavra a duas pessoas que convidou para falarem dos projectos que estão a desenvolver e cuja relação com o tema da sessão não deu para eu perceber.

“Digital Storytelling” foi uma sessão muito mais interessante. Apesar de o apresentador não estar presente e se ter feito substituir por uma gravação vídeo feita para este evento, as ideias partilhadas são-me bastante queridas. José Sacavém, ex-jornalista da rádio e da televisão, e agora sócio-fundador da VoxPopulis, falou sobre a utilização de histórias digitais. Esta é uma das pessoas com quem irei certamente entrar em contacto depois deste evento. Fico empolgada só de pensar a forma como as histórias digitais podem beneficiar das ferramentas sociais, tanto na criação como na partilha, e na forma como podem ser usadas nas organizações para diagnóstico, intervenção e partilha de conhecimento.

Riccardo Cambiassi, um colega meu da Headshift, e que veio falar sobre algo que tem investigado nas suas horas livres: “near field conversations”. É um conceito que ele cunhou e para o qual ainda não conseguiu criar uma definição bonitinha. Tem a ver com a forma como pequenas peças de dados partilhados na Internet sobre nós próprios (o que estou a fazer, quem conheço, que livros leio, que sítios vou visitar, etc.), quando combinados entre si ou com outros dados disponíveis, podem adquirir mais dimensões e abrir novas possibilidades. Bastante interessante.

Para terminar o dia, Andy Budd falou sobre a design para a web. A ideia que apresentou é a de termos como objectivo criar uma curva de experiência o mais positiva melhor. Terá pontos altos (boas experiências) e pontos baixos: a impressão que fica será a da média desses pontos. Deixou ainda a sugestão de olharmos para o mundo físico e tentarmos transpor para a web alguns dos mesmos princípios de sucesso: as primeiras impressões são importantes, serviço atencioso, personalização e costumização, atenção ao detalhe, “make it fun” e criar o ambiente perfeito.

Fico-me por aqui. Vou ver se consigo deixar aqui um registo do último dia da SHiFT que teve também sessões bastante interessantes.

3 comments

  1. Ana Neves 18 Novembro, 2008 at 18:32 Responder

    Caro Joaquim, peço imensa desculpa pelo engano que já corrigi no texto.

    Obrigada pelo link que nos deixou. Vou ver os textos que lá estão disponíveis e vou entrar em contacto consigo, como havíamos combinado, para ver se descubro um pouco mais essencialmente sobre a forma como estão a utilizar um wiki para a vossa comunicação interna.

  2. Raquel Pinto 6 Julho, 2009 at 18:36 Responder

    “O Joomla é bastante flexível e fácil de usar em algumas coisas (por exemplo, na criação de menus e módulos na página) mas rígido e complexo noutras (permissões, por exemplo).” Que muitas vezes pode ser uma dor de cabeça para se conseguir contornar…que foi um dos meus problemas no que se refere a sua utilização.

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