Don Tapscott, autor dos livros Wikinomics e Grown Up Digital, esteve na cerimónia de abertura do Ano Europeu da Criatividade e Inovação em Portugal. A cerimónia decorreu no passado dia 3 de Fevereiro em Lisboa e contou com muitas pessoas na assistência, sentados nas cadeiras do auditório ou às suas secretárias, vendo as apresentações através de uma feed de vídeo.
Não podendo estar presente, fiquei muito contente por poder beneficiar do videocast. Apesar dos soluços no som e na imagem, deu para ouvir a grande maioria.
A apresentação de Don, bem como o resto do evento, foi já bem descrita e comentada por vários (no Público, por exemplo). Apesar disso, gostava de deixar aqui as ideias que mais me marcaram da sua apresentação.
De acordo com o autor canadiano, estamos a passar uma altura de grandes dificuldades mas também de grandes oportunidades para inovar e ser criativo.
Os jovens de hoje são a Net Generation: são miúdos que tomam banho em bits, que cresceram com computadores e que passam imenso tempo na Internet. Mas, ao contrário do que se possa pensar, não deixam de sair, de passar tempo com a família e os amigos. A Internet está a “roubar” tempo à televisão que ficou reduzida a ambient media.
Online, os jovens procuram informação, planeiam, criam estratégias, etc.. Tudo positivo é positivo. Como diria a Dra Dulce Maria Santa Marta Soure, Directora da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, na sua intervenção da parte da tarde, o fundamental no processo de apredizagem é criar nos alunos o sentido crítico, a vontade de aprender, o espírito criativo e a capacidade de descoberta de informação. Ora, a Internet pode ajudar no desenvolvimento de tudo isto.
Toda esta actividade dos jovens na Internet, participando em redes sociais, utilizando ferramentas de partilha e colaboração, dá origem ao “generation lap”: os filhos dão voltas de avanço aos seus pais em tudo o que diz respeito a questões digitais.
Estamos perante uma situação inédita na História da Humanidade. Pela primeira vez, os jovens são uma autoridade em algo verdadeiramente importante: a Sociedade Digital capaz de influenciar a Economia mundial.
Ao contrário do que algumas pessoas dizem, entre as quais Mark Bauerlein autor do livro The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future (Or, Don’t Trust Anyone Under 30), Don acredita que acusar a Internet de estupidificar os jovens é como acusar bibliotecas de ignorância. A Internet não é o problema mas parte da solução. As escolas têm é de se adaptar à nova forma como os jovens aprendem e vivem.
Don citou uma letra de Bob Dylan dizendo “There is something going on here and I don’t know what it is” e respondeu dizendo que é a auto-organização. Os jovens são capazes de se auto-organizar, em redes de pessoas com valores, objectivos ou ideas comuns.
Isto tem grandes implicações para o sistema de ensino mas também para as organizações que irão empregar estes jovens. O modelo de gestão actualmente usado deixará de ser o mais indicado. As empresas não devem tentar gerir os seus jovens colaboradores. Antes devem criar ferramentas colaborativas que ajudem a criar e manter redes sociais que despertem o melhor que eles têm para dar. É difícil acreditar que ainda haja empresas que, ao invés de abraçar estas ferramentas, as proíbem.
Se as pessoas estão a perder tempo no Facebook, o problema não é tecnológico: é de gestão. Tem a ver com a forma como o trabalho é alocado, como as pessoas são avaliadas, como a motivação das pessoas.
A apresentação de Don foi bastante interessante, recheada de histórias e reflexo de uma grande experiência adquirida, em grande parte, através da conversa com muita gente em muitas partes do mundo.
Da parte da tarde pude apenas ouvir alguns bocadinhos.
Desses bocadinhos vale a pena destacar uma intervenção de António Câmara, da Ydreams que falou um pouco sobre como a situação das (pequenas) empresas em Portugal e de alguns dos desafios que sentiram e das lições que aprenderam até chegaram à posição de sucesso em que estão.
Falou também da utilização de ferramentas sociais e de colaboração. Nomeadamente, referiu a forma como estão a criar uma rede social para colegas, parceiros, amigos e “inimigos”. Nada como saber o que todos andam a fazer.
Disse ainda que muitos dos portugueses que saem de Portugal fazem-no, não por motivos financeiros, mas por sentirem falta de espírito de aventura na sociedade portuguesa.
(Pode ser que um dia eu partilhe aqui a minha história de vir para Inglaterra para poder trabalhar “em gestão de conhecimento”.)
Ana, a propósito de “(Pode ser que um dia eu partilhe aqui a minha história de vir para Inglaterra para poder trabalhar “em gestão de conhecimento”.)” – conhece isto?
http://mindthisgap.blogspot.com/
Conheço sim, João Carlos. E até já escrevi aqui no KMOL sobre ele. Infelizmente nunca cheguei a partilhar lá a minha história. É uma daquelas coisas que vai ficando eternamente para “amanhã”.