Bem na sequência do recente texto de Alberto Nobuyuki Hashimoto, deram-se duas curiosidades engraçadas.
A primeira aconteceu ontem quando peguei na Notícias Magazine (a revista do Diário de Notícias) e comecei a ler uma entrevista com Constantino Sakellarides, médico e professor de saúde pública, sobre a gripe A H1N1. Qual não é o meu espanto quando, em resposta à primeira questão, o médico responde com o seguinte:
“Informação e conhecimento são realidades muito diferentes. A informação é algo exterior a nós, a que estamos expostos continuamente, que circula enquadrada num contexto e numa estrutura que lhe dá sentido. Ao contrário, o conhecimento é algo de intrínseco, como alguém disse «é parte do nosso negócio que transportamos connosco», é alguma coisa que faz parte de cada um de nós. Por isso podemos estar continuamente expostos à informação e não sermos capazes de tomar decisões informadas e inteligentes porque nos faltam as «chaves críticas» que permitem transformar a informação em conhecimento.”
Dizendo de seguida que o desafio é:
“O importante é comunicar de forma que permita às pessoas transformar informação e orientações genéricas – a informação que é dada para todos independentemente das suas circunstâncias – em noções ou ideias que façam sentido perante a situação de cada um – o tal conhecimento que permite tomar decisões pessoais e concretas em função das nossas circunstâncias de vida.”
Não é todos os dias que se vê alguém falar sobre a diferença destes dois conceitos, informação e conhecimento, fora do âmbito das ciências económicas e de gestão, pelo que foi com grande agrado que o vi fazer e de forma tão inteligente. Independentemente de estar totalmente de acordo ou não, reconheço-lhe todo o mérito.
A segunda coincidência aconteceu hoje de manhã quando, ao abrir a última newsletter de David Gurteen leio o que ele considera ser a melhor definição de gestão de conhecimento, esta da autoria de David Snowden (que já aqui entrevistámos) e partilhada num post do seu blog Cognitive Edge:
“The purpose of knowledge management is to provide support for improved decision making and innovation throughout the organization. This is achieved through the effective management of human intuition and experience augmented by the provision of information, processes and technology together with training and mentoring programmes.”
Ou, numa rápida tradução para português,
“O propósito da gestão de conhecimento é oferecer suporte para uma melhoria da tomada de decisão e inovação em toda a organização. Isto consegue-se através de uma gestão eficáz da intuição e experiência humanas aumentadas pela oferta de informação, processos e tecnologia em conjunto com programas de formação e mentoring.”
Nada mau, hein?
Não digo que seja a melhor pois não gosto de absolutismos – e não, este comentário não tem nada a ver com as eleições legislativas de ontem 🙂 – mas é uma óptima definição que foca no propósito, dá ênfase aos aspectos humanos com sendo centrais e só depois avança para incluir os restantes aspectos.
Pessoalmente, considero que os propósitos da gestão de conhecimento são / podem ser mais vastos, nomeadamente para incluir aspectos de melhoria da eficiência e eficácia da actividade organizacional.
Realmente não é fácil encontrar uma pessoa que possa fazer uma distinção tão acertada entre informação e conhecimento.
Grato por esta pérola.
Não sou daquelas pessoas que dá demasiada importância à diferença entre informação e conhecimento mas também gostei muito, Ferdinand. Ah, e se se pergunta porque não dou muita importância, a razão é simples: no contexto de uma organização, no dia-a-dia, o que interessa é que tanto a informação como o conhecimento (e os dados) circulem e estejam acessíveis. Quando preciso de algo, não preciso de lhe dar nome – informação ou conhecimento – o importante é ter acesso àquilo de que preciso.
Ana
Eu já sou de outra opinião.
Quanto mais apurada a definição e esclarecidas as diferenças tanto mais provável que a comunicasão seja efetiva, eficaz.
O que tenho visto é muita gente falar sobre estes conceitos e fazer uma mistura, só gerando mais confusão.
Numa releitura da definição de GC feita pelo Snowden, sobressai “Isto consegue-se através de uma gestão eficáz da intuição, …”. Como se faz para gerir intuição? Ainda mais feita por terceiros? Minha “Urdummheit” não me permite entender isso!