O mercado das aplicações da chamada web 2.0 está cheio. Cheio de empresas grandes mas essencialmente de empresas pequenas, muitas delas criadas em torno de uma ideia – a de construir uma aplicação que venha preencher alguma lacuna do mercado, ou oferecer uma alternativa melhor ou mais barata.
O Dekks é uma aplicação bem merecedora do seu lugar como aplicação / site social. Com a tagline “Who knows what”, a página principal do site do Dekks promete algo bem apetecível e que poucos se podem orgulhar de ter conseguido: “começar colaboração em massa e tirar partido da rede de conhecimento informal que existe na sua empresa”.
O Dekks é uma ferramenta bastante recente no mercado. Desenvolvida pela empresa brasileira I.ndigo, foi lançada em Setembro de 2009 durante o evento DemoFall09 que se realizou em San Diego, EUA. A reacção foi bastante positiva, tendo mesmo sido escolhido pelo júri do evento como uma das cinco melhores aplicações apresentadas nesse evento (foram lançadas 56 no total).
“Dekks is an innovative new social knowledge tool for business that will really help businesses know themselves. I see Dekks as a huge opportunity for businesses to make great leap in productivity, real-time knowledge and real-time analysis of results.” Chris Shipley, produtor executivo dos eventos DEMO (fonte PRNewswire)
Mas, afinal, o que é o Dekks?
“O Dekks começou com o conceito de ‘organic management’ sendo uma ferramenta para entender novas tendências dentro da empresa. Acabou evoluindo para identificar tendências, identificar pessoas que dominam assuntos específicos dentro da empresa e até traçar um perfil de determinado indivíduo baseado no conteúdo produzido por ele dentro da rede,“ diz John Tomizuka, sócio da I.ndigo.
Apesar de haver algumas outras ferramentas no mercado que oferecem funcionalidades semelhantes (Yammer e Present.ly, por exemplo), nenhuma delas permite a visualização do relacionamento entre pessoas e entre conteúdo e pessoas. Isto tem a ver com o ênfase que o Dekks pretende ter na “análise do conteúdo trafegado”, como diz John. “As empresas estavam procurando controle e resultados associados com o uso de uma ferramenta de micro-blogging”, diz ainda, pois ferramentas tipo Twitter-para-as-empresas não chegam se não for clara a utilidade deste tipo de aplicações.
O Dekks funciona com base em “cartões” (cards). Um cartão pode ser uma nota (por exemplo informação daquilo em que estamos a trabalhar, ou partilha de um site interessante), uma votação ou uma tarefa que se atribui a alguém. O algoritmo desenvolvido pela I.ndigo entra em acção logo no processo de criação de uma cartão. Na verdade, à medida que o utilizador redige o conteúdo do cartão, o Dekks vai seleccionando palavras-chave (tags) relevantes e, com base nessas palavras-chave sugere pessoas ou grupos a quem o cartão pode interessar.
O automatismo reduz o tempo necessário à criação do cartão e praticamente elimina palavras-chave mal escritas ou que, por variação em género e número, aparentam ser distintas de outras já usadas. A sugestão de pessoas ou grupos não só reduz teoricamente tempo na criação do cartão, como alerta o utilizador para outros membros da rede / organização que se interessam por aquele tema. Se o cartão for um pedido de ajuda num determinado tema, o facto de o sistema apresentar sugestões de pessoas permite ao utilizador procurar descobrir mais sobre essa pessoa e até telefonar / mandar mensagem através de uma aplicação de mensagens instantâneas.
Os utilizadores podem interagir com cada cartão das seguintes formas:
- gostar (ou marcar como concluída se o cartão for uma tarefa)
- comentar (se for uma tarefa)
- enviar para alguém
- apagar (se for seu)
- responder.
Os utilizadores no Dekks podem criar e juntar-se a grupos temáticos, de projecto, de interesse, etc.. Quando se cria um grupo pode definir-se o nome, escrever uma pequena descrição, definir se é um grupo público ou privado, e escolher utilizadores que se queiram convidar para o grupo.
O Dekks torna-se verdadeiramente especial a partir do momento em que se entra na secção da Rede (ver nota final 1). Aqui podemos ver mapas de relacionamento entre utilizadores. Os mapas são criados com base nas mensagens que são trocadas entre os utilizadores do sistema. Isto é, vemos uma linha de ligação entre dois utilizadores se já houve troca de cartões entre os dois. Quando se carrega num dos “nós” o mapa é redesenhado de forma a centrar o mapa no nó seleccionado. Ao passar com o rato por cima de um dos nós, são apresentadas as dez palavras-chave mais usadas por esse utilizador nos cartões trocados com o nó central desse mapa ou com o nó que serve de “ponte” entre esse nó e o central.

A rede de pessoas no Dekks
De forma semelhante, é também possível ver o relacionamento entre palavras-chave. Seleccionando uma palavra-chave, podemos ver quais as palavras-chave que são usadas em conjunto com essa e assim sucessivamente. Carregando numa qualquer palavra-chave obtemos uma lista dos cinco utilizadores que mais vezes usaram essa palavra nos seus cartões.

Rede de etiquetas no Dekks
A secção Insight mostra-nos os utilizadores mais activos, sendo que o espaço dedicado a cada utilizador no écran é proporcional à quantidade de cartões por si enviados. Carregando no nome de um utilizador vemos uma representação das palavras-chave por si usadas e, da mesma forma, o espaço ocupado por cada palavra-chave é proporcional ao número de vezes que foi usada por esse utilizador. É também possível fazer esta análise a nível dos grupos.
A interface não é brilhante mas a riqueza de informação é enorme. Com base nela as organizações podem:
- identificar quem sabe o quê com base apenas na actividade das pessoas no sistema (isto é, não é necessário preencher perfil de utilizador)
- identificar quais as equipes que mais se debruçam sobre um determinado tema
- analisar-se a troca de informação entre equipas (se as equipas forem unidades funcionais de uma organização)
- etc..
O Dekks tem um cheirinho de Twitter no sentido em que cada cartão pode ter apenas 250 caracteres no máximo mas junta-lhe a possibilidade de categorizar as mensagens enviadas, dotando-as de características que lhes conferem diferentes formas de interacção (votar, terminar).
O número reduzido de caracteres por cartão e a contínua corrente de cartões enviados para nós e para os grupos a que pertencemos (o Pulse que se encontra no primeiro ecran depois do login) são os únicos pontos comuns entre o Dekks e o Twitter.
Como réplica do Twitter dentro das organizações, o Dekks é demasiado complexo. Por outro lado é algo limitado nalgumas outras funcionalidades pelo que não pode substituir outro tipo de ferramentas de colaboração como sistemas para partilha de documentos, fóruns de discussão, etc.. É assim importante que o Dekks defina claramente a sua identidade e a sua posição no mercado. Querendo destacar-se pela sua capacidade de mapear relações entre itens no sistema (pessoas, grupos, palavras-chave) e pelo seu algoritmo de derivação de palavras-chave com base em conteúdo criado, deve criar conectores para outras ferramentas colaborativas que completem a funcionalidade colaborativa e se completem com a funcionalidade do Dekks.
Esse, aliás, parece estar a ser o caminho escolhido pela I.ndigo que, de acordo com John Tomizuka, está actualmente a desenvolver integração com o Sharepoint da Microsoft. Há ainda planos para integração com o IMAP, Instant Messaging e RSS. A sugestão automática de workflow, a autenticação LDAP, e a automatização de respostas são outras funcionalidades em que a empresa está a trabalhar.
Para além disso, considero que o Dekks tem ainda um longo caminho para percorrer em termos de interface e usabilidade. Os ecrans não são totalmente intuitivos e estão muito cheios de elementos que lutam pela atenção do utilizador.
O Dekks tem uma aplicação cliente para o desktop – o Dekkstop – e trabalha para concluir aplicações para o iPhone e o Android. “[S]ão mais portas de entrada para os usuários do Dekks colocarem conteúdo no sistema. Eles visam evitar que a pessoa tenha que acessar mais um site, fazer mais um login e lembrar de mais uma senha, eles podem ficar ativos permanentemente como um programa de [mensageiro instantâneo],” explica John.
O Dekks está disponível, em português e inglês, na modalidade SaaS – Software as a Service – e, dentro de poucos dias, será de utilização gratuita. A fonte de receitas serão os pagamentos mensais para utilização dos plugins a desenvolver.
A I.ndigo prevê que a utilização do Dekks resulte nos seguintes benefícios para as organizações e grupos que o usarem: melhoria na interacção dentro da organização; melhoria no fluxo de comunicação; construção de uma base de conhecimento natural (orgânico) com ciclo de realimentação e sistema de recompensa; aumento de eficiência na organização; maior conhecimento organizacional; e melhor suporte a decisão organizacional.
Confesso ter algumas dúvidas quanto à “construção de uma base de conhecimento natural” já que, tal como foi desenvolvido, a funcionalidade e a interface não tornam isto muito fácil. No entanto, concordo com os restantes, dando ênfase a alguns e acrescentando um outro:
- melhoria na interacção e comunicação
- aumento de eficiência principalmente por uma redução do tempo perdido à procura de informação
- aumento do conhecimento organizacional, no sentido em que a organização terá uma maior consciência de si mesma e do que sabe
- aumento da motivação dos colaboradores.
Vale certamente a pena experimentar a aplicação (brevemente gratuita mas já hoje com um período gratuito de 30 dias para teste) e ficarmos atentos ao desenvolvimento desta aplicação.
A I.ndigo teve início em 2005 no seio do CIETEC – Centro Incubador de Empresas Tecnológicas da USP, com a proposta de oferecer soluções de localização utilizando radiofreqüência (RFID), sobre plataformas Web e mobile, comercializando-as em formato de software-como-serviço para clientes brasileiros e internacionais. Lentamente começaram a desenvolver aplicações em parceria com clientes, focando-se na criação de soluções na área de software/Internet e dispositivos móveis que preenchessem as lacunas existentes no mercado e agregassem valor aos seus parceiros.
1: Tirando algumas ferramentas que se têm proposto fazer esta análise com base nas mensagens de email trocadas (o que coloca graves questões sobre confidencialidade), e alguns sites que criam mapas de relacionamento entre pessoas com base nas suas mensagens do Twitter. (clique aqui para voltar para cima)