Notas do Creative Learning 2011

Ontem estive no Creative Learning, evento organizado pela AIP-CCI e que teve lugar.

Depois de ter participado no Creative Learning de 2009 que me surpreendeu pela grandiosidade, pela quantidade de oradores e sessões, a expectativa para o de ontem eram grandes.

Não vi tanta “grandiosidade”, não houve tantas sessões nem tantos oradores, e as duas sessões paralelas em que me sentei desiludiram bastante. No entanto, a “grandiosidade” dispensa-se bem (e nos tempos que atravessamos até teria caído mal), e a qualidade dos três oradores principais foi mais do que suficiente para justificar o dia (9h30 – 16h30) que passei no Centro de Congressos de Lisboa.

Deixo aqui as notas que fui tirando ao longo do dia: ideias que eles deixaram, conceitos de que falaram, frases que disseram, etc.. Como várias pessoas me congratularam, tanto no local como também via Twitter, pelas minhas perguntas / provocações aos oradores, vou partilhá-las aqui também.

O primeiro orador do dia foi Jay Cross (@jaycross).

  • Hoje sofremos de “time inflation” – um minuto há uns anos atrás exigia muito menos da nossa capacidade de processamento do que um minuto actualmente.
  • O mundo não vai “bounce back” desta crise: o que vem a seguir será muito diferente daquilo que era antes.
  • O trabalho e a aprendizagem têm de acontecer simultaneamente porque tudo está a acontecer e a mudar demasiado rápido para que possamos parar para aprender (depois da aprendizagem formal inicial).
  • A aprendizagem formal é como um autocarro – pára nas paragens, segue a sua trajectória (push – empurrar); a aprendizagem informal é como uma bicicleta – paramos quando queremos, vamos ao nosso ritmo, escolhemos a trajectória e, se pararmos com dificuldades, normalmente outros ciclistas param para nos ajudar (pull – puxar).
  • Don’t talk to other colleagues: you may teach them the wrong way of doing things” – frase dita por um gestor filho do Jay acabado de entrar na empresa (dita em tom de piada)
  • Do you want to get people through certification or do you want to help them be all they can be?
  • Pergunta: “Qual é o Retorno do Investimento em social business?” Resposta: “A sua empresa ainda existirá daqui a 5 anos.”

A minha provocação ao Jay Cross foi:

Porque é que havemos de apontar sempre o dedo à gestão no que diz respeito à obrigatoriedade / preferência pela aprendizagem formal? Na verdade, o que eu vejo, são pessoas que ainda fazem questão de levar certificados dos eventos em que participam como se o papel as livrasse de darem provas de que aprenderam alguma coisa. E vejo também pessoas que apontam o dedo à direcção se, em período de despedimentos, continuarem a oferecer café e fruta aos colaboradores em áreas comuns que podem conduzir à troca de conhecimento e aprendizagem informal.

(Atenção que isto é mesmo uma provocação. Apesar de ter uma enorme quota parte de verdade, em alguns casos isto é causa do comportamento da Direcção, e outras vezes é consequência da Direcção – ou do contexto mais amplo em que a organização se insere.)

A tarde começou com a apresentação de Lee Bryant (@leebryant), sócio-fundador e director da Headshift, empresa na qual trabalhei como Senior Consultant 2,5 anos até regressar a Portugal.

  • A inovação deriva da necessidade – apesar de agora haver esta ideia de que se pode financiar a inovação.
  • Antes do século XX, o mundo dos negócios era social, baseado em confiança, reputação e troca mútua de valor.
  • Battery chickens pressing the Send key on Outlook, processing meaningless instructions.
  • Social business é uma forma de negócio que utiliza as pessoas de forma mais inteligente.
  • Escala e intimidade: aqui reside o segredo
  • As activity streams criam conhecimento de ambiente. As máquinas de uma fábrica podem ter “voz” numa activity stream. As organizações parecem perceber e abraçar as activity streams melhor do que ferramentas como blogues, wikis, etc..
  • Sugata Mitra e o trabalho que fez com a em torno da aprendizagem de crian;as (TED Talk em 2010 e sumário) – é melhor não ter escolas do que ter más escolas
  • Inovação deve ser vista como uma propriedade e não como um processo
  • É a socialização do conhecimento, a partilha, que lhe dá significado e contexto
  • Há que criar na organização características evolucionárias que lhe permitam reagir à mudança
  • Cada uma das “caixas” e funcionalidades nas páginas da Amazon tem uma equipa (do tamanho de 2 pizzas, isto é, com o número de pessoas que pode ser alimentado com 2 pizzas) cuja função é mantê-la e melhorá-la com base nos dados que vão recebendo e analisando.
  • Os gestores tradicionais sofrem tanto com a falta de informação disponível como os seus colaboradores
  • Para convencer as pessoas a mudar e a adoptar as novas ferramentas sociais, procure que estas ferramentas ajudem essas pessoas: pequenos actos egoistas que tragam benefícios pessoais imediatos. “Selfish rewarded actions to the individuals
  • Talvez nem todos seja responsáveis por promover a inovação mas todos são responsáveis por assumir as rédeas da resolução dos seus problemas.
  • O potencial humano é quase ilimitado desde que seja necessário, motivado e que seja realizado em grupo.

A provocação que fiz, deixando uma pergunta ao Lee foi a seguinte:

Em Portugal as pequenas empresas tentam gastar o mínimo e querem ferramentas (sociais) gratuitas. As grandes empresas querem gastar muito para mostrar que podem (ou por qualquer outra razão idiota que ainda não percebi). Muito ou pouco, a verdade é que as empresas continuam a pensar nestes temas em função das ferramentas (e dos seus custos). Como se pode mudar esta mentalidade fazendo com que a conversa seja muito mais em torno da mudança para organizações sociais (e não organizações com ferramentas sociais)?

Finalmente, Zé Pedro Cobra Ferreira com uma magnífica interpretação humorista, passou também algumas pérolas que não irei esquecer tão cedo.

  • As pessoas passam tanto tempo a surfar na Internet que por vezes se distraem, esquecem-se do que procuram, e acabam a boiar na Internet (o Jay Cross sugeriu que boiar também é bom pois é uma das condições que mais favorece a serendipidade).
  • O chocolate não engorda. Nós é que engordamos. Da mesma forma, o problema não é da Web 2.0…
  • As pessoas em Portugal preferem ter razão quanto à crise (“eu bem que avisei”) do que fazer alguma coisa para a evitar
  • Estamos tão agarrados a conceitos como ter emprego, ter família, ter saúde, que nos esquecemos de que somos seres humanos e não “teres” humanos.
  • Temos de nos colocar no centro da mudança que queremos ver e pensar “o que seria de mim se não fosse eu?”.
  • “Falta de conhecimento é falta de poder”
  • Queremos ser da geração de 9/11 (queda do Muro de Berlim = liberdade) ou do 11/9 (queda das torres gémeas em Nova Iorque = medo)?

A provocação que deixei, pegando na expressão que o Zé Pedro usou.

Como é que as nossas organizações nos vêem: como seres humanos ou “teres” humanos? Quanto colocam o sentimento de posse dos colaboradores à frente da vontade de os ajudar a realizarem-se enquanto indivíduos?

Para além do que ouvi, tive ainda oportunidade de rever algumas pessoas que já não via há algum tempo – e isso é sempre muito bom.

Foi um dia muito bem passado. Parabéns AIP-CCI!

6 comments

  1. Antonio Reis 29 Outubro, 2011 at 21:20 Responder

    Na verdade pouco acrescentou ao realizado em 2009 e que esta muito bem resumido no livro de 2009, que recomendo a todos os ausentes-CREATIVE LEARNING INNOVATION MARKET PLACE,edição da AIP em 2009. Aguardo a edição deste ano, para quando? De resto, PaRaBeNs a Ana Neves.

    • Ana Neves 29 Outubro, 2011 at 22:10 Responder

      Obrigada pelo seu comentário, António. Curiosamente ouvi outras pessoas comentar que as contribuições, especialmente a de Jay Cross, não tinham trazido nada de novo. Se por um lado concordo e até posso perceber a potencial frustração, a verdade é que as organizações (na sua generalidade, claro!) ainda não registam comportamentos e processos como muitos dos ali ouvidos. Acredito que para se conseguir uma mudança generalizada são precisas duas coisas: evangelizar os conceitos e mostrar casos concretos de como está a ser feito. O Creative Learning deste ano fez a primeira parte muito bem. Que venham outros eventos (ou oportunidades) para ouvirmos experiências concretas.

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