Já aqui (e aqui e aqui) falei de serendipidade. Referi-me a este conceito como algo relacionado com a sorte, o acaso.
Ontem li um texto muito interessante sobre serendipidade escrito por Ian Leslie na More Intelligent Life que me recordou que este conceito é mais do que isso. Nele o autor reflete sobre as origens da palavra e sobre a forma como a Internet está a reduzir as probabilidades de serendipidade.
Na sua origem, serendipidade tem tanto de sorte como de perspicácia. De pouco serve a sorte de encontrar alguém se não formos capazes de tirar partido desse encontro. Os “cliques” acontecem se conseguirmos relacionar o que sabemos com o que acabámos de encontrar. E isso, realmente, requer perspicácia.
Requer também algo mais: vontade e predisposição para aprender, espírito aberto. (Neste tópico, sugiro uma olhada a um pequeno debate que tem estado a ter lugar na página do Instituto OST no Facebook.)
Sobre se a Internet reduz as probabilidades de serendipidade, muito haveria para dizer. Tal como as coisas estão neste momento, penso que Leslie tem bastante razão.
A personalização de conteúdo, os “amigos” que escolhemos nas redes sociais e que alimentam as nossas activity streams, o facto de passarmos cada vez mais tempo sentados no computador a aceder à Internet… Tudo isto contribui para que estejamos menos disponíveis para as consequências do acaso.
Urge uma reflexão sobre a forma de se criarem online ambientes propícios à serendipidade: os bares, os coffee breaks dos eventos presenciais, os escritórios, etc. Como conseguir um bom misto entre eficiência (aceder rapidamente à informação que queremos) e a serendipidade (ver informação “aleatória” que pode provocar “cliques” com o que sabemos)?
Nalgumas intranets que ajudei a configurar, propus que na página de entrada fossem criadas várias áreas distintas. Entre elas: uma que oferecesse ao colaborador uma visão rápida dos temas que lhe interessam e dos projetos em que está a trabalhar; outra que garantisse a disseminação da voz corporativa (notícias internas, por exemplo); outra que abrisse uma janela para o que vai acontecendo na organização, independentemente da área.
Um outro pequeno, grande pormenor que geralmente recomendo, é assumirmos que todos os espaços de trabalho criados na intranet são abertos a todos os colaboradores da organização (os fechados serão a exceção). Infelizmente é muito difícil “vender” esta ideia e o mais normal é as organizações quererem avançar com o oposto. É um perpetuar de comportamentos pouco conducentes à aprendizagem, à partilha e à serendipidade. E consequentemente à inovação.
Ilustração de Brett Ryder para o texto “In Search of Serendipity” de Ian Leslie na edição de jan/fev 2012 da 1843 Magazine
Interessante artigo a levantar questões importantes. Se só bebermos informação de “like-minded people” e se os motores de serendipidade apenas nos devolverem resultados de pesquisa, ou sugestões/recomendações de conteúdos e pessoas, semelhantes às nossas preferências/perfis, então cairemos na “filter bubble” para a qual alerta o Eli Pariser.
Em relação à serendipidade e eventos/conferências, convido os leitores deste cantinho na blogosfera a espreitar este artigo que escrevi: http://www.conferencebasics.com/2011/12/how-to-stimulate-serendipity-in-conferences/ 🙂
Em relação às intranets, e à serendipidade da descoberta de outros colegas, lembro-me de haver uma grande empresa, cujo nome não me recordo, que periodicamente destacava perfis de diferentes colaboradores para a homepage como forma de convidar os outros colegas a descobrir mais sobre esses mesmos colaboradores!
Obrigada, Ana. Já havia lido o teu post mas é bom recordar. Vamos ter oportunidade de testar as tuas ideias, enquanto participantes, no Enterprise 2.0 Summit em Paris e também na organização do Cidadania 2.0 🙂
Há algumas empresas que fazem esse destaque de colegas ou, ainda mais interessante, de equipas. É o caso da Câmara Municipal do Seixal que, mensalmente, destaca uma equipa na página principal da sua intranet. Inclui uma foto de conjunto e uma explicação do que fazem. Isto é especialmente importante numa organização tão diversa como é o caso de uma autarquia onde há arquitetos, jardineiros, advogados, etc.. E é importante tanto por questões de serendipidade como também de solidificação de um sentimento de pertença que permita motivar os colaboradores e dar-lhes mais motivos de orgulho pela organização rica em que trabalham.
São as pequenas coisas, não é?
Já agora, e porque é sempre interessante olhar os dois lados de uma moeda, deixo aqui um link de um texto publicado hoje no The Australian e que, com base num estudo recente, sugere que as pessoas são mais criativas se não trabalharem em espaços open space, expostos a barulho e interrupções. Que implicações tem isto com a serendipidade?
Aqui fica o link para o texto: Open-plan offices killing creativity
[…] escrevi, “De pouco serve a sorte de encontrar alguém se não formos capazes de tirar partido desse […]
Excelente tema, muito bem desenvolvido por Ana Neves, que conhece dos assuntos que fala e aborda. Esta é uma leitura que recomendo, pois todos nós temos algo a ver com SERENDIPIDADE e podemos prestar um contributo, bem mais positivo, se tivermos uma consciência mais profunda do tema. 5 estrelas.
Muito obrigada, Alfredo. Ainda bem que gostou 🙂
O tema é sensacional… quem de nós já não teve momentos e ou usados pelo acaso e é feliz até hoje… D+ a serendipidade faz parte do nosso cotidiano…