Apontamentos do Enterprise 2.0 Summit em Paris

Como já aqui havia referido, a semana passada levou-me a Paris ao Enterprise 2.0 Summit. Já há algum tempo que não participava num evento destes a nível internacional. Ia cheia de expetativas, com vontade de ver como as organizações estão a utilizar as ferramentas sociais internamente e para perceber como os processos relacionados estão a avançar. Fiquei desiludida.

Do programa faziam parte vários casos de estudo, apresentados pelas próprias organizações que os protagonizam: Alcatel-Lucent, Allianz France, JC Decaux, Renault, Danone, Saint-Gobin, Pernod, etc..

Foi muito interessante ver como as várias organizações, de variados setores de atividade, adotaram abordagens distintas, impulsionadas por diversas áreas da organização e por prioridades também elas diversas.

Algumas empresas viram os seus esforços ter início na equipa de TI (por exemplo, Saint-Gobin, Allianz), outras na equipa de Comunicação (Allianz France), outras em Marketing (JCDecaux), outras ainda na equipa de Recursos Humanos (Danone). Os objetivos variam: partilhar boas práticas (Danone), facilitar a localização de talento (Renault), colaborar mais eficientemente (JCDecaux), etc.. Na sua maioria, as empresas optaram por iniciar com pilotos, testando as ferramentas e os processos e procurando boas histórias que pudessem utilizar para convencer os restantes durante o roll-out.

Apesar de algumas empresas terem já iniciado o seu percurso há algum tempo (por exemplo, a Allianz France iniciou em 2009 e a Saint-Gobin em 2007), senti que há ainda muito pouca maturidade nalguns aspetos que me parecem extremamente importantes. Nomeadamente as questões de medição e de integração.

Comecemos pela integração. O benefício das plataformas de colaboração reside na possibilidade de os colaboradores (e eventualmente parceiros e clientes) trabalharem em conjunto num espaço partilhado, reduzindo a dispersão de conhecimento, a ineficiência da comunicação, etc.. Esse benefício será tanto maior quanto maior for a integração destas plataformas com outros sistemas existentes. Por exemplo com um CRM existente (não seria bom se na activity stream da nossa plataforma pudéssemos receber sinais de atividade do CRM, do género “A Maria falou com a empresa XPTO a propósito de um novo projeto”) ou com uma ferramenta para gestão documental (as pessoas falam em torno de um assunto – porque não usar os documentos como promotores do diálogo e da partilha?). Tive a oportunidade de conversar sobre este assunto com a Ana Silva, com o Luis Suarez e com o Daniel Pankatz e todos concordamos que muito mais precisa de ser feito neste âmbito. Neste momento as empresas parecem estar a ficar satisfeitas com uma pequena percentagem dos benefícios que podem ter.


E por falar em benefícios… O segundo ponto que parece continuar bem aquém do que devia é a questão da medição. As empresas parecem não estar preocupadas com a medição do impacto que tem a utilização destas ferramentas – ou isso ou ainda não conseguiram perceber como fazer essa medição. A Saint-Gobin referiu que começou por colecionar histórias, exemplos de como a plataforma havia ajudado. No entanto, sente que essas histórias já não são precisas pois os benefícios são visíveis e aceites por todos. Outras empresas dizem que optaram por não tentar avaliar porque não é possível estabelecer uma relação direta entre as ferramentas e as atividades de bottom-line. Custa-me a acreditar que não seja possível fazer melhor e custa-me mais ainda acreditar que não é preciso fazê-lo. Tudo está bem quando a direção de topo está convencida, quando a empresa está bem financeiramente… Mas e se a direção muda? E se é preciso reduzir custos? A minha experiência diz-me que, nestas alturas, estas áreas são as mais “atacadas” e que, se não há números por trás para mostrar os benefícios, pode ser difícil assegurar permissão para continuar (a investir).

Curiosamente a questão da avaliação (ou da falta dela) foi referida por muitas pessoas tanto durante os coffee breaks (com a maravilhosa pastelaria francesa) como também através do Twitter que, quando conseguíamos acesso à rede wi-fi, se mostrou um excelente companheiro de evento. (Veja aqui uns slides usados durante uma das sessões paralelas – a que não assisti – mas que só enfatisa o pouco que se avançou nesta área da avaliação.)

Para terminar, alguns pontos curiosos:

  • não me apercebi que estivesse representada (nem a assistir nem a partilhar a sua experiência) qualquer organização pública (eu sei de um caso português muito interessante 🙂 )
  • da mesma forma, todos os casos apresentados vieram de grandes empresas – mesmo quando o investimento foi relativamente reduzido
  • a mesa redonda em que participei para debater problemas de adoção de wikis falou do que já se sabe e apresentou muito pouco de novo (ainda assim o resumo de Christelle Fritz pode ser interessante)
  • havia apenas duas pessoas portuguesas (eu e a Ana Silva) e quatro espanholas (Luis Suarez, Isabelle Ayel, Olga Herrero e Josu Inchaurraga
  • das apresentações “principais” (keynotes) destaco as de Rawn Shah e de Dion Hinchcliffe.

Para um apanhado de muito do que foi dito em torno deste evento (e deste tema a propósito deste evento) espreite aqui.

Claro que apesar de alguma desilusão, gostei bastante de ir. Adoro Paris, conheci pessoas muito interessantes (Daniel Pankatz, a Stefania Todisco, o Frédéric Williquet, a Marie Khayat), falei com pessoas que conhecia apenas pela web (Luis Suarez, Lee Provoost), revi outras que já não via há algum tempo (Jon Mell) e passei uns momentos diferentes com a Ana Silva que, apesar de fazer coisas tão giras juntas, conheço essencialmente de uma convivência digital 🙂

E enquanto penso quais foram os meus principais take-aways, aqui ficam as sugestões de Richard Collin pela lente atenta do Luis Suarez.

Os 10 mandamentos deixados por Richard Collin

Os 10 mandamentos deixados por Richard Collin (foto de Luis Suarez)

4 comments

  1. Samuel Driessen 2 Março, 2012 at 21:28 Responder

    Thanks for pointing me to your post! I hadn’t seen it yet, but will follow your blog from now on. Google Translate will help me… 😉

    Interesting to read your highlights from the conference. Like you said, they relate to my reflections. I hope the organization takes the remarks and improves the conference next year. And next year we must talk f2f! 🙂

    • Ana Neves 5 Março, 2012 at 15:01 Responder

      Thanks, Samuel. As you say, next year, we should talk face to face. But, who knows, maybe we can find / create opportunities to meet and chat face to face before that? 😉

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