“Doodling” é um termo que nos remete para os rabiscos inconsequentes que fazíamos na escola ou que ainda hoje entretêm aqueles que, sem portátil, tablet ou telemóvel, se aborrecem nas longas, frequentes e muitas vezes inúteis reuniões de trabalho.
Uma casinha, um arabesco, um dragão. Alguns consideram que o que desenhamos nas margens dos livros ou das pautas de uma reunião, enquanto a nossa mente vagueia, são pequenas janelas para a nossa mente: para o nosso estado de espírito, para o que nos preocupa. Outros consideram que são apenas… rabiscos.
Um pequeno mas interessante texto de Rachel Emma Silverman fala da crescente importância que as empresas estão a dar a esta forma de expressão. Segundo o relato desta jornalista do Wall Street Journal são várias as empresas que têm vindo a apostar no doodling, criando espaços específicos para esta atividade, preparando as superfícies do escritório para que nelas se possa rabiscar, contratando profissionais para capturarem visualmente o sumo de reuniões, convidando os colaboradores para aulas de “rabiscos”.
Doodling não é apenas para quem “tem jeito para o desenho”. Na realidade, essa, pode dizer-se, é a grande vantagem do doodling: qualquer um pode fazer pois qualquer um sabe fazer setas, bolas, linhas, etc.. E porque está ao alcance de cada um, empresas como a Citrix, a Microsoft e a Zappos, acreditam que é uma boa forma de:
- transmitir conceitos complicados
- manter os colaboradores atentos durante reuniões de trabalho
- ajudar a gerar ideias
- promover colaboração
- simplificar a comunicação, especialmente entre colaboradores que não partilham a mesma língua materna
- ajudar a reter informação
- aumentar a concentração
- combater o total domínio da cultural digital.
Desenho de Nancy White que já aqui entrevistámos e que se tem vindo a especializar nesta forma de expressão
Confesso que sou uma ávida defensora dos “rabiscos” por todas estas razões acima indicadas.
E talvez por isso seja uma grande admiradora do livro “Atlas of Management Thinking” que descobri há 14 anos pelas mãos do Artur Ferreira da Silva. Nele, Edward de Bono explica variados conceitos de gestão através de rabiscos, nomeadamente círculos, setas, quadrados e linhas.
Algo semelhante, ainda que ligeiramente mais elaborado, são umas ilustrações que já aqui referi. O significado destas fica à consideração de quem as vê.
Aliás, este aspeto dos rabiscos é para mim talvez o mais fantástico – relacionado com os objetivos ligados à criatividade, à colaboração e à comunicação de conceitos complexos. Quando eu faço um rabisco (como forma de transmitir uma ideia, de representar / sumariar o que li, etc), esse rabisco irá, muito provavelmente, ser interpretado de maneira diferente por outra pessoa ou mesmo por mim alguns meses mais tarde.
Se o propósito era a comunicação objetiva de um conceito, ele terá falhado mas penso que também ninguém advoga que os rabiscos são bons para esse fim.
No entanto, uma diferente interpretação dá origem a:
- exploração de perspetivas diferentes que provavelmente não seriam identificadas de outra forma
- ramificações
- melhorias ao conceito original.
E isso é positivo. Tal como as narrativas, os rabiscos deixam espaço para que o recetor (que podemos ser nos próprios num momento futuro) faça a sua própria interpretação à luz da sua vivência, se sinta mais envolvido, e afetado pelo conceito.
Um livro bem legal sobre esse assunto: The Back of the Napkin: Solving Problems and Selling Ideas with Pictures
Tem também a palestra de Sunni Brown que vai no foco da questão. Vejam em http://www.ted.com/talks/sunni_brown.html