Lembro-me de há uns anos visitar um dos escritórios da Schlumberger. Era em Inglaterra e alojava uma das equipas de investigação e desenvolvimento da empresa. Fiquei surpresa pela forma como muitos dos seus comportamentos, processos e desafios se assemelhavam aos de um laboratório de investigação académico.
Não me admirei, por isso, quando recentemente ouvi falar de uma ferramenta desenhada para centros e departamentos de investigação, tanto em empresas como em organizações académicas.
O UPoint, criado na Universidade do Porto, é uma rede de colaboração para investigação e desenvolvimento. O Hugo Magalhães, a mente por trás do UPoint e o seu principal programador, conduziu-me numa visita guiada à plataforma.
Agora no final da primeira fase de desenvolvimento, o UPoint foca nestes aspetos principais:
- facilitar a identificação de quem sabe o quê
- saber que equipamento existe
- melhorar a colaboração.
Espera-se que os laboratórios de investigação sejam cada vez mais capazes de gerar receitas, atuando como empresas de serviços, preparando propostas para ir ao encontro das necessidades dos clientes. Por isso, deparam-se com o frequente desafio de saber quem sabe o quê. As bases de dados de investigadores são difíceis de manter já que estes vêem pouco mérito em as manter atualizadas. Isto aplica-se também aos perfis da organização, dos departamentos e das equipas.
O UPoint dá resposta:
- tendo perfis de pessoas, equipas, departamentos e organizações
- permitindo que partes do perfil sejam públicas, o que os torna numa alternativa a um site mais institucional (muitas vezes esquecido e desatualizado)
- mapeando a estrutura hierárquica e as relações entre organizações, departamentos e equipas
- acolhendo pessoas externas à organização (clientes, colegas de investigação, etc.).
É vital que se tire máximo partido do equipamento existente. Tal só é possível se se souber que equipamento existe. O equipamento pode ser listado no UPoint. O objetivo é que os investigadores na plataforma saibam da existência desse equipamento. Não existe nem se espera qualquer funcionalidade para gestão de material no UPoint.
Sites como o Academia.edu e o Research Gate estão disponíveis ao público e centram-se nas pessoas, isto é, nos investigadores e nos artigos que escrevem. O Upoint é centrado numa organização, nas suas equipas de investigação, e no trabalho que produzem. É também pensado para ser um local de trabalho para as equipas, através de colaboração e partilha.
Devo dizer que gostei da atenção dedicada à experiência de utilização. Muito do trabalho de edição (do perfil pessoal, por exemplo) é feito na própria página; o perfil e a atividade da pessoa estão visíveis no mesmo local; a adição de novo equipamento é feito num simples formulário que se sobrepõe ao site principal. Esta atenção é de louvar, especialmente considerando que a maioria das ferramentas desenvolvidas num contexto académico ou para a academia, ignoram os aspetos de design e experiência de utilização.
Esta plataforma foi iniciada pela Universidade do Porto para dar resposta a necessidades próprias. Foi rapidamente identificada como uma oportunidade de negócio e está atualmente a ser encarada como tal. O modelo de negócio ainda está a ser pensado e deverá depender de conversas com potenciais clientes interessados. Essas conversar irão igualmente informar a segunda fase de desenvolvimento que deverá incluir suporte para o processo de pedido de patentes.
É bom que o UPoint tenha nascido das necessidades de um centro de investigação real e testado com as pessoas que aí trabalham. No entanto, temo que tenha sido demasiado moldado para os seus requisitos específicos. Por exemplo, a razão porque optaram por não permitir a gestão de equipamente é porque a Universidade já tem outro sistema para isso.
Para além disso, do meu ponto de vista, para uma plataforma teoricamente desenhada para promover a colaboração e a partilha de conhecimento, falta-lhe algumas funcionalidades fundamentais: partilha de ficheiros, espaço para discussões, destaque para trabalhos de investigação recentes, etc..
Ainda assim, vejo esta plataforma como um bom substituto para sites esquecidos e um bom canal para comunicação entre departamentos. Se construído com bons APIs ou devidamente integrado com outras ferramentas, pode facilmente tornar-se na porta de entrada online para todos os investigadores no contexto de uma mesma organização. E sabemos o quanto isso seria importante.
Existem plataformas destas para empresas? Seria perfeito!
Existem sim, Teresa. Muitas. Aliás, quase se pode dizer que existem demais, e a escolha torna-se muito difícil. A Knowman, empresa da qual sou sócia e diretora, organizou recentemente um evento cujo objetivo era precisamente ajudar as organizações a perceber o que distingue as muitas ferramentas no mercado e a perceber que critérios usar para a sua seleção. Para mais informação sobre o evento e sobre as ferramentas que foram apresentadas, visite o site do Social Now. Para além disso, mesmo aqui no KMOL pode encontrar a minha opinião sobre algumas ferramentas de colaboração para as organizações: Podio, Dekks, Teepin e outras de baixo custo.
Adorei este post!!!