É na faixa dos 30 aos 45 anos que se abraçam as ferramentas sociais nas organizações

A semana passada estive em Paris para assistir ao Enterprise 2.0 Summit. Este evento anual consegue reunir um grande número de casos de organizações que estão a abraçar as ferramentas e as práticas inerentes a uma organização social (por exemplo, o Simply Market, a Deutsche Post, Amadeus, ou as portuguesas Sonae Indústria e Câmara Municipal do Seixal). É muito interessante ver como as organizações vão, ou não, evoluindo; vão, ou não, ultrapassando as dores de crescimento que vêm com a adoção dessas práticas e ferramentas; etc..

Mas se é interessante ouvir às apresentações, não é menos interessante conversar com os outros participantes nos intervalos ou, também fantástico!, conversar com eles via Twitter sobre o que está a ser dito no palco.

E este ano, no final do primeiro dia de evento, teve lugar um debate muito interessante sobre a relevância da idade dos colaboradores na rapidez de adaptação às ferramentas sociais introduzidas.

No meu mais recente post para o iGovSP dei a minha opinião sobre esse tópico:

“Para mim, a capacidade de usar as ferramentas sociais tem duas componentes: a capacidade de “operar” a ferramenta, e a capacidade de a usar de forma útil.

Usando uma analogia musical: uma pessoa que sabe tocar um instrumento pode não saber como tocar uma música nesse instrumento. Do mesmo modo, uma pessoa que saiba uma música pode não saber tocar um instrumento.”

Os mais jovens podem saber tocar o instrumento ou ter mais facilidade em aprender a tocar o instrumento. Mas a verdade é que os mais velhos estão mais habituados ao mundo do trabalho e estão muito mais bem preparados para pensar como o instrumento (as ferramentas sociais) se podem encaixar e melhorar esse mundo.

Esta questão da idade é, na verdade muito interessante e potencialmente enganadora. Assumimos que os jovens serão mais capazes de abraçar estas ferramentas porque quase nasceram com elas. Assumimos que os jovens terão mais facilidade de abraçar novas formas de trabalho porque, quando acabados de sair da universidade, não experimentaram outras. Mas a verdade, parece-me a mim, é muito diferente.

Em primeiro lugar os jovens de hoje em idade de trabalho não nasceram com estas ferramentas. O Facebook foi lançado em 2004, o Twitter em 2006, o LinkedIn em 2003.

Em segundo lugar, os jovens chegam ao mercado de trabalho sem experiência de trabalho em ambiente corporativo. Aliás, chegam ao mercado de trabalho com hábitos criados por anos no sistema de ensino: um sistema que premeia o individualismo (copiar não é permitido, lembram-se?), que incentiva a competição (em muitas situações a nota alcançada é o fator decisão para a conquista de um emprego), que os considera personagens passivos do processo de ensino (quem manda é o professor), etc..

Se juntarmos estas duas questões, conseguimos perceber porque é que os mais jovens têm alguma dificuldade em utilizar ferramentas sociais no contexto de trabalho e, ainda mais, como facilitadoras de formas de trabalho mais “livres”: trabalho a partir de casa, em horário flexível, e com acompanhamento mínimo. Sentem falta, parece, da disciplina para que se consigam manter motivados; sentem falta do acompanhamento para que o feedback possa ser mais imediato.

Acredito que é na geração dos 30 aos 45 anos que se encontram as pessoas melhor preparadas para aderir a estas ferramentas e dar-lhes a utilização mais indicada para que tenham verdadeiro impacto nos resultados da organização.

Qual a vossa opinião? Quando pensam nas vossas organizações, esta ideia confirma-se?

4 comments

  1. Anabela 26 Março, 2013 at 16:49 Responder

    Acho interessante esta questão, da minha experiência o que posso dizer é que a faixa etária poderá oscilar um pouco, considerando a média de idades dos colaboradores, no entanto julgo que um dos fatores que podem determinar ou não o uso dessas ferramentas irá varias com a natureza das tarefas, ou seja o interesse ou seja com o retorno que se possa obter. Para exemplificar posso dizer que começei em 1999 a utilizar o Plaxo pois foi o que descobri na altura para me apoiar na gestão de contatos e trocar ideias dentro de determinado grupo profissional. Só muito mais tarde aderi ao facebook. Ao nível institucional constato que ainda existem organizações com muitas reservas em as utilizar as ferramentas sociais. São sobretudo os colaboradores que trabalham na área da publicidade e comunicação que incentivam a sua utilização. Mas concordo que estas ferramentas são mais aliciantes para os “mais experientes” de certa forma.

  2. Cleon Espinoza 27 Março, 2013 at 13:07 Responder

    Reproduzo aqui o que postei no Facebook da Ana Neves.

    Gostei deste novo artigo da Ana Neves, o que não é novidade alguma. Ele é instigante para uma boa discussão, que já começou.

    Olhando a realidade das empresas com as quais tenho contato a média de idade das pessoas mais participativas das ferramentas sociais corporativas está entre 30 e 55 anos!!!

    Mas existem pessoas bem participativas acima desta idade, chegando fácil aos 60 anos.

    Por que será que isto acontece?

    Talvez estas pessoas tenham mais conteúdo para compartilhar. Talvez estejam num momento da carreira, ou de vida, que tenham mais tempo para o compartilhamento nas redes sociais corporativas.

    Talvez a experiência tenha lhes mostrado da importância desta participação.

    Apesar de lidar com isto há um bom tempo, ainda tenho mais dúvidas do que certezas nesta área. Está aí uma boa sugestão de tema de trabalho acadêmico.

    Mas de uma coisa tenho certeza: o ideal, para uma empresa, é que a sua rede social tenha a participação de todas as idades, pois é desta mistura de experiências/idades/culturas que vai sair algo novo e útil.

    Como motivar a todas as faixas de idade e também a todas as posições (chefias, gerentes, diretores, funcionários) para que participem? Alguém sabe estas respostas?

    • Ana Neves 27 Março, 2013 at 13:49 Responder

      Respostas, respostas, ninguém deve ter ainda, Cleon. É uma área ainda bastante verde, esta da utilização das ferramentas sociais dentro das organizações. Uma das mensagens que veio muito forte do Enterprise 2.0 Summit foi a de que é importante haver um mandato de topo para que se utilizem estas ferramentas e que, se a gestão intermédia não estiver interessada em adotar, há mesmo é que os mandar embora. Sim, a mensagem foi exatamente esta e veio de várias empresas.

      Apesar disso, a experiência de algumas diz que, quando há uma efetiva e alargada adoção das ferramentas, as chefias intermédias rapidamente percebem que estão a ficar de fora e resolvem entrar na jogada 😉

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