Uma das situações que tenho identificado em muitas organizações é uma profusão de ferramentas informáticas. Algumas vezes com fins distintos; algumas vezes com conjuntos diferentes de utilizadores; algumas vezes conhecidos pela generalidade dos colaboradores; sempre com conjuntos diferentes de dados e informação. Isto significa que os colaboradores, mesmo sabendo da sua existência, hesitam na hora de encontrar informação: “a que sistema devo recorrer?”. Há ainda a questão de que, ainda que num mesmo sistema, se torna difícil relacionar informação, permitindo análises mais inteligentes. Um caso especialmente complicado em sistemas que guardam informação de forma não estruturada.
Ora, foi com agrado que tive conhecimento do Wizdee Discovery, uma ferramenta criada pela Wizdee e cuja tagline é “Knowledge Management Solutions”. Criada em 2009, a Wizdee é uma spin off do Laboratório de Inteligência Artificial do Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra.
Foi com satisfação que falei com o Paulo Gomes, sócio e diretor da Wizdee, claramente apaixonado pelo que faz, e indubitavelmente confiante nas capacidades do Wizdee Discovery.
O Wizdee Discovery foi lançado recentemente e permite que qualquer pessoa numa organização possa fazer pesquisas “inteligentes” no conteúdo organizacional. A Wizdee está atualmente a desenvolver os primeiros pilotos com clientes e parceiros integradores.
Sem necessidade para quaisquer conhecimentos técnicos e com uma interface bastante intuitiva, o Wizdee Discovery possibilita a criação de listagens e gráficos com base em pesquisas do género “clientes da Sara” ou “contagem de clientes no Porto”.

Exemplos de pesquisas “inteligentes” que qualquer pessoa é capaz de realizar no Wizdee por serem feitas em linguagem natural
Os resultados podem, de seguida, ser vistos à lupa: com um clique num resultado, pode ver-se a informação detalha dos registos que lhe deram origem.
O Wizdee Discovery pode ser usado para a análise tanto de repositórios estruturados (por exemplo, bases de dados, CRMs, etc.) como de fontes não estruturadas (por exemplo, pastas partilhadas, wikis, etc.). Neste último caso, é necessário pegar numa das peças do kit Wizdee que permite criar uma estrutura em torno do material não estruturado. A partir daí é feita a “magia” da análise semântica que caracteriza o produto.
O Wizdee Discovery não pretende substituir as habituais ferramentas de reporting, mas antes tornar o processo de pesquisa tão rápido e fácil que qualquer pessoa pode “brincar” com os dados, procurando padrões, verificando teorias, etc.. Aquilo que muitas vezes passa por pedidos à equipa de TI para cruzamento de dados, em várias tabelas ou sistemas, e que podem demorar dias a obter resposta, está agora nas mãos do comercial, ou da diretora de marketing, ou do CEO, etc..
Porque a análise semântica está totalmente dependente da língua em que o conteúdo se encontra, o Wizdee Discovery está atualmente “limitado” para o português e para o inglês. O castelhano está preparado mas ainda não se encontra integrado.
Atualmente quando é instalado, o sistema é configurado para uma língua específica. No entanto, seria possível fazer com que a língua do conteúdo fosse automaticamente detetada pelo sistema no sentido de poder analisar repositórios com conteúdos em várias línguas.
Há já alguns testes iniciais para análise semântica de entradas no Facebook e no Twitter. Os resultados são positivos e promissores mas revelam também a necessidade de utilizar ferramentas específicas para “digerir” a “linguagem social”, muito específica, usada nas ferramentas de microblogging.
A ferramenta pode ser integrada em ferramentas existentes (neste momento, por exemplo, pode ser usada como uma extensão ao PHC) ou instalada de forma independente, nos servidores do cliente, para ir “beber” a várias fontes.
O modelo de pagamento funciona da seguinte forma:
- é feito um licenciamento do motor. Este licenciamento inclui um utilizador ligado, ou seja, qualquer número de pessoas pode usar o sistema com esta licença desde que apenas uma de cada vez
- opcionalmente, a organização pode pagar um valor adicional por utilizador extra.
Os valores de licenciamento são pagos uma única vez, no arranque. Atualizações para novas versões (upgrades), são faturadas se e quando necessário.
Gostei do que vi mas tenho de confessar que se trata de um tipo de ferramentas com o qual não estou muito familiarizada. Isso dificulta-me qualquer comparação com outras ferramentas no mercado. Consigo, apesar disso identificar uma clara necessidade para este tipo de análise e para este tipo de interface, tanto em termos da interface usada pelo utilizador como, acima de tudo, a interface que oferece, nos bastidores, para os repositórios de conteúdo que vão proliferando nas organizações.
Consigo também identificar alguns pormenores que poderiam melhorar a experiência dos colaboradores e que poderiam também abrir portas para uma utilização mais rica desta ferramenta.
Um dos aspetos que me chamou de imediato à atenção quando o Paulo começou a sua “visita guiada” ao Wizdee Discovery, foi o diagrama inicial que, de uma forma muito visual, representa o relacionamento entre os vários tipos de dados que “alimentam” o motor de análise. No entanto, o entusiasmo desvaneceu ligeiramente quando percebi que não havia muita “funcionalidade” associada, com a exceção de que, ao carregar num dos nós, podemos ver todos os itens de conteúdo que encaixam nessa categoria.
Seria interessante que, no mínimo, fosse possível carregar numa ligação (entre dois nós) ou selecionar vários nós e analisar o cruzamento do conteúdo associado.

A página inicial do Wizdee Discovery apresenta uma representação gráfica do tipo de dados disponíveis e da forma como se relacionam
Para além disso, vejo o benefício de poder enviar a outros colegas os resultados de uma análise de forma a poder conversar sobre eles.
Imagino a situação da Maria que, ao efetuar várias pesquisas, deteta um padrão surpreendente que necessita discutir com colegas e chefias. A ferramenta já permite imprimir e exportar os resultados e nos planos está previsto o envio dos resultados por email. Mas, porque não permitir aos utilizadores comentar os resultados obtidos? Deixar uma nota que facilite a compreensão daqueles mesmos dados a colegas que os observem a seguir, por exemplo?
Finalmente, e permitam-me ser um bocadinho preciosista, tenho de dizer que o Wizdee Discovery não pode ser visto como uma “Knowledge Management Solution”. Não acredito na existência de “soluções” de gestão de conhecimento, muito menos tecnológicas. O Wizdee Discovery tem certamente lugar no leque de ferramentas que podem suportar uma estratégia de gestão de conhecimento, mas satisfaz um requisito específico (crucial mas específico).
Ficarei atenta para ver como o Wizdee Discovery evolui e como consegue beneficiar as organizações onde é usado.