Martin Lodge no palco

Memória institucional: um desafio da Administração Pública

Anteontem em Brasília, durante a II Semana de Inovação em Gestão Pública, tive o prazer de ouvir uma apresentação feita por Martin Lodge. Ele é professor de Políticas Públicas no Departamento de Governo da London School of Economics e o tema da sua apresentação foi “A governança e a inovação do setor público importam para o desenvolvimento?”.

A certa altura, durante a sua apresentação, Martin Lodge referiu que um dos desafios da administração pública é a falta de memória institucional. Disse ele que é normal que um colaborador saia sem que haja uma transferência cuidada de conhecimento para quem fica, por exemplo. E que é normal também que esta quebra do fluxo de conhecimento resulte na duplicação de trabalho ou até mesmo de erros.

No final da sua intervenção, ganhei coragem para lhe ir perguntar o que sentia sobre o desafio que também sinto ser criado pela existência de demasiada memória institucional. Na verdade, disse-lhe eu, será que para além dos riscos inerentes à falta de memória institucional não há riscos também numa memória institucional que se agarra às práticas atuais, perpetuando-as sem as questionar? E não será este engessamento um grande inimigo da inovação, um dos temas centrais do evento?

Sorriu e concordou. Sugeriu que para isso era interessante que as instituições públicas criassem programas para circulação dos colaboradores, de forma a que fossem bebendo de realidades diferentes, mas sem quebrar os laços com a organização maior – a Administração Pública – evitando assim a perda de conhecimento.

Perguntei-lhe se conhecia programas desse género em prática. Disse-me que não.

Concordo totalmente com os riscos daquilo que sabemos ser uma realidade frequente – a perda da memória institucional. Contudo considero que não nos podemos esquecer dos riscos de uma memória institucional persistente.

São “memórias” diferentes, porém. Se por um lado devem ser criadas práticas e instrumentos para que o conhecimento criado, a base das decisões tomadas, a informação gerada, permaneça e esteja acessível; por outro lado é fundamental conceber outras práticas que evitem a fossilização de processos e rotinas. No primeiro caso precisamos de garantir que as pessoas encontram resposta à pergunta “porquê?”; no segundo caso, temos de criar hábitos de as pessoas colocarem essa pergunta.

Faz sentido? Conhecem exemplos de como esteja a ser feito no setor público?

(Para o caso de ter ficado com curiosidade, a resposta à pergunta que deu o mote à apresentação do Martin Lodge é “sim”.)

1 comment

  1. Ana Neves 7 Novembro, 2016 at 12:11 Responder

    Nem de propósito, hoje descobri esta iniciativa fantástica da PROCERGS: a Memória Oral. Uma entrevista a colaboradores que saem da organização e na qual conta um pouco da sua história da PROCERGS, de alguns dos projetos realizados, etc. Mais um exemplo simples de como preservar o conhecimento na organização.

    Deixo o vídeo para a memória oral de Cleon Espinoza que se aposentou recentemente depois de muitos anos trabalhando na gestão de conhecimento na PROCERGS. Imaginem qual o tema da sua memória oral 🙂

    Vale lembrar que esta não é uma iniciativa isolada na PROCERGS. O KMOL até já falou da experiência da PROCERGS em gestão de conhecimento.

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