O Nick Milton, uma pessoa que admiro e cujo trabalho acompanho há muitos anos, escreveu um texto com o título “Knowledge is social, not personal”. O Nick Milton arranca esse texto, cuja leitura recomendo vivamente, com a opinião de Larry Prusak que diz que o conhecimento é profundamente social. “Individuals may have separate memories, but do not have separate Knowledge”, continua Larry Prusak.
O Nick Milton explica e diz que o que transforma as opiniões, hipóteses, fantasias, etc., de uma pessoa em conhecimento “é normalmente a confirmação e aceitação social”.
Ele continua dizendo que esta ideia do conhecimento como uma coisa coletiva (“knowledge as a collective thing”) tem três implicações para a gestão de conhecimento:
- “the primary ‘knowledge unit’ is the practice area, and the networks (…) are the mechanisms by which knowledge is shared and managed”;
- a maior parte do trabalho de conhecimento tem lugar nas interações que as pessoas têm em grupos sociais – são essas interações que constróem, testam e justificam o conhecimento;
- “the main culture change is getting people to see knowledge as something collective (…) rather than their own personal property”.
Concordo inteiramente com esta abordagem à gestão de conhecimento. Contudo, estou com alguma dificuldade em concordar e aceitar a não existência de “conhecimento individual”.
Na minha opinião, o conhecimento é conhecimento mesmo que (ainda) não tenha sido partilhado. De facto, essa ideia está bastante ligada ao conceito de conhecimento tácito e, ainda que o conhecimento tácito possa ser partilhado, enquanto tal não acontece, ainda é conhecimento e é conhecimento individual.
Talvez não tenha sido partilhado porque a pessoa o quer guardar só para si, ou porque não o percebe como importante, ou porque nem sequer têm consciência dele. Talvez a pessoa só se aperceba desse conhecimento, e o partilhe involuntariamente, no momento em que precisa dele para resolver um problema. Não importa as razões: até que seja partilhado, o conhecimento é individual. Mas ainda é conhecimento, certo?
Apesar de tudo o que eu disse, adoro a ideia de “conhecimento social”. Ela está no coração de que quase tudo o que eu faço e estou plenamente convicta que:
- as organizações (e a sociedade em geral) ganham muito mais com conhecimento que é partilhado porque ele poderá ser aplicado mais rapidamente e em mais áreas da organização;
- o conhecimento partilhado é mais fácil de reter numa organização;
- o que conhecimento que é partilhado pode ser discutido e servir de base a uma construção coletiva que tira partido do conhecimento das várias pessoas, i.e. o conhecimento desenvolve-se mais rapidamente em contextos sociais.
Assim, e para concluir, concordo com a abordagem do Nick Milton para a gestão de conhecimento nas organizações mas vejo-a como uma abordagem que resulta do conhecimento ter mais valor quando é uma coisa coletiva do que propriamente do conhecimento ser uma coisa coletiva.
Isto faz-lhe sentido?
Foto: Participantes trocam experiências após o 1º dia do Social Now Europe 2015.
A versão inglesa deste post que publiquei no LinkedIn gerou bastante interesse e deu origem a comentários bastante interessantes que podem ser do interesse de quem se interessou por este texto. Fica o convite para espreitarem a discussão em torno do texto inglês: https://www.linkedin.com/pulse/knowledge-social-better-when-ana-neves
Cara Ana Neves, penso (você sabe) que o conhecimento é, basicamente, uma aquisição pessoal. Mas que pode ser maior, ou mais útil, quando ajuda a compor um conhecimento social. Que é uma oportunidade para sua confirmação e crescimento, mas que não o descaracteriza como um conhecimento individual.
Eu diria que um conhecimento pessoal pode ajudar a compor um conhecimento social de duas formas : a primeira é simplesmente o seu compartilhamento, isto é, quando várias pessoas de um grupo passam a deter esse mesmo conhecimento. A segunda é quando vários conhecimentos individuais se compõe de forma sinérgica para compor um conhecimento de equipe. Nessa segunda situação, não há um compartilhamento de todo o conhecimento individual, mas a aquisição do conhecimento de como combiná-los de forma produtiva. Uma equipe composta de especialistas em diferentes setores pode ser muito mais poderosa do que a soma dos conhecimentos individuais, sem que cada um deixe de ser um especialista.
Estamos muito de acordo, Alberto.