Imagem de capa do #PS_Salon de 19 de julho 2019

Aprender é como respirar: um ato contínuo e inconsciente

A semana passada participei numa tweetchat organizada periodicamente pela PostShift – a #PS_Salon. O tema desta mais recente conversa foi sobre a incorporação da aprendizagem no fluxo do trabalho das organizações. Durante a minha participação disse uma coisa que acabou por me ficar na cabeça e que, ainda que não sendo uma ideia “completa”, decidi partilhar para ver se é algo que lhe faça sentido.

A ideia começou em resposta a uma das perguntas colocadas na tweetchat: De que forma é que o workplace, as ferramentas e as comunidades digitais permitem uma aprendizagem mais auto-direcionada e contínua na organização?

A minha resposta foi talvez um pouco “brusca”:

Esta é uma pergunta esquisita. A resposta não é óbvia? Se a “comunidade” estiver viva, se o workplace digital não estiver morto, tu estás a aprender com todos os outros que o usam para partilhar, perguntar e pesquisar.

@ananeves no Twitter

Alguns minutos mais tarde, e já em resposta à questão “Como é que a aprendizagem pode acompanhar a mudança rápida que vem com o digital?”, disse:

A única forma é entender a aprendizagem como algo que acontece de forma inconsciente, quer queiramos quer não. Tal como a respiração. Assim, temos de criar as fontes e o ambiente certos para que aprendizagem aconteça, da mesma forma que cuidamos (ou devíamos cuidar) do ar que respiramos.

@ananeves no Twitter

E concluí esta ideia referindo que não decidimos reservar 30 minutos por semana para sentar e respirar, na esperança de que esse ar nos dê para aguentar mais uma semana, um mês, ou um ano.

Esta metáfora da aprendizagem ser como a respiração foi algo que me surgiu no momento. Mas, como disse acima, fiquei a pensar nisto. E a verdade é estamos em contínuo processo de aprendizagem desde o momento em que respiramos pela primeira vez fora do útero da nossa mãe.

Vamos sentindo o mundo que nos rodeia e aprendendo, de forma inconsciente, a reagir perante isso. Vamos vendo e imitando, vamos vendo e evitando, vamos fazendo e aprendendo com os erros e sucessos.

E se isso é assim na nossa vida “pessoal”, também é verdade na nossa vida profissional e, consequentemente, na vida das organizações. Como tal, e especialmente considerando o tal ritmo rápido de mudança e evolução, faz-me cada vez menos sentido falar em formação e julgo cada vez mais pertinente e vantajoso falar de aprendizagem. E, quando digo “falar de aprendizagem”, não digo rotular como “aprendizagem” os formatos de formação tradicionais.

É fundamental perceber que as pessoas estão a aprender continuamente e que isso tem implicações grandes para a forma como a organização operacionaliza a sua estratégia de desenvolvimento de competências, de criação e partilha de conhecimento, e até mesmo de transformação (digital).

Isto é uma oportunidade incrível!

Se…

  • as pessoas estão tão ocupadas que não têm tempo para participar em sessões de formação;
  • as organizações se sentem pressionadas para reduzir custos (de formação);
  • a mudança é tão rápida;

então, celebremos a oportunidade de planear um ambiente propício à aprendizagem que dá resposta a tudo isto e ainda garante melhores resultados.

Tal como cuida do ar que as pessoas respiram na sua organização – entrada, circulação, refrigeração, etc. – , preocupe-se em criar na sua organização as condições necessárias para que os seus colaboradores possam aprender continuamente e desenvolver conhecimento e competências relevantes à estratégia de negócio definida. Garanta que há canais de entrada para novo conhecimento, que há circulação de conhecimento, que o conhecimento é validado e refrescado, etc.

Se olhar para a aprendizagem como uma atividade tão constante e inconsciente como a respiração, verá que as lentes que tradicionalmente se usam para pensar a formação corporativa lhe vão parecer muito, muito “esquisitas”.

O que acha disto? Faz-lhe sentido? Gostava imenso que deixasse a sua opinião.

1 comment

  1. Carlindo Xavier 3 Janeiro, 2020 at 19:09 Responder

    A metáfora da aprendizagem ser como a respiração, faz-me sentido em diferentes planos de vida. Ainda que aparentemente fora de contexto, este ‘post’ evocou-me a memória de um livro do poeta Casimiro de Brito, intitulado ‘A arte da respiração’. Para saber mais sobre este livro, visitar o link .
    “Transformar o mundo não posso, mas talvez possa transformar o mundo à minha volta.”, Casimiro de Brito (1988). ‘A arte da respiração’. Lisboa, Publicações Dom Quixote.
    Assim, na senda do conhecimento obtido por via da arte da respiração, encontraremos uma possibilidade de transformação do mundo à nossa volta…

Leave a reply