Ontem, em Portugal, arrancou o terceiro período do ano letivo 2019/20. Para a grande maioria das crianças, foi o início de novas aprendizagens, bem mais importantes do que muitos dos conteúdos que, até há poucas semanas, lhes pesavam às costas.
Quem me conhece sabe o quanto me incomodam o cheiro a naftalina dos conteúdos letivos; as teias de aranha impregnadas em práticas de ensino; os verbos que se ouvem nas salas de aulas; as contas que se fazem no final de cada ano letivo.
Sinto que, na sua grande parte, a Escola não se adaptou ao hoje para preparar crianças e jovens aptos a viver e criar um melhor amanhã.
Continuo a ver a Escola muito mais focada em conteúdos do que em competências; em informação do que em emoção; em fazer do que em pensar; em aceitar do que em questionar e criticar (construtivamente).
Não sou ingénua a ponto de pensar que o ensino à distância imposto pela pandemia do COVID-19 vai alterar esta forma de ver e pensar o ensino. O que sei, é que esta situação vai levar os alunos a desenvolver um conjunto de saberes e competências vitais para o seu futuro.
Nas últimas semanas, tenho vindo a ajudar uma organização a comunicar aos seus colaboradores as vantagens e as formas de estar, comunicar e colaborar através de uma plataforma digital, agora central no regime de teletrabalho. Ora, a plataforma que essa organização usa é justamente a mesma que o meu filho vai usar para trabalhar à distância com a sua professora e os seus colegas (MS Teams).
Os alunos estão a ser colocados numa situação em que vão ter de aprender a comunicar através de novos canais, a “saber estar” e colaborar em ambientes digitais, a utilizar novas ferramentas de trabalho, a gerir o seu tempo de forma muito mais autónoma, a motivarem-se, etc.
Acredito sinceramente que são competências fundamentais para os preparar para o futuro, e fico feliz que, ainda que pelas razões erradas, estejam a ter esta oportunidade para as desenvolver.
Sei, por experiência própria, o quanto isto exige aos pais; só posso imaginar o quanto exige aos professores; temo pelo que significa para os alunos que encontravam na escola um escape à sua realidade familiar; tenho consciência do quanto penaliza os alunos com poucas condições económicas; não sou cega ao quanto exacerba a desigualdade social já existente.
Não defendo que a Escola deveria ser, permanente e exclusivamente, à distância: pelas razões acima e porque, se assim fosse, os alunos não iriam beneficiar de um outro conjunto de vivências e competências fundamentais.
Ainda assim, permitam-me ficar contente pelo valor que este cenário temporário terá para a maioria dos alunos e pelo impacto que as aprendizagens proporcionadas vão ter na nossa forma coletiva de estar, pensar, viver, aprender e trabalhar.