O New South Wales KM Forum é um grupo bastante ativo que há mais de 15 anos promove práticas de gestão de conhecimento naquela região da Austrália. Devido à pandemia da Covid-19, os eventos regulares do NSW KM Forum do NSW KM Forum estão a acontecer online, abrindo portas a oradores e participantes de outras partes do globo. Foi o caso daquele em participei no passado dia 21 de maio sob o tema “Building a learning international NGO by design, not by accident“.
Camille Neyhouser é atualmente Knowledge Management Specialist no Gabinete de Pesquisa da UNICEF (Innocenti) em Itália. Anteriormente, desempenhou uma função semelhante na The Fred Hollows Foundation, uma fundação internacional que pretende erradicar a cegueira evitável à volta do mundo.
Foi no contexto dessa organização australiana que Camille desenvolveu a sua tese de doutoramento sobre estratégias e mecanismos para a construção de organizações aprendentes em das ONGs internacionais. E foi justamente o fruto desse trabalho que partilhou no evento do NSW KM Forum.
Deixo algumas frases e ideias que mais me marcaram na sua apresentação.
“Knowledge does not stick”
Sim, na verdade, o conhecimento não fica colado: se não for devidamente cuidado e gerido, acaba por ir embora.
Conhecimento público
O conhecimento que existe em entidades públicas e em ONGs deve ser visto como conhecimento público, criado no âmbito de atividade paga com dinheiro público e donativos vários. Como tal, cabe a essas entidades cuidarem do seu conhecimento com especial cuidado para garantir que é preservado e usado na concretização dos objetivos organizacionais.
Gestão de conhecimento na mudança
A gestão de conhecimento assume um papel de especial importância em momentos de grande mudança, como aquele que atualmente vivemos. Infelizmente, e depois da crise passar, poucas são as organizações que investem na gestão de conhecimento para estarem devidamente preparadas quando o próximo grande desafio chegar.
Vocabulário
A utilização das expressões “gestão de conhecimento” e “aprendizagem organizacional” geravam confusão e, consequentemente, alguma resistência. Foram abandonadas pouco depois do arranque do projeto e substituídas por nomes de projetos e atividades enraizados no vocabulário da Fundação.
Não fale em conhecimento: fale em conhecimento crítico.
Objetivos
A gestão de conhecimento deve ser construída com base num “burning desire” e nunca em cima de uma “burning platform“.
Invista na apresentação da estratégia, deixando bem claro o seu propósito e a sua relação com a atividade da organização.

Há algumas organizações em que é mais fácil perceber a importância da gestão de conhecimento. É o caso da Médecins Sans Frontières cuja experiência é descrita no The KM Cookbook: nessa organização as pessoas percebem claramente que se não “fizerem GC” há pessoas que morrem.
Sempre que possível, relacione a gestão de conhecimento com as motivações intrínsecas das pessoas e da organização: dessa forma, elas irão olhar para a GC como um instrumento que as irá ajudar naquilo que as move e apaixona.
Ferramentas
A ferramenta “River of Life” foi usada nalguns dos workshops iniciais para mostrar a importância de preservar a memória organizacional; e foi usada a Knowledge Management Capacity Assessment Tool (KM-CAST), para fazer o benchmarking da organização no contexto de outras ONGs.
Indicadores
A utilização de indicadores (KPIs) pode empurrar as pessoas para uma abordagem demasiado focada na realização de tarefas; no entanto, pode ser necessária para, pelo menos num primeiro momento, cimentar a gestão de conhecimento na agenda como uma atividade com impacto na organização.
Infelizmente, e apesar do muito apoio que recebeu de várias partes da organização, Camille não conseguiu luz verde da Administração para avançar com a implementação da estratégia definida. É mais um entre muitos casos de estratégias que acabam por ficar na gaveta por falta de buy-in na Direção de topo, o que só revela a importância de assegurar um bom sponsor desde o primeiro momento.
Consulte aqui a tese de Camille Neyhouser
Nota: Foto de topo da The Fred Hollows Foundation