David Gurteen é uma referência da gestão de conhecimento mundial. Já aqui falei várias vezes dele e até já o entrevistei. Nessa entrevista, referi o blook que ele está a escrever sobre Conversational Leadership.
No contexto do trabalho que David Gurteen está a realizar em torno da liderança conversacional, ele e David Creelman sugeriram recentemente a ideia de um conversation covenant.
De acordo com os autores, “um convénio de conversação é um acordo entre duas ou mais pessoas para se regerem por um conjunto de regras no decurso de conversações aparentemente impossíveis”.
“A conversation covenant is an agreement between two or more persons to abide by a set of rules when engaging in (…) seemingly impossible conversations.”
David Gurteen e David Creelman
O convénio de conversação será assim importante, ou até imprescindível, para criar um espaço psicologicamente seguro para conversas impossíveis.
“An impossible conversation is one on a controversial or emotive topic that feels futile because it takes place between people who hold radically different ideas, beliefs, moral values, or political views.”
David Gurteen
Conversas impossíveis parecem cada vez mais frequentes no mundo polarizado em que vivemos. Mas as conversas são também chave para aumentar o envolvimento dos colaboradores com as organizações e, consequentemente, o sucesso da atividade de negócio.
Esta ideia de um convénio de conversação é, assim, especialmente relevante e oportuna.
Contudo, não pude deixar de pensar até que ponto um convénio de conversação é necessário pela falta de confiança entre as partes ou se apenas é possível porque já existe algum nível de confiança entre elas.
Lancei esta questão no LinkedIn e partilho um sumário das respostas por acreditar que são de grande riqueza e o tema é particularmente importante nos contextos organizacional e societal.
O próprio David Gurteen sugeriu que “temos de estar preparados para falar em boa fé, para nos envolvermos com a intenção de sermos sinceros, justos, abertos, e honestos, independentemente do resultado da conversa”.
Ainda que confiemos nas boas intenções de uma pessoa, é necessário acordar num convénio para garantir que a “conversa impossível” não se transforma numa “luta” no momento em que se tocarem nos pontos mais emotivos.
E, diz ainda David Gurteen, se tivermos dúvidas sobre se a outra pessoa é de confiança, temos mesmo necessidade do convénio porque, se as nossas suspeitas forem fundadas e a pessoa começar a quebrar o acordo, temos o direito de dar por concluída a conversa.
Depois disto, sugeri que se não houver confiança entre as partes, provavelmente o convénio nem chegará a ser criado. Assim, não vejo o convénio como um criador de confiança mas antes um instrumento para manter e fortalecer o ambiente de confiança.
O David Gurteen concordou com este ponto, dizendo que é preciso confiança para que se crie um convénio. “If you really do not believe the other person is acting in good faith then why bother. And yes, if participants abide by the covenant even when conversations get difficult, that can only serve to sustain and strengthen trust.”
Surgiu então uma pergunta de Bob Gibbon: “Será que precisamos de confiar na outra pessoa para criar um convénio ou apenas o intuito e a confiança nos carris que o convénio oferece? Qual é o pré-requisito principal: confiança no outro; confiança no convénio; ou compromisso de manter e trabalhar para uma resolução através de um diálogo produtivo?”
Fica o convite para que vejam o resto do debate diretamente no LinkedIn, e para que deixem, lá ou aqui, a vossa perspetiva sobre o tema.
Photo by Savvas Stavrinos from Pexels