Em maio nasceu a newDATAmagazine, “um projeto editorial disruptivo que pretende levar à comunidade internacional informação e conhecimento de qualidade que contribua efetivamente para promover o domínio do digital pelo indivíduo”, como se pode ler no website.
Neste post, faço um breve sumário do primeiro número, destacando e comentando os pontos que mais me interessaram.
A ideia de criar a newDATAmagazine surgiu no contexto da pandemia da COVID-19. Como escrevem Ana Rita Ferreira e Horácio Lopes, respetivamente copywriter e editor da publicação, “fomos percebendo que há uma franja muito larga da sociedade que não se sabe movimentar (…) nesta ‘nova’ realidade digital”.
Ainda assim, e ainda nas palavras de Horácio Lopes, “[h]oje experienciamos muito mais uma ‘nova utilização de tecnologias já existentes’ do que o “aparecimento de novas tecnologias’”.
A pandemia global empurrou-nos para um cenário totalmente novo. Mas, afinal, “[o] que aprendemos com esta sociedade digital ‘à pressão’?”, pergunta Bruno Silva. Se atentarmos à perspetiva dos seus alunos de Engenharia Informática, nascidos na era da informação e que nem sequer consideram o cenário de teletrabalho para 2050, talvez não tenhamos aprendido assim tanto, especialmente por estarmos ainda muito longe de conseguir perceber a verdadeira dimensão da mudança. Ou, provoco eu, por termos receio da gigante dimensão da mudança.
“Muito se fala da transformação digital forçada pela pandemia, mas pouco se fala da transformação social e de como depois disto passamos a olhar para a tecnologia.”, escreve ainda Bruno Silva.
Por exemplo, e como escreve Margarida Correia, “[g]arantir a equidade foi, muito provavelmente, o desafio simultaneamente mais necessário e mais improvável de cumprir”. Trata-se de uma observação que fez no contexto do ensino à distância, mas que se poderia perfeitamente aplicar ao contexto das organizações e dos colaboradores que, de um dia para o outro, se viram obrigados a trabalhar a partir de casa.
Vejam-se, por exemplo, os desafios que se colocaram ao trabalho em equipa. Este é o tema de um artigo em inglês em que Oliver Röhrich apresenta 5 truques para ajudar:
- se “remote is distant”, aproxime-se através da frequência;
- se “people do not participate as much”, seja mais diretivo(a);
- se “remote is too auditive”, seja mais visual;
- se “I run from one meeting to the other”, seja mais seletivo(a);
- se “remote is stressful”, seja mais empático(a).
Confesso que acho esta lista demasiado simplista e muito focada nos tradicionais métodos de trabalho. Por exemplo, não acho que isto sejam dicas para melhorar o trabalho remoto de equipas mas antes para ajudar a minimizar alguns dos habituais problemas das reuniões de equipa online.
Para além disso, se o remoto contribui para distanciar as pessoas, talvez o caminho não passe por criar mais interações síncronas (aumentar frequência) mas antes por equacionar novos modelos de trabalho, mais assentes na assincronicidade – como o Working Out Loud, por exemplo.
O tema da assincronicidade, aliás, é um dos pontos do artigo “A wasted crisis for real digital transformation”. É da minha autoria e posso assegurar que é fantástico! 😄
It is surprising how the majority organisations invest in digital transformation by solely focusing on digitising their outward-facing processes. As if one could sustain a pretty, agile and efficient exterior without a matching investment in the internal scaffolding: people, processes and platforms. – Ana Neves
Este primeiro número da revista, tem também alguns textos relacionados com a informação e os dados.
Comecemos por um texto bastante prático de Fernando Almeida sobre “A questão da fidelidade de dados para o negócio em projetos de migração de dados”. (Este tema pode ser aprofundado através do livro Designing Knowledge que já aqui resumi).
E por falar em dados, Nuno Miguel Pimentel assina um artigo sobre Ciência de Dados (Data Science). Este Engenheiro de I&D e Inovação fala do potencial desaproveitado da análise de dados que, hoje em dia, por falta de prática organizacional e pela escassez de profissionais habilitados, se limita à visualização de dados para reporting.
Passando dos dados para a informação, Luís Corujo escreve sobre os desafios da preservação digital da informação. Por exemplo, “[a] própria evolução tecnológica dificulta a existência de soluções sustentadas para os problemas de preservação digital, uma vez que rapidamente se tornam obsoletas.”
Sugere ele que a gestão e preservação da informação digital envolve 4 características: autenticidade, integridade, fidedignidade e usabilidade. (Não confundir com as 5 características que considero importantes na informação de qualidade.)
Finalmente:
- de referir alguns textos sobre a importância crescente da cibersegurança e dos comportamentos responsáveis – nas palavras de opinião de Silvana Carvalho, Shazia Din, Carlos Borralheira e Sónia Gomes;
- fico com curiosidade para acompanhar a coluna regular i.data_cities que focará nos novos modos de vida urbana, no desenvolvimento tecnológico e na digitalização do quotidiano;
- e o meu obrigada a Isabel Cristina Carvalho por me dar a conhecer o termo artivismo (arte + ativismo) para descrever um tipo de projetos que me fascina e que para o qual não sabia haver nome (o Tweetbalas é um dos meus favoritos).
O lema deste projeto editorial é “a partilha de quem sabe, para o benefício de quem lê”. Como escreve Andreia Pereira, “mudar requer também a humildade de aceitar que não sabemos ou que não dominamos determinada área do conhecimento”. Mais ainda, e agora nas palavras de Sónia Gomes, a interação e a partilha são “essenciais para sermos ágeis na identificação de oportunidades e problemas, no negócio, nas pessoas e nas nossas comunidades”.
Espero sinceramente que a newDATAmagazine tenha uma longa vida, conservado os seus valores e promovendo a mudança, nas pessoas e nas organizações, pela continuada partilha de desafios e oportunidades.