Há alguns meses ouvi uma série de três episódios do podcast “Seriously…” da BBC. Essa mini-série intitula-se “The long history of argument”.
No primeiro episódio (o meu favorito dos três), um dos convidados é o filósofo Iain McGilchrist. Ele refere que a sétima carta de Platão passa a ideia de que, durante uma argumentação, existe uma faísca que vai da mente de uma das pessoas para a mente da outra. “É uma ideia muito bonita”, diz McGilchrist. E eu concordo. É uma bonita metáfora.
Dois outros convidados, antigos estudantes de uma escola secundária inglesa, identificam bem as vantagens de se aprender a arte da argumentação: ensina-nos a pensar de forma mais clara, a criar empatia com os outros, e a persuadir.
De facto, numa argumentação estou a “conectar-me” com outra pessoa, estou aberta a ser persuadida e não apenas a tentar persuadi-la a ela. Os dois britânicos acrescentam que se houvesse mais pessoas treinadas na arte da argumentação, estaríamos muito menos sujeitos à “política tribal”.
A palavra “argumentação” tende a ter uma conotação negativa (será uma questão cultural?). Contudo, quando olhada por estes prismas, vemos a argumentação como um processo positivo, construtivo de cocriação.
Através da argumentação, as pessoas, as equipas, as organizações, as sociedades, podem cocriar contexto, conhecimento e até mesmo práticas.
Mas se é assim, porque é que as escolas não treinam a arte da argumentação de forma mais alargada? Porque é que a argumentação é vista como uma prática negativa? Porque é que as organizações não criam mais e melhores espaços seguros para argumentação? Porque é que as argumentações ao nível societal (entre cidadãos, ou entre cidadãos e Governo) têm tão pouco de “conexão” (no sentido de abertura à persuasão) e tanto de polarisação e teimosia?
Nota: Estas ideias fizeram-me pensar em “liderança conversacional” (o foco do blook de David Gurteen) e nas “conversas que importam” de Arthur Shelley.
Nota: este texto também foi publicado em inglês no LinkedIn