Fotografia do livro "Os Ignorantes"

Os Ignorantes

Adoro ir à biblioteca. Adoro deixar-me cativar pelos livros em destaque nas prateleiras. Também adoro ilustração, pelo que, cada vez mais, me tenho deixado levar por novelas gráficas que chamam por mim logo no átrio de entrada.

"Desconhecer é ser livre?", numa das páginas do livro

Na mais recente ida à biblioteca apanhei o livro Os Ignorantes: Relato de uma Iniciação Cruzada de Étienne Davodeau (2011) que Carlos Xavier traduziu do francês (Levoir, 2017).

Como Pedro Cleto refere no prefácio, este livro “é um relato documental, e autobiográfico, mais uma vez narrado na primeira pessoa, e que acompanha a iniciação cruzada em dois mundos, que só aparentemente são díspares…”. Esses mundos são o da banda desenhada (BD) e o da vinicultura.

Um autor de BD (o autor do livro) vive vários meses na quinta do vinicultor enquanto procura ficar a conhecer o processo de cultivo e produção do vinho.

O árduo trabalho da vinha, os cuidados e a ciência envolvidos, a filosofia e a ética dos vinicultores, vão sendo descobertos pelo autor. Em simultâneo, ele próprio vai convidando o vinicultor a dar os seus primeiros passos no mundo da banda desenhada.

Entre o suor nas vinhas, as provas nas adegas, visitas a vinhas e tipografias, e viagens a feiras de vinho e BD, os dois homens – e nós próprios – vamos mergulhando em novos campos de conhecimento.

Para além de ter aprendido imenso sobre o cultivo da vinha e a produção do vinho, e de ter aprendido várias coisas sobre o mundo da BD (esta foi a primeira vez que li uma reportagem em formato de novela gráfica), não consegui tirar o chapéu da gestão de conhecimento e de pensar nos paralelos que isto poderia ter numa organização.

O sabor dos livros e do vinho revela-se e apura-se com a conversa, numa das páginas do livro

Quanto ganhariam as organizações e as pessoas que lá trabalham se fossem criadas mais oportunidades de iniciações cruzadas? Se lhes fosse dada a oportunidade de acompanhar um colega de uma outra função ou país durante 1 ano, por exemplo?

Não seria essa uma forma de aumentar o conhecimento coletivo da organização? De contribuir para o desenvolvimento pessoal de que tanto se fala e a que muitas organizações continuam a responder com abordagens do passado? De promover o employee engagement pela maior consciência e valorização do trabalho dos colegas? De promover o pensamento sistémico no planeamento e na operação?

Finalmente, uma nota sobre o título. The Initiates é o título deste livro na sua tradução para inglês. Gosto mais do que o título original (Les Ignorants) e do da tradução portuguesa. Parece-me mais adequada. Ou talvez seja pela carga negativa da palavra “ignorante” que usamos como adjetivo pejorativo, que vemos como um defeito e não como uma incrível oportunidade: todo um caminho para percorrer à descoberta numa nova área do conhecimento.

Partilha de conhecimento durante uma conversa em volta de uns copos de vinho, de uma das páginas do livro

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