Jessica Lipnack

Jessica LipnackJessica Lipnack “falou” connosco e partilhou as suas ideias sobre equipas de trabalho virtuais. São ideias que resultam de anos de pesquisa e experiência e que já resultaram na publicação de seis livros.

Como define uma equipa?

Uma equipa é um grupo de pessoas a trabalhar em conjunto em tarefas partilhadas para um objectivo comum. Um grupo de pessoas à espera de atravessar a rua não é uma equipa; um grupo de pessoas a trabalhar em conjunto para encontrar formas de atravessar a rua é uma equipa.

Pode identificar diferentes tipos de equipas?

Muitos escritores e analistas definiram numerosos tipos de equipas. Não há um livro chamado “Team Types” (“Tipos de Equipas”) <sorrindo>? O enfoque do nosso trabalho têm sido as equipas virtuais, o que conduz à sua próxima pergunta.

Quais são as principais diferenças entre uma equipa virtual e uma não-virtual?

Uma equipa virtual é diferente porque atravessa fronteiras de algum tipo – organizacionais, geográficas, culturais – e porque usa tecnologia.

Qual é, hoje em dia, o papel das equipas virtuais nas organizações?

Crítico, chave, essencial. Fiz-me entender? <sorrindo novamente> Falando a sério, a pesquisa de Tom Allen, professor no MIT, mostra que quando as pessoas estão a mais de 50 pés (aproximadamente 15 metros) de distância, elas perdem os benefícios da proximidade. Isto significa que quase todas as equipas são virtuais, quer o percebam quer não. Além disso, a complexidade da maior parte do trabalho requer que as pessoas trabalhem com outras que se encontram distantes – remotas em termos organizacionais ou físicos. Assim, não é preciso pensar muito para perceber que as equipas virtuais são as organizações preferidas para trabalhar.

Quais são os aspectos chave para o sucesso de uma equipa virtual?

Primeiro, a equipa tem de ter um propósito bem claro. Segundo, os membros da equipa tem de ser independentes e inter-dependentes. Terceiro, as pessoas necessitam ter muitas formas de comunicação ao seu dispor (tecnológicas, não tecnológicas, ou mistas). Quarto, elas precisam de construir rapidamente uma relação de confiança e trabalhar para a manter. O nosso lema, sempre presente, é: 90% pessoas, 10% tecnologia.

Quais são os principais desafios de criar uma equipa virtual?

Há alguns desafios assustadores.

  1. Construir e manter confiança numa situação em que as pessoas raramente se vêem está bem alto nessa lista de desafios. Os membros da equipa têm de ter maturidade para que não interpretem as mensagens de forma errada. Isso é fácil acontecer já que a maior parte da comunicação não é presencial.
  2. Muitas empresas ainda não fizeram evoluir os seus sistemas de recompensa e reconhecimento por forma a acompanhar o trabalho de equipa virtual. Isto significa que as avaliações são muitas vezes feitas por pessoas que podem não ser responsáveis pelo trabalho da equipa virtual. As estruturas hierárquicas e os esquemas de recompensa não reflectem, geralmente, as necessidades da equipa.
  3. A tecnologia é um facilitador necessário mas muitas vezes constitui um obstáculo. Por muito avançada que esteja em algumas partes do mundo, a tecnologia ainda não chegou a todas elas. Assim, dependendo de onde os membros da equipa estiverem, é possível ter padrões de acesso muito desiguais.

Qual o impacto que as equipas virtuais têm na eficiência e qualidade do trabalho?

Tipicamente as pessoas conseguem melhores resultados quando se conseguem concentrar sem interrupções. Assim, aqueles que trabalham remotamente, em casa por exemplo, podem realizar o seu trabalho mais rapidamente e com melhores resultados (assumindo que os seus cônjuges, filhos, pais, ou amigos, não os perturbam demasiado). E quando essas pessoas se juntam para colaborar em equipa, frequentemente colocam trabalho de maior qualidade na mesa. O reverso desta minha visão cor-de-rosa também acontece frequentemente <já não sorrindo tanto>.

Criar e suportar uma equipa virtual não é apenas tecnologia. Quais são os restantes aspectos?

Numa frase, prestar atenção às pessoas. Tudo o que pode acontecer de errado em equipas presenciais também acontece com equipas virtuais – apenas mais depressa e com maior gravidade. Dê às pessoas o benefício da dúvida. Aja como um adulto. Seja capaz de perdoar e de ter compaixão. Isto começa a parecer-se como uma aula de catequese, não é? Contudo, estes são os aspectos que fazem funcionar as equipas virtuais.

As organizações estão conscientes disso?

Essa é uma pergunta retórica <grande sorriso>? Penso que algumas estão, outras não. Mas, a maior parte das pessoas, se questionadas sobre o que faz funcionar as equipas virtuais, irá reflectir e responder dizendo que dar atenção às questões humanas é fundamental no sucesso das equipas virtuais.

Pode falar-nos de um projecto particularmente interessante em que tenha trabalhado?

O projecto da minha vida foi com a Shell Oil Company, onde a equipa de liderança executiva agendou um projecto de cinco meses para repensar muitas das suas questões fundamentais numa altura em que se tinha tornado parte de um ambiente de negócio muito mais complexo. Nos velhos dias (isto é, no ano antes deste projecto começar), a Shell tinha controlo sobre todas as companhias onde os seus bens era desenvolvidos. Mas na nova realidade, a Shell fazia parte de uma comunidade em rede (“networked community” nas suas próprias palavras) onde a maior parte do seu trabalho decorria em joint ventures e alianças estratégicas. Isto, claro, deu origem a múltiplas equipas virtuais.

Pessoalmente, este projecto conduziu-me a um maior entendimento das questões de negócio em torno de alianças inter-empresarias e permitiu-me desenvolver, com as pessoas da Shell, um profundo relacionamento que ainda hoje, três anos decorridos, persiste. Esse projecto evoluiu para um projecto actualmente em curso com a Royal Dutch/Shell, a progenitora da Shell Oil Company. Estou eternamente agradecida por este conjunto de relações.

O que antecipa como o futuro desta área? Que novas ferramentas e práticas irão surgir?

Os ambientes on-line para suporte de equipas virtuais só agora começam a ser verdadeiramente úteis. Maior largura de banda e integração de software irão tornar aquilo que agora é vagaroso e difícil, em algo fácil e confortável.

Há alguma questão do trabalho de equipa virtual a que ainda não consiga dar resposta?

Agora estou a rir às gargalhadas. Há muitas, muitas questões para as quais eu e os meus colegas na NetAge e noutras organizações ainda não temos resposta. Mas estamos todos a tentar. Todas as pessoas que trabalham em equipas virtuais em qualquer parte do mundo – do Nepal ao Japão ao Brasil ao Canadá à Europa (incluindo Portugal!) à Tanzânia – são pioneiras. Em conjunto estamos a tentar encontrar respostas tão rápido quanto possível, e eu sinto-me excitada por fazer parte deste esforço global.

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