Conhecido por muitos pelo seu trabalho como jornalista no semanário Expresso e pelos sites Janela na Web e Gurus Online dos quais é editor, Jorge Nascimento Rodrigues tem partilhado os seus últimos anos com variadíssimas áreas da gestão. É sobre as suas ideias que nos fala.
Ao longo dos últimos anos, temos assistido ao nascimento de muitas tendências de gestão (CRM, TQM, etc.). Do seu ponto de vista, considera que estas têm sido apenas modas que nascem e morrem no esquecimento ou, pelo contrário, que embora fora da luz da ribalta, deixam os seus vestígios na forma de actuar das organizações?
Creio que algumas “buzzwords” tiveram impacto profundo no terreno das empresas, mas só muito a posteriori isso pode ser avaliado. De todas as que acompanhei desde 1983, no Expresso, acho que o TQM foi a que mais ligação ao terreno teve e mais duradoura influência entre vários segmentos dos RH das empresas. A nível de gestores de topo, a ideia das “core competencies” influenciou muita gente na tomada de decisão de como estruturar as empresas, evitando a diversificação não relacionada e a desfocagem. Aprendi que a diferença entre a qualidade teórica ou de propaganda de uma buzzword e depois a sua adesão ao terreno (isto é, se os gestores e quadros a aplicam ou não) é um gap enorme. Muitas “teorias” bem desenhadas – excelência, reengenharia, para citar duas sobre as quais fiz muitas recensões e conheci os personagens – foram de curta duração na febre que as acompanhou.
Quais os eventos mundiais que, nas últimas décadas, mais influenciaram a gestão e a vida organizacional? Porquê?
Reportando-me ao que acompanhei no Expresso desde 1983, referirei:
- 1986, adesão á Comunidade Europeia por parte de Portugal e Espanha (impacto específico no nosso caso);
- 1989, queda do Muro de Berlim, e fôlego na globalização;
- 1995, início do disparo da Nova Economia com a ida da Netscape a IPO e emergência da Economia Digital como nova estrutura de negócios e de organização.
Portugal, pais à beira-mar plantado. Organizações à beira-mar acomodadas?
Muito se discute se há um “management” à portuguesa, e não há ainda uma conclusão sólida com base em estudo empírico sério. Há a tendência para só falar dos aspectos negativos dos gestores e empresários portugueses por comparação com outros estereotipos estrangeiros, nomeadamente anglo saxónicos.
Creio que há um mosaico de situações no país, há empresas e gestores de vários géneros, uns mais cosmopolitas que outros, em função da abertura à Europa e ao Mundo. Há gente acomodada e gente muito dinâmica.
Dos aspectos negativos não vale a pena falar muito, pois têm a ver com a herança histórica e são dificeis de mudar: levam gerações. O traço comum mais positivo que encontro é de facto a capacidade de improviso com recursos escassos, um ambiente social de terceiro mundo e políticas pouco favoráveis ao empreendedorismo e globalização quase desde sempre.
Quais as suas previsões para as organizações portuguesas nos próximos 5 anos?
Não sei, mas creio que vão sofrer quatro pressões muito fortes:
- a progressiva integração de negócios e estratégias com as regiões de Espanha;
- a pressão da globalização nos dois sentidos: penetração das marcas dos países emergentes na Europa e nos nossos países de destino fora da Europa; reforço da consolidação dos grandes e médios grupos multinacionais;
- cada vez maior número de empresas multinacionais de nicho a comerem espaços que os portugueses poderiam aproveitar;
- emergência dos Países de Leste de Europa que vão concorrer em várias áreas de tecnologia média e alta em que Portugal entrou ou poderia entrar e que vão disputar os investimentos internacionais.