Depois de se ter dedicado durante vários à gestão de conhecimento na ICL e depois como consultora independente, Elizabeth Lank volta-se agora para a colaboração entre várias organizações. É este o tópico da entrevista que gentilmente cedeu ao portal KMOL.
Depois de tanto tempo a trabalhar em gestão de conhecimento, virou-se agora para a colaboração e networking entre organizações. Como é que encaixam estas duas áreas (gestão de conhecimento e colaboração inter-organizacional)?
De uma coisa podemos estar certos: o que quer que seja que desejemos fazer na nossa vida profissional vai estar sempre relacionado com a gestão de conhecimento (GC) dado que tudo o que as organizações e as pessoas fazem envolve conhecimento. Mas, para mim, esta transição é natural porque sempre senti que a gestão de conhecimento tinha, fundamentalmente, a ver com o permitir às pessoas colaborar de forma mais eficaz.
Como muitos outros nesta área, nunca apoiei a perspectiva de que a GC são, essencialmente, ferramentas tecnológicas e passei a maior parte do tempo a tentar ajudar as pessoas a trabalhar eficazmente em conjunto. Agora, o desafio adicional é o de ajudar pessoas, de diferentes organizações, a trabalhar colaborativamente – usando muitos dos princípios que fazem com que diferentes equipas de uma organização colaborem mas com a dificuldade extra de existirem diferentes objectivos, processos e culturas organizacionais.
Os projectos de colaboração têm muitos desafios na área da gestão de conhecimento – como partilhar informação eficazmente sem quebrar a confidencialidade comercial, como construir bens de conhecimento que beneficiem todos os parceiros, como saber que competências e conhecimento têm os outros parceiros e como colocá-las ao serviço da parceria, e como capturar e partilhar lições aprendidas à medida que a parceria se desenvolve.
Assim, continuo a debruçar-me sobre os desafios da gestão de conhecimento mas, agora, não no contexto de uma só organização.
Porque razao é a colaboração inter-organizacional tão importante na economia actual?
A resposta é simples: é imperativo atingir eficiência e eficácia máximas. Nenhuma organização pode ser a melhor (ou a mais eficaz, ou mais rápida…) em tudo – a colaboração permite-lhe reunir um conjunto melhor de capacidades para a ajudar a resolver um desafio ou abraçar uma oportunidade.
No sector público, a motivação são as expectativas dos cidadãos num governo sincronizado e eficiente – hoje em dia nenhum departamento governamental pode atingir, isolado, os seus objectivos. Assim, a questão já não é a de colaborar, ou não, com outras organizações – as questões agora são “quando” e “como”.
Que razões conduzem à colaboração inter-organizacional?
As razões são muitas e diversas – mas, pelo que tenho observado, há um conjunto de tópicos principais em termos dos resultados que as organizações esperam alcançar em conjunto. As organizações colaboram para:
- desenvolver novas áreas de investigação (por exemplo, parcerias academia / indústria)
- influenciar (lobby ao governo)
- desenvolver novos produtos e serviços (empresas concorrentes de manufactura de carros desenvolvem uma tecnologia em conjunto)
- vender produtos e serviços (outsourcing de tecnologias de informação)
- aprender (grupos para benchmarking)
- dar resposta a requisitos externos (o governo local e a polícia criam Crime and Disorder Partnerships)
- conseguir massa crítica (pequenas empresas de recrutamento juntam-se para atingir o impacto de uma grande).
Antes de decidir colaborar é preciso considerar o tempo e o esforço necessários para que o projecto de colaboração seja bem sucedido. Muitas tentativas acabam por ser uma dolorosa perda de tempo porque não foram pensadas com o cuidado preciso. A colaboração pode trazer imensos benefícios se houverem o empenho e as competências necessários – mas muitos custos se não for bem gerida.
O que podem as organizações fazer para iniciar e apoiar / manter uma boa colaboração inter-organizacional?
A questao é boa porque revela que o apoio às parcerias de colaboração é tão importante como a sua iniciação. Muitos esforços fracassam porque, o enorme investimento na fase de criação, esmorece quando o verdadeiro trabalho é necessário para que a colaboração funcione.
A chave do sucesso está em assegurar que as pessoas certas são envolvidas – pessoas capazes de construir relações, encontrar o win-win, desenvolver relações de confiança e cumprir o prometido. Afinal de contas, quem colabora são as pessoas, não as organizações.
Que obstáculos a este tipo de colaboração criam e encontram as organizações?
Algumas organizações são muito boas a colaborar enquanto outras constantemente falham nos seus esforços. O genuíno desejo de encontrar situações vantajosas para todos os parceiros e estar preparado para ceder nalguns dos seus próprios objectivos para garantir que os outros parceiros também beneficiam da parceria – estas são as características de organizações que colaboram bem.
Aquelas que apenas buscam benefícios para si mesmas preparam-se para o insucesso. Para além disso, algumas organizações têm dificuldade em partilhar o poder – podem sentir-se bem numa relação contractual em que dirijam os restantes parceiros mas são incapazes de participar como membros iguais numa parceria. Noutras palavras, a cultura já estabelecida na organização acaba por ser o maior obstáculo.
Quais são as principais diferenças e semelhanças entre colaborar com outros na mesma organização ou com outras organizações?
Há muitas semelhanças: a necessidade de desenvolver objectivos comuns, criar confiança, e encontrar o win-win. Porém a colaboração entre organizações traz níveis adicionais de complexidade. Por exemplo, não há uma autoridade superior para resolver potenciais disputas entre os parceiros; há que lidar com culturas, valores, processos e objectivos diferentes; não existe uma linguagem ou história comum; pode ser mais difícil conseguir um apoio continuado da gestão das várias organizações. Os princípios básicos para colaboração interna e externa podem ser os mesmos – mas o desafio é muito ampliado quando se fala de várias organizações.
A colaboração inter-organizacional será ainda um desafio daqui a três anos? Ou será que, nessa altura, as organizações já terão entendido a sua importância e dominado a sua prática?
A colaboração está aqui para ficar – tal como a gestão de conhecimento nao é uma moda mas um aspecto chave na gestão de qualquer organização do século XXI. Tal como tem acontecido com a GC, acredito que o trabalho colaborativo se venha a tornar um aspecto importante na educação de líderes – estes precisam entender que são necessárias skills especiais para se ser bem sucedido numa parceria. Há medida que desenvolvemos as ferramentas e abordagens para suceder na economia do conhecimento, muitas delas relacionar-se-ão com o trabalho colaborativo – e antecipo que serão precisos quinze ou vinte anos para que essa consciência e essas competências se encontrem na mala de ferramentas dos gestores.