Steve Borgatti fala de redes sociais e da sua análise.
Em que circunstâncias aconselharia uma organização a fazer uma análise das suas redes sociais?
Há tantas que não as posso listar todas. Há um número de circunstâncias pontuais. Por exemplo, uma equipa ou um grupo que não está a ter bom desempenho. Ou a necessidade de seleccionar os membros para uma equipa de trabalho com pessoas de vários departamentos. Ou a necessidade de seleccionar o líder de um grupo.
Também há circunstâncias a mais longo prazo. Por exemplo, imediatamente depois da aglutinação de duas organizações, eu faria uma análise da rede social de toda a nova organização e repetiria-a de tantos em tantos meses de forma a acompanhar o progresso da integração. As análises de redes são também úteis para oferecer aos executivos feedback sobre o seu desenvolvimento.
E em que circunstâncias recusaria fazer a análise de uma rede social?
A situação óbvia é quando suspeito que a gestão irá fazer decisões de recursos humanos (por exemplo, contratações, despedimentos, promoções, etc.) com base nos resultados, sem que os empregados sejam disso informados na altura em que preenchem o questionário. Isto é enganador e não é ético mas não é invulgar – especialmente quando um investigador realiza um estudo numa empresa para fins académicos e oferece o relatório à direcção em troca de permissão para recolher e analisar os dados. Os empregados e o investigador vêem o projecto como investigação mas a direcção usa os resultados como suporte à tomada de decisão.
No geral, prefiro não fazer análise de redes quando penso que os resultados irão dar má reputação à análise de redes sociais, pois isto vai ferir a nossa capacidade de obter dados válidos no futuro.
Como consegue que as pessoas participem activamente na fase de recolha de dados?
A melhor forma é oferecer valor aos participantes. Por exemplo, oferecer a cada participante uma análise da sua rede individual, como por exemplo apontando pontos fracos na sua rede pessoal.
Como pode usar os resultados de uma análise de redes sociais para influenciar a cultura de uma organização / equipa / rede / comunidade?
Esta questão é muito vasta. Claro que quando a análise da rede é feita para diagnosticar ou resolver um problema específico, as descobertas ajudam a determinar o caminho a percorrer. Mas, geralmente, quando a gestão adopta uma perspectiva que valoriza as redes sociais, começa a agir de forma a fortalecer a rede da organização e a evitar acções que firam a rede.
O que pode o mapa de uma rede social dizer sobre a inovação nessa rede?
Depende do tipo de inovação. Penso que para haver inovação no paradigma existente, ajuda ter uma rede densa, bastante dispersa e não estruturada – quase como uma rede aleatória. Nestas redes, cada pessoa está ligada a muitas outras e, por isso, beneficia de múltiplas experiências e diversos pontos de vista.
Mas para que haja inovação que quebre um actual paradigma, penso que é desejável ter uma rede fragmentada e menos conectada. Uma rede em que pequenas equipas estão isoladas da corrente de pensamento convencional e autorizadas a ter pensamentos mais radicais.
Quais as principais diferenças, se é que existem algumas, que esperaria encontrar entre mapas criados com base em equipas organizacionais e com base em (verdadeiras) comunidades de prática?
As equipas organizacionais podem ser comunidades de prática e vice-versa. É por isso um erro colocá-las em oposição. Mas creio que as comunidades de prática têm uma estrutura característica – nomeadamente, uma estrutura núcleo / periferia. Uma estrutura núcleo / periferia parece um ovo estrelado – existe o núcleo (a gema) rodeado por diversas camadas periféricas. As estruturas núcleo / periferia são muito boas a inovar dentro de um paradigma existente, e a disseminar a inovação dentro da própria comunidade.David Snowden considera que, ao mapear as relações / fluxos entre indivíduos, se está a interferir com a rede e não se conseguem respostas honestas. Ao invés disso, ele mapeia relações entre arquétipos derivados de histórias capturadas. O que tem a dizer sobre isto?
Penso que há aqui dois aspectos diferentes.
Um é sobre se é útil mapear relações entre arquétipos de histórias. A minha resposta é “Sim, se é nisso que se está interessado”. Esse tipo de análise é útil para entender a cultura de um grupo. Mas essa análise não fala sobre a rede social – o verdadeiro padrão de relações e fluxos que existe entre os indivíduos do grupo.
A outra questão é sobre se a) as pessoas respondem honestamente ao questionário, e se b) ao fazer o estudo se altera a rede. Penso que as respostas são semelhantes para qualquer tipo de investigação com base em questionários. As pessoas tendem a responder de forma que as faça parecer melhores, e o processo de responder a questões sobre si próprias tem sempre algum efeito, ainda que possa ser pequeno. No entanto, há que perceber que uma relação numa rede nunca é ditada apenas por uma pessoa. Eu posso listar o meu chefe como meu amigo, mas quem analisa os resultados cedo verá que o meu chefe não me listou a mim. Da mesma forma, responder a um questionário sobre as minhas relações de confiança pode fazer-me ver que preciso de desenvolver mais relações desse tipo, mas isso demora e não depende só de mim.