Roger Schank é conhecido por muitos graças ao seu trabalho na área da inteligência artificial. Mais recentemente, ele tem inspirado com a sua perspectiva sobre aprendizagem. Essa perspectiva é partilhada através de “Engines for Education”, uma referência fantástica que posiciona a aprendizagem como algo muito diferente do ensino. Nesta entrevista, ele fala-nos de aprendizagem, histórias e organizações.
“Engines for Education” é uma fonte de informação excelente. Não só por causa do seu conteúdo mas também por estar disponível na Internet de forma gratuita e num formato inovador. O que o levou a criar o site “Engines for Education”? Quais eram os seus objectivos?
Não estou nada impressionado com o que se faz passar por soluções de gestão de conhecimento. O computador é um novo meio e requer uma nova forma de escrever. Livros e documentos online não fazem qualquer sentido. Precisamos criar ferramentas de escrita que permitam às pessoas usar devidamente este novo canal. A minha versão online do “Engines for Education” pretendia mostrar o aspecto de um livro num novo mundo devidamente indexado. É mais fácil de ler do que a versão física, apesar de o livro ter sido escrito primeiro.
O ser de acesso gratuito era óbvio. A verdadeira educação é geralmente gratuita.
Atingiu os seus objectivos?
Bem, não vejo toda a gente a escrever desta forma. Por isso, claramente não os atingi. Estou agora a criar ferramentas que irão ajudar as organizações a mudar a forma como escrevem.
De que tipo de ferramentas estamos a falar?
Estou a trabalhar em ferramentas que iriam permitir que grupos de pessoas construam algo semelhante ao “Engines for Education” em conjunto e automaticamente. Isto inclui ajudar as pessoas a escrever de uma forma diferente que permita indexação automática e conseguir que o computador seja um pouco mais esperto e perceba sobre que é que as pessoas estão a escrever. Isto funciona em domínios que são limitados e suficientemente específicos para que o conhecimento relacionado possa ser representado por técnicas de inteligência artificial.
Em resposta à primeira questão, mencionou gestão de conhecimento (GC). O que é, para si, a gestão do conhecimento?
Para mim, GC é conseguir que os computadores saibam que informação contêm e sejam suficientemente espertos para entregar a informação certa à pessoa certa na altura certa mesmo quando a pessoa não sabe que anda à sua procura; informação que nos encontra quando precisamos dela. Isto não é fruto da imaginação – é bem possível.
Roger, é o fundador da Socratic Arts, uma empresa que oferece serviços de aprendizagem e usa um currículo centrado nas histórias (story-centered curriculum). As histórias são verdadeiramente o núcleo do seu trabalho. Stephen Denning vê as histórias como uma veículo para comunicar mensagens importantes. Dave Snowden usa histórias para desvendar a cultura de uma organização. O Roger acredita que as histórias podem com sucesso ser eficientemente usadas na aprendizagem. O que é que torna as histórias numa ferramenta ou num veículo tão importante?
Num currículo centrado nas histórias só há uma história – a história que está a viver. Acredito que educação significa oferecer experiências reais sobre as quais pode falar com outras pessoas – sobre as quais precisa falar. O currículo centrado nas histórias é uma experiência. Nós somos as histórias que sabemos e contamos. Precisamos dar às pessoas histórias para contarem e alargarem os seus horizontes. Para isso, temos de as excitar e surpreender.
Como é que as pessoas reagem ao uso de histórias em contextos de aprendizagem e organizacionais?
As histórias raramente são usadas correctamente no mundo dos negócios. Histórias importantes contadas por pessoas importantes exactamente na altura em que as pessoas precisam de as ouvir é a principal forma de usar histórias. Mas, o acto de contar histórias é igualmente importante. Nós lembramo-nos melhor das histórias que contámos do que das histórias que ouvimos.
Qual é a diferença entre aprendizagem organizacional e aprendizagem individual?
As pessoas aprendem pela acção e depois indexam as coisas que aconteceram durante a acção junto do que já sabiam de forma a mudar as suas expectativas. As empresas precisam de fazer o mesmo. Precisam de uma memória organizacional que vai mudando com a experiência. Isto é possível fazer mas é complexo e requer que as empresas mudem a forma como produzem documentação para que a indexação possa ser feita por computador.
É possível usar na aprendizagem organizacional as técnicas e ferramentas que se usam na aprendizagem individual?
Nem por isso. As pessoas precisam viver experiências, por isso construímo-las (na Socratic Arts) para os alunos. As empresas têm imensas experiências: só precisam saber que as tiveram.
O que é que o futuro nos reserva no que diz respeito à aprendizagem e ao conhecimento organizacional?
Novas ferramentas para escrever e novas memórias organizacionais que se organizam dinamicamente através do recurso à inteligência artificial (sim, inteligência artificial onde eu me iniciei).
No site da Socratic Arts está a seguinte frase da sua autoria: “Todas as pessoas aprendem através dos fracassos e da prática”. O que é que as organizações podem fazer para aceitar os fracassos no caminho para o sucesso?
Precisam encorajar os erros, o que parece uma ideia maluca. Mas as empresas que apenas falam dos sucessos criam uma cultura de medo dos erros e todos nós aprendemos com os erros (e com as histórias que contamos sobre eles).
Quais são os seus planos para o futuro?
Mudar o sistemas de educação e corrigir a gestão de conhecimento. Apenas isso.
Parabéns essa entrevista está maravilhosa. Roger Schank é fantástico, é fascinante o seu trabalho na área da inteligência artificial. Textos de extrema qualidade nesse site, parabéns mesmo!
Não tinha ainda percebido que o livro dele estava livre na internet. Assim é só ler!
Só não concordo com a frase: “Precisam encorajar os erros, o que parece uma ideia maluca.” Entendo a posição dele, sim, mas acho que o discurso tem que ser outro. Algo como: PRECISAM ENCORAJAR A AÇÃO, E TOLERAR ERROS! Pois certamente a ação resultará em erros. Mas não estamos procurando cometer erros, estamos procurando acertar!
Ví a apresentação que o Roger fez na La Salle. Ele é muitíssimo mais radical do que podería imaginar. Me parece que ele tem razão em suas colocações quanto aos métodos de ensino. No site dele tem muito a ser aprendido.
Parabéns, Ana pelas referências sempre muito ricas.