As ferramentas de computação social têm dado que falar. Muitos são aqueles que usam blogs como forma de expressar as suas ideias e os seus pontos de vista. Mas se os blogs, wikis e outros que tais vêm sendo cada vez mais usados a nível pessoal, poucas são as organizações que já tiram partido destas ferramentas. A BBC é uma dessas organizações. E foi Euan Semple que plantou a semente.
Trabalhou na BBC durante vinte anos e todos sabem o quanto transformou a atitude da organização face ao conhecimento. Pode descrever brevemente os problemas que tentou resolver, o que fez e o impacto causado?
Não estou certo de ter “transformado a atitude da organização face ao conhecimento” mas o principal problema que tentávamos resolver era a falta de ligação entre as pessoas. Nem todos tinham a sorte de estar na organização há tanto tempo como eu e de ter construído as redes que nos ajudam a fazer as coisas. Também tínhamos passado por diversas re-organizações e havíamos sido separados em novos grupos o que tornava ainda menos provável o contacto uns com os outros. Finalmente, as pessoas tinham cada vez menos tempo para cavaquear nos vários bares do edifício e tinham mais dificuldade em estabelecer ligações com pessoas fora das suas equipas.
No entanto, ao mesmo tempo, tornava-se cada vez mais fácil, através da Internet, encontrar pessoas com interesses e problemas semelhantes em qualquer parte do mundo, e contactá-las, e partilhar conhecimento, e fazer coisas.
O que fizemos foi introduzir essas ferramentas web – forúns, blogs, wikis e RSS – de forma discreta, quase viral, e observar como elas cresciam e cresciam.
O impacto foi que, pela primeira vez, as pessoas tinham uma forma virtual de se encontrarem e contactarem. Tivemos excelentes exemplos de pessoas que de tudo fizeram para ajudar pessoas que nunca “conheceram”, e óptimos debates sobre o nosso trabalho na BBC e o que significava ser parte desta organização. Juntámos o social ao trabalho e engendrámos um verdadeiro sentimento de “Uma BBC” que várias outras iniciativas não haviam conseguido.
Com base no que aprendeu na BBC, pode dar algumas dicas do que fazer e evitar quando se lidera um programa de gestão de conhecimento?
Não fale de gestão de conhecimento.
Não gaste muito dinheiro. A maior parte desta tecnoologia é simples e barata.
Crie um sentido de responsabilidade partilhada. Encoraje os utilizadores a serem responsáveis pelo ambiente e por como é usado e gerido.
Quando as coisas correm mal, faça perguntas interessantes sobre o “porquê” em vez de ralhar com as pessoas, e deixe-as decidir a resposta adequada.
Seja paciente.
Falemos de computação social (social computing). O que é?
Para mim é a possibilidade de usar computadores para expressar ideias, co-criar e conectar. Blogs, fóruns, wikis e RSS são ferramentas sociais que facilitam a ligação das opiniões e ideias das pessoas em padrões mais interessantes e úteis.
Muitas pessoas parecem verdadeiramente apaixonadas com o uso de blogs e wikis, tanto ao nível pessoal como organizacional. Como o justifica?
É a primeira vez que a publicação foi delegada nas mãos dos utilizadores finais e a capacidade de ligar ideias através das hiperligações é muito intuitiva e reflecte a forma como o cérebro funciona.
Que motivações e capacidades são necessárias para que as pessoas abracem e usem efectivamente estas ferramentas?
A vontade de dizer o que pensam. Muitos de nós foram treinados para serem reservados e não dizerem o que pensam. Esta é a razão pela qual o meu blog se chama “The Obvious?”. Sou eu a ultrapassar a minha reticência em dizer o óbvio.
Também precisam de alinhar com o princípio que eu chamo de “ahhh isto é interessante!”. Quando se tem um blog, começa-se a reparar mais nas coisas. Pode estar numa situação e pensar “Talvez vá blogar sobre isto. Porque quero blog sobre isto? O que estou a tentar dizer? Qual quero que seja a reacção das pessoas?”. Assim, tornamo-nos mais conscientes do mundo que nos rodeia, o que é um benefício só por si.
Mas se fizer um bom blog outras pessoas irão reagir com o “ahhh isto é interessante!” e escrever os seus próprios blogs acrescentando as suas próprias opiniões ou referenciando ideias relacionadas. É o processo colectivo do “ahhh isto é interessante!” que é verdadeiramente novo e poderoso.
Pode-nos dar alguns exemplos de indivíduos ou organizações que estejam a explorar com sucesso ferramentas de computação social?
Ruth Ward na Allen&Overy, uma grande firma de advogados no Reino Unido, conseguiu o uso de wikis e blogs para partilhar conhecimento interno e criar redes em torno de áreas de interesse.
Dresdner Kleinwort Wasserstein, um banco de investimento na City tem estado a usar wikis com sucesso sob o cuidado de JP Rangaswami.
A empresa de relações públicas Hill & Knowlton tem estado a blogar externamente, aumentando a sua visibilidade e fazendo um bom trabalho na área das suas próprias relações públicas.
Todos sabemos que as organizações precisam de inovar para vencer. De que forma pode a computação social ajudar com a inovação?
A inovação invariavelmente vem de um distanciamento com o status quo e raramente acontece em isolamento. Ter uma plataforma onde as pessoas podem trazer problemas à superfície, identificar o que precisa ser melhorado e ter uma forma incrível de decidir o que fazer a seguir é verdadeiramente revolucionário. A inovação torna-se possível quando e onde surge a combinação certa de necessidade e solução sem que seja fuzilada pelo processo.
Qual o papel das ferramentas de computação social na sua vida profissional?
Literalmente mudaram a minha vida. Comecei a blogar em 2001 e, no espaço de um ano, os autores do The Cluetrain Manifesto estavam a criar hiperligações para o meu blog. Surpreendente. O meu blog permitiu-me conhecer pessoas maravilhosas e interessantes, tanto online como offline, e, através destas ligações, transformar a minha vida profissional. Claramente, foi o facto de eu estar a usar estas ferramentas fora do contexto de trabalho que influenciou o meu entusiasmo pelo seu uso na BBC. O que foi interessante foi que, há medida que o tempo ia passando, as minhas oportunidades e ligações interessantes vinham em igual quantidade através do meu blog e da BBC.
Por favor pegue na sua bola de cristal e diga-nos: como serão as organizações daqui a dez anos?
Eu acredito que o nosso conceito de organizações terá mudado fundamentalmente. Teremos finalmente abandonado a perspectiva Taylorista das organizações como máquinas e veremos as organizações como redes, colecções de indivíduos a trabalhar em conjunto para um propósito comum.
Estilos de gestão de comando e controlo tornar-se-ão desapropriados e as pessoas tornar-se-ão muito mais responsáveis pelas suas vidas tanto em casa como no trabalho – e as fronteiras entre estes dois ambientes serão ainda mais ténues.
E que novas ferramentas, ou novas formas de usar ferramentas existentes, poderemos esperar daqui a três anos?
Penso que ferramentas que mostram padrões na riqueza de actividade na Internet e nas intranets tornar-se-ão mais sofisticadas. Ferramentas tais como Digg são apenas o começo.
Também penso que a Wikipedia é o princípio e não o fim e que os wikis transformar-se-ão em novas formas de colaboração há medida que nos tornamos melhores a colaborar.
Finalmente, e com base na sua experiência, partilhe connosco o cenário ideal para alguém a tentar implementar conceitos de gestão de conhecimento na sua organização.
- Baixo orçamento;
- apoio dos colaboradores da linha da frente;
- abordagem de baixo para cima;
- recursos humanos;
- insider;
- victórias rápidas; e,
- não é gestão de conhecimento.