
Heitor José Pereira
A Sociedade Brasileira de Gestão de Conhecimento (SBGC) cresceu em dimensão, alcance e impacto nos últimos anos. Esse crescimento deve-se em grande parte à visão, à experiência, ao dinamismo, e à incrível capacidade de liderar e motivar de Heitor José Pereira. Depois de recentemente ter passado o testemunho de presidente da SBGC a Sonia Wada Tomimori, Heitor continua grandemente envolvido com as actividades da organização e continua a construir uma fantástica imagem do que é a gestão de conhecimento no Brasil. Colocámos-lhe algumas questões.
O Heitor foi presidente da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento entre 2005 e 2009. Quais considera terem sido as principais marcas da sua actuação?
Primeiro a consolidação da SBGC como entidade representativa da comunidade brasileira interessada em Gestão do Conhecimento. Segundo, a expansão da SBGC a nível nacional, com algumas interações internacionais, sobretudo no âmbito latinoamericano (a SBGC hoje é entidade singular na América Latina). Finalmente, o lançamento de alguns programas estratégicos da SBGC visando o cumprimento da sua missão. Destaco o SBGC Educação, visando disseminar práticas de GC junto às organizações públicas e privadas através de produtos educacionais (presenciais e a distância); e o Programa ABC – Agenda Brasil Conhecimento, visando mobilizar instituições e a sociedade brasileira para discutir temas estratégicos de interesse do futuro do país sob o enfoque do conhecimento (como educação, saúde, energia, desenvolvimento urbano, e outros temas de interesse social, econômico, tecnológico e cultural).
Como caracterizaria a gestão de conhecimento no Brasil em 2005 e, agora, em 2010?
Está havendo uma rápida evolução no âmbito organizacional, tanto no setor público como privado, o que se manifesta pela demanda crescente de serviços de consultoria para apoiar inciativa de implantação de GC; crescimento de eventos e publicações sobre o tema; e formação de uma comunidade interessada no assunto, tanto no setor empresarial como acadêmico.
Quais as grandes prioridades e as orientações estratégicas da SBGC para este novo mandato?
Sem dúvida é a consolidação da SBGC como referencia em Gestão do Conhecimento. Neste sentido, a SBGC deve se somar às iniciativas de importantes instituições nacionais, como Petrobras e Sistema SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio À Micro e Pequena Empresa) para apoiar programas institucionais relaciondos à disseminação das práticas de Gestão do Conhecimento.
O interesse pela gestão de conhecimento no Brasil, como em Portugal, parece ter começado no meio académico, com docentes e investigadores a debruçarem-se pelo tema. Como se consegue que a gestão de conhecimento deixe de ser vista como uma “coisa” abstracta que só interessa a académicos e comece a ser aceite como actividade organizacional de pleno mérito?
Na área acadêmica há crescente interesse pelo tema tanto em pesquisa como em publicações. Entendo que é necessário sair das abordagens apenas conceituais e levar às empresas a percepção de que Gestão do Conhecimento só se justifica pelos resultados concretos, por exemplo, tornar as empresas mais inovadoras através de aplicação de (novo) conhecimento em novos produtos ou serviços ou na melhoria significativa de desempenho nos seus processo organizacionais. Ao mesmo tempo, a implantação práticas que resultem na valorização das pessoas enquanto detentoras do conhecimento, dando a elas perspectivas de crescimento pessoal e profissional em suas carreiras.
Ainda assim, há bastantes organizações que já apostam na gestão de conhecimento. Qual o tipo de actividades / iniciativas de gestão de conhecimento mais comuns nas organizações brasileiras?
Inicialmente, a preocupação é com a retenção do conhecimento, sobretudo de organizações em setores estratégicos que passaram por privatização ou grandes mudanças organizacionais nos últimos anos que resultaram em saída coletiva de pessoas que detinham competencias estratégicas para estas organizações. Uma segunda preocupação é o mapeamento do conhecimento existente e na impalntação de modelos de gestão de competências individuais.
Quais os sectores de actividade que mais apostam na gestão de conhecimento? E em que equipas / departamentos é que está a ter início este esforço?
No Brasil tem se destacado o setor de energia, por ter normalmente uma visão de longo prazo do negócio, e pela complexidade técnica cada vez maior em função das mudanças climáticas e da busca de energias alternativas. No caso das equipes internas, tem-se percebido a crescente evolução para equipes interdepartamentais envolvendo Recursos Humanos, Estratégia Corporativa, Tecnologia da Informação, e áreas técnicas relacionadas às atividades fins das organizações. Portanto, há consciência de que GC é um processo corporativo, e não de interesse de uma ou outra área técnica ou administrativa.
No que diz respeito à gestão de informação e do conhecimento, quais as principais oportunidades que se colocam às organizações brasileiras no início desta nova década?
Sem dúvida é a integração de Gestao do Conhecimento com Gestão da Informação e Gestão da Inovação, pois até o momento estas inicaitivas gerenciais eram isoladas nas organizações, e aquelas qeu têm evoluído mais nestes temas percebem a necessidade de integrá-las como se fossem um único processo focado nos resultados estratégicos da organização.
E quais os principais desafios?
O principal desafio é despertar nos dirigentes e gestores das organizações públicas e privadas, incluindo a academia, a noção de que Gestão do Conhecimento não é modismo gerencial, e sim a evolução dos modelos de gestão nas organizações, onde o conhecimento se tornará cada vez mais um recurso estratégico para a sua sobrevivência e sustentabilidade, ou seja, sair da visão de resultado de curto prazo para os beneficios de longo prazo que a GC poderá trazer para as organizações. Isto é uma questão de tempo, mas quando se entender que GC não é um programa eventual e temporário e sim uma nova filosofia de gestão, estaremos colocando as práticas de GC como “rotinas administrativas” nas organizações. Este é uma papel que a SBGC deverá perseguir sem esmorecimento.