Alvaro Caballero

Alvaro Caballero

Com formação em Tecnologia e Negócios, Alvaro Caballero trabalhou durante vários anos no ING Bank e está atualmente no NN Group. O seu foco é promover a adoção das tecnologias colaborativas dentro da organização. Como orador do evento Social Now Europe 2015 vai detalhar um modelo de aprendizagem social que desenvolveu. Foi sobre esse tema que se debruçou esta entrevista.

Alvaro, o que é Aprendizagem Social?

A minha interpretação do que é aprendizagem social baseia-se na ideia de que a curiosidade, a auto-direção e a construção de significado através de interações sociais leva a uma experiência de aprendizagem mais rica. Isto assenta no trabalho de Albert Bandura, Seymour Papert e Sugata Mitra, entre outros.

Enquanto que a aprendizagem social não depende necessariamente de ferramentas digitais, estas tecnologias têm o potencial de aumentar as nossas capacidades humanas, e assim oferecer novas oportunidades de melhorar a nossa aprendizagem.

Quando, e porquê, se começou a interessar pela aprendizagem social?

Há três anos, convencido de que as ferramentas sociais se iriam tornar uma parte fundamental da forma como trabalhamos, liderei um projeto interno numa instituição financeira. O objetivo desse projeto era aumentar a adoção da nossa plataforma de colaboração.

Durante a fase inicial do projeto, percebemos que uma das razões para a fraca adoção não era o desconhecimento das ferramentas mas antes o desconhecimento de como as usar produtivamente. Assim, um dos principais objetivos do projeto passou a ser capacitar os nossos colegas sobre como as ferramentas colaborativas podem ser usadas para navegar, avaliar e criar informação. Considerámos que só haveria esperança de um programa de adoção bem sucedido se facilitássemos a aprendizagem destes conceitos.

Porém, a abordagem corporativa de lidar com o assunto, e aquela que mais ou menos nos aconselharam seguir, era encapsular algum deste conhecimento num módulo obrigatório de elearning.

Não contentes com a opção, eu e a minha equipa, começámos em busca de alternativas. E foi nessa altura que decidimos experimentar de que forma os conceitos de aprendizagem social e literacia digital poderiam ser aplicados num contexto empresarial.

Pode descrever o que fizeram?

Resumidamente, criámos na organização espaços digitais para diálogo e reflexão em torno de tópicos chave da literacia digital.

O curso de nível básico consiste em seis módulos semanais. Alguns dos tópicos abordados são: perfis sociais, escrever postshashtags, pesquisa, “o que é que eu ganho com isto” e “working out loud”.

Cada módulo tem duas partes. Arrancamos com uma sessão de uma hora onde todos são “ligados” a uma comunidade fechada dentro da nossa plataforma. Começamos por lançar uma pergunta. Pedimos então a todos que façam uma investigação individual cujos resultados sejam usados como contributo para o debate online. O nosso trabalho enquanto facilitadores é idealizar perguntas interessantes e não respostas.

A qualidade da participação é importante, pelo que acompanhamos de perto todas as interações oferecendo recomendações sobre como podem contribuir para o debate construindo sobre o que já foi dito.

Depois de concluída a sessão, a segunda parte do módulo é um trabalho a realizar colaborativamente no espaço de uma semana.

Pedimos aos participantes que pensem como futuros instrutores. Isto é, o que quer que venham a criar será usado como orientação para o próximo grupo de participantes. Fazemos isto para os ajudar a praticar um processo de co-autoria, e porque fomenta um sentimento de orgulho, sabendo que estão a construir algo para os seus colegas.

Acima de tudo, garantimos que há tempo para reflexão pessoal e análise, tempo esse que está no coração do processo de aprendizagem.

Quais são os principais obstáculos a este tipo de abordagem?

Em primeiro lugar requer que as pessoas estejam perfeitamente convencidas de que são elas as responsáveis pelo que vão aprender.

Capa do "Poke the Box"

Capa do livro “Poke the Box” de Seth Godin

Desde muito novos que nos impingem a ideia de que os professores é que sabem as respostas certas. Mas para que esta abordagem funcione, os participantes precisam reacender a sua curiosidade e descobrir as respostas por si próprios. Gosto muito da ideia do Seth Godin: “toca na caixa e vê o que acontece”. É isto que pedimos às pessoas: que se comportem como crianças a explorar uma caixa.

Um dos outros obstáculos é a escala. Esta abordagem requer bastantes tempo e esforço. As métricas habitualmente usadas para definir o sucesso dos processos de formação, como resultados dos testes ou taxa de conclusão por exemplo, não se adequam a estes nossos propósitos. Assim, é necessário encontrar alternativas para melhor explicar os benefícios e mostrar os resultados.

E quais são esses benefícios que acredita resultarem deste tipo de aprendizagem?

As tecnologias colaborativas podem ser usadas de diversas formas para propósitos distintos. Não é possível explicar cada uma delas a cada um dos colaboradores de uma grande empresa. Assim, optámos pelo enfoque na qualidade (e não na quantidade) e na aprendizagem sobre aprendizagem (e não sobre conteúdo).

Vemos isto como a diferença entre aprender receitas versus a arte de cozinhar. Apesar de as receitas serem muito importantes, o que queremos são chefes capazes de preparar um belíssimo prato a partir dos ingredientes disponíveis.

Continuando com esta analogia, queremos pessoas que entendam os princípios básicos, e que depois, independentemente de uma tecnologia, plataforma ou funcionalidade específicas, consigam tirar partido em benefício próprio e das suas equipas. Essa é uma vantagem competitiva muito difícil de replicar. Não tem preço!

Esta abordagem de aprendizagem social é possível em organizações de qualquer dimensão?

A dimensão dos grupos varia entre 5 a 10 pessoas. Assim, acredito que esta abordagem se adeque a empresas grandes e pequenas.

O que é que gostaria de tentar de seguida, no que diz respeito à aprendizagem no local de trabalho?

Gostaria de desenvolver o próximo nível de literacias digitais. Depois de os participantes terem concluído o nível básico, tenho a certeza de que conseguiriam fazer coisas muito interessantes na posse de conceitos mais avançados.

Para além disso, e apesar de termos deixado algum espaço para auto-organização, penso que era bom haver ainda mais. É algo que gostaria de integrar em módulos futuros.

Estou também interessado em experimentar com outros tópicos para além das literacias digitais. Será que isto pode ser aplicado a outros domínios? Quem sabe?

Ainda há muita oportunidade de experimentação com a aprendizagem social: o truque está em encontrar os momentos certos para tentar algo diferente.

 

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