Paulo Nunes de Abreu

Paulo Nunes de Abreu

Paulo Nunes de Abreu descreve-se como um “arquiteto da colaboração”. Acabou de publicar um livro sobre o tema (Arquitetar a Colaboração: 5 passos para uma liderança facilitadora) e, em colaboração com David Gurteen, está a organizar um Knowledge Café on Visual Collaboration (Londres, 28 novembro 2018).

O Paulo descreve-se como sendo um “arquiteto da colaboração”. Vi que escreveu um texto sobre o que é um arquiteto da colaboração mas será que nos poderia descrever sumariamente esta ideia. O que poderia ser o elevator pitch de um arquiteto de colaboração?

Hmm, adoro elevator piches. Mas enquanto arquiteto de colaboração sou sobretudo um facilitador de grupos e, nesse papel, não é suposto defender o nosso interesse ou oferecer as nossas opiniões, mas antes procurar a participação do grupo e a criação de visões partilhadas. Assim, se eu estivesse num elevador. provavelmente começaria por colocar questões. Perguntaria ao grupo, como descreveriam facilitação de grupos numa frase?

No seu texto diz que há muita procura para a arquitetura da colaboração. Há mesmo?

Sim, há mesmo muita procura. Vemos que o número de facilitadores da IAF (International Association of Facilitators) está a aumentar rapidamente, mesmo em países inesperados como a Rússia ou a China. E não é só na nossa associação que os números estão a aumentar: ainda a semana passada participei no International Sketchnote Camp em Lisboa com centenas de sketchnoters, graphic recorders e visual facilitators de todo o mundo.

Também podemos testemunhar movimentos expontâneos para a adoção de metodologias agile e lean por parte das lideranças, como a gestão 3.0 ou Play14, que se reunem no Porto este fim-de-semana.

Todos estes praticantes partilham os valores da facilitação de grupos, são todos arquitetos da colaboração. As organizações que não estão a contratar este tipo de profissionais devem estar em atividades em que não é crítica a necessidade de mudança e adaptação a condições voláteis. Mas estas serão como ilhas no vasto oceano de organizações, empresas e sem fins lucrativos, que requerem uma eficaz colaboração em equipa para o sucesso.

As organizações devem ter pessoas com a função específica de arquiteto(a) da colaboração? Devem contratar pessoas externas para desempenhar esse papel quando necessário? Ou será que arquiteto da colaboração é um conjunto de competências que devem ser conscientemente adquiridas e aplicadas por todos na organização?

Esta é uma ótima pergunta.

Na verdade, para responder temos de andar para trás. A arquitetura da colaboração (AC) não é uma única profissão, mas antes uma coleção de competências e valores que são partilhados por qualquer pessoa que acredite no poder do trabalho de equipa e na tomada de decisão participativa.

Se nos focarmos ao nível empresarial, o arquiteto da colaboração seria como um ‘groupware designer‘, a tentar implementar a adoção de plataformas como o Office 365, a MangoApps, a Workplace by Facebook, e outras como as que vimos na mais recente conferência Social Now em Lisboa.

Se está preocupado com o design do espaço de trabalho, então a AC estará a pensar no espaço como uma vantagem colaborativa e em como desenhar melhores espaços de trabalho modernos.

Por fim, se está focado nas pessoas, então o seu trabalho será desenhar processos de grupo e promover uma melhor cultura de reuniões. Este é o trabalho de um facilitador de grupos.

Muitas organizações estão focadas na contratação de líderes facilitadores, aqueles que entendem os valores da facilitação de grupos e que podem desenhar colaboração eficaz, eventualmente recorrendo a facilitadores externos. Estes líderes facilitadores também estarão interessados em formar os membros da sua equipa e orientá-los para que se tornem melhores arquitetos da colaboração.

Visual Collab 2018. Este será um Knowledge Café focado no futuro das ferramentas do digital workplace e da colaboração visual. Estamos a falar de ferramentas como Surface Hub da Microsoft, Mart, Flip, CTouch e outras. Porque é que estas ferramentas de colaboração visual se estão a tornar tão populares neste momento?

É verdade que as vendas de team displays dispararam. Mas há aqui um senão. Se uma ferramenta for vista como um gadget para ser usada meia dúzia de vezes pelo diretor que tinha orçamento para a comprar, para anotar alguns slides que usa, isto não é útil para a indústria.

Acredito que empresas como a Microsoft consigo ir muito mais além se formarem os seus comerciais e distribuidores no sentido de serem capazes de apresentar utilizações mais inteligentes destes dispositivos.

Por outro lado, vemos o aparecimento de poderoso software de ideação, como o Nureva ou GroupMap, que substitui a necessidade dos métodos tradicionais de anotação de papel e caneta nos workshops de criatividade e gestão lean.

Sei que é um grande defensor do diálogo e de conversas com propósito. Qual o papel destas ferramentas de colaboração nessas conversas? De que forma podem estender o tempo e o espaço?

Esta é outra questão muito interessante até porque, como nos estamos a preparar para o Visual Collab 2018, temos debatido muito a melhor forma de registar as ideias que forem sendo produzidas durante as conversação.

Claro que podemos usar a tradicional combinação de caneta e papel, dando aos participantes os artefactos apropriados para registarem ideias.

Empresas como a Neuland especializam-se na produção de todos os tipos de post-it notes e marcadores que se podem distribuir pelo grupo para anotação de ideias. Estes post-it notes podem depois ser colados e categorizados em grandes folhas de papel que se penduram nas paredes.

O suporte digital de um software robusto de ideação significa que os participantes que não estão na sala também se podem ligar virtualmente ao mesmo espaço de reunião e observar, partilhar as nossas próprias notas, e participar na conversa mesmo que não esteja na sala.

Uma última pergunta para terminar, Paulo. É português, atualmente vive em Espanha, e tem uma grande experiência de viagem e trabalho em vários outros países. Vê diferenças significativas na forma como as pessoas colaboram e na abertura das pessoas à coração?

Isto acontecia muito nos anos 90, uma altura em que havia uma clara diferença entre o norte e o sul da Europa.

Quando começámos uma empresa especializada em software de suporte ao processo de tomada de decisão em grupo, era fácil ver que nos países nórdicos, na Holanda e até mesmo no Reino Unido, a tomada de decisão participativa era muito frequente em quase todos as grandes empresas e Câmaras Municipais.

Mas hoje estas diferenças são cada vez menores. O líder carismático que age como herói solitário e comanda as tropas para a vitória, está a tornar-se um mito do passado. Podemos agora ver que a o trabalho de equipa é entendido como um elemento crítico de sucesso. Isto implica que os gestores prestem o máximo de atenção na conceção de melhores processos colaborativos e que se tornem melhores líderes facilitadores, tanto nas organizações com fins lucrativos como nas restantes.

Nota: A versão original desta entrevista, em inglês, foi publicada no LinkedIn.

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