Knowledge and Communities

Knowledge and Communities - capaEste livro é um conjunto de textos escritos, alguns, por autores bem conhecidos e que nos dão uma visão englobante do conhecimento enquanto fenómeno resultante da vida de comunidades. O conceito de comunidades de prática é amplamente abordado nesta obra.

Uma comunidade é um grupo de pessoas com interesses semelhantes e que se reunem num determinado lugar (físico ou não) para discutir e partilhar conhecimento. Para que isto aconteça, e em consequência disto, são criados documentos, são usadas ferramentas e são definidos valores. A todos, chamamos “coisas”. Pessoas, lugares e coisas: de acordo com Lesser, Fontaine e Slusher, estes são, então, os três elementos que constituem uma comunidade.

Baseados nesta ideia, eles selecionaram uma sequência de textos escritos por diferentes autores, cada um reflectindo sobre pelo menos um dos elementos acima referidos. O livro está dividido em duas partes, oferecendo a primeira uma perspectiva prática, e a segunda o suporte teórico.

A parte prática inicía com aquele que eu considero o capítulo mais interessante. É assinado por Etienne Wenger, o homem que cunhou o termo “Comunidades de Prática” (CoPs). Neste capítulo ele fala exactamente sobre elas.

Embora não sejam um conceito novo, as comunidades de prática assumiram recentemente especial importância. As organizações estão agora empenhadas em atribuir a estas comunidades um papel mais central e em adoptar mais intenção no que diz respeito à sua criação. A justificação para esta mudança reside na actual percepção de que “o conhecimento é uma acto de participação” e que quem deve gerir o conhecimento são aqueles que o produzem e o usam no dia-a-dia.

O capítulo apresenta a estratégia de conhecimento de Wenger baseada nas comunidades de prática. O seu modelo tem sete passos e sugere um processo cíclico. Depois de identificar os passos o autor mergulha em cada um deles. Mesmo no final, Wenger menciona as verdadeiras funções de um gestor de conhecimento.

No capítulo seguinte, McDermott reflecte na incapacidade da tecnologia de mudar os comportamentos culturais e de, só por si, atingir verdadeira gestão de conhecimento. Ele aponta as características do conhecimento e sugere algumas acções para o tornar comum e acessível a todos. Na sua conclusão o autor fala brevemente sobre os quatro desafios de criar uma comunidade: técnicos, sociais, de gestão, e pessoais.

As características por detrás de um ambiente de trabalho criativo e inovativo são o tema de Judge et al.. Este é também o foco no capítulo de Seely Brown e Duguid. Estes consideram o trabalho, a aprendizagem e a inovação em conjunto e provam que as grandes organizações que atentam nas suas comunidades informais estão tão preparadas para inovar como as pequenas.

Judge et al., também referem algumas acções da direcção para suportar inovação. O mesmo acontece com os capítulos de Teigland e, também, de Lesser e Prusak.

Treino versus aprendizagem e teoria versus experiência são a base para o trabalho de Stamps e de Selly Brown e Duguid. Os últimos estabelecem a diferença entre as práticas canónicas (baseadas em livros e treino) e não-canónicas (baseadas na experiência quotidiana). As segundas são as que, realmente, nos podem ajudar nas tarefas do dia-a-dia. Para que essas práticas sejam conhecidas de todos, os autores sugerem a narração de histórias, entre outras actividades.

Teigland sugere formas de avaliar o desempenho dos elementos de uma comunidade de prática, baseando-se no estudo que realizou junto de uma empresa voltada para a Internet. O estudo conduziu à questão, ainda sem resposta, se as comunidades virtuais, onde ninguém conhece ninguém, podem ou não ser consideradas comunidades de prática. As comunidades suportadas por computador são também o tema do estudo de Wellman et al.. Os autores consideram ferramentas electrónicas baseadas na net e o seu efeito social, em termos de comunicação, cooperação, e criação de laços afectivos.

Franco et al., menciona as interacções suportadas por computador e analisa “flaming” (termo que significa o acto de falar rapidamente sobre um assunto sem interesse). O contexto é mencionado neste capítulo, tendo sido esquecido pelos restantes.

De todo o livro devo salientar as ideias de Armstrong e Hagel III sobre o valor económico que uma forte comunidade virtual pode trazer a uma organização. Os autores consideram quatro tipos de comunidades (de transacção, de interesse, de fantasia, e de relacionamento) para dar resposta às necessidade dos seus membros e quatro formas de criar valor (pagamento por uso, pagamento por conteúdo, publicidade, e sinergias). O que me cativou neste capítulo é a directa aplicação da maior parte das ideias, já que considera a realidade actual e as ambições das organizações no mundo virtual.

Também destaco as responsabilidades do gestor de conhecimento apontadas por Wenger:

  • mapear os requisitos estratégicos de conhecimento com os domínios práticos;
  • apoiar o desenvolvimento de comunidades e treinar os seus líderes;
  • educar os gestores para fomentarem comunidades;
  • liderar uma comunidade de suporte;
  • entender o ambiente e o seu efeito no comportamento processual;
  • estabelecer ligações entre as comunidades internas e externas;
  • especificar plataformas tecnológicas de suporte;
  • liderar uma comunidade de prática sobre comunidades de prática; e,
  • desenhar processos de avaliação conducentes à revisão da estratégia adoptada.

As comunidades estratégicas mencionadas no trabalho de Storck e Hill também merecem destaque. Elas são apresentadas como comunidades criadas pela gestão de topo para realizar uma determinada tarefa estratégica. As comunidades de prática e as comunidades estratégicas partilham características importantes. Contudo revelam também muitas diferenças, sendo a maior a espontaniedade das comunidades de prática e a formalidade das comunidades estratégicas.

Finalmente tenho de referir o regresso do capital social, aqui relembrado no trabalho de Lesser e Prusak. Os autores partem do pressuposto que o capital social suporta a gestão de conhecimento. Depois mostram o papel importante que as comunidades de prática desempenham no desenvolvimento do capital social, provando, dessa forma, a importância das comunidades de prática como impulsionadoras da gestão de conhecimento.

Muitos dos capítulos oferecem inúmeros exemplos. Alguns deles são a base do trabalho dos autores, enquanto outros são ilustrações das suas ideias e teorias. A grande quantidade de referências bibliográficas constitui um tesouro precioso para aqueles que querem explorar as comunidades de prática mais detalhadamente.

A impressão global com que fico deste livro é positiva. Ele oferece uma boa mistura de ideas práticas e de investigação, e considera diferentes tipos de comunidade. Apenas lamento o facto de todos os capítulos terem já sido publicados anteriormente e, alguns deles, datarem do início dos anos 90. Os editores assinam uma introdução inicial e pequenas introduções/resumos dos capítulos, mas pouco mais é adicionado, neste livro, ao valor dos seus capítulos.

Knowledge and Communities - capaSobre o livro:
Knowledge and Communities
Eric L Lesser, Jason A Slusher e Michael A Fontaine. Butterworth-Heinemann, USA, 2000.

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