The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big Difference (Malcolm Gladwell, 2000)

The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big Difference

The Tipping Point - capaHá já algum tempo que quase só leio livros de gestão ou comportamento organizacional. O último livro que li, e do qual aqui irei falar, não cabe em nenhum desses grupos. Foi-me emprestado por um colega de trabalho e foi uma agradável surpresa.

Este é um livro que, não tendo directamente a ver com gestão nem com as organizações, constitui uma relaxada fonte de inspiração para quem necessita de efectuar mudanças organizacionais, especialmente se forem culturais. Na verdade, este livro fala das epidemias sociais: fenómenos com consequências em larga escala, despoletados num determinado instante (tipping point) por um pequeno número de indivíduos.

Quando se fala em epidemia e contágio, pensamos em termos de doenças. Contudo, uma epidemia pode ser entendida num sentido muito mais lato. Exemplo disso são os sapatos da Hush Puppies que aumentaram exponencialmente as suas vendas de um momento para o outro porque uns rapazes no Soho começaram a usá-los, ou a Revolução Americana que teve início porque uma pessoa ouviu um boato e o conseguiu espalhar, numa área de vários quilómetros, a cavalo durante uma noite.

Malcolm Gladwell começa por falar das três características da epidemia social: contágio, o facto das pequenas causas provocarem grandes efeitos, e o facto da mudança não acontecer gradualmente mas num instante dramático. Além das três características, o autor fala ainda das três regras: a lei dos poucos, o factor aderente, e o poder do contexto. Respectivamente, eles reflectem o facto de que poucos indivíduos são suficientes para despertar uma epidemia, de que para que uma epidemia aconteça é necessário que a objecto adira aos sujeitos, e de que o contexto condiciona o acontecimento, ou não, da epidemia.

Ao falar da “lei dos poucos”, Gladwell apresenta três tipos de pessoas, todas fundamentais para o processo epidémico social: os mavens, os conectores, e os vendedores.

Os mavens são indivíduos que sabem “tudo” de um determinado assunto, ao mais ínfimo detalhe, e que têm prazer em partilhar o seu conhecimento, não para se gabar mas pela satisfação de ajudar. Não querem impingir as suas ideias, apenas partilhá-las para permitir às pessoas uma escolha informada. Também têm uma sede insaciável de saber. Não são persuasores, são antes professores e alunos.

Os conectores são pessoas que conhecem muitas outras. Não vêem necessidade em alimentar e aprofundar demasiado as suas relações, conseguindo com isso o tempo suficiente para alargar o seu leque de conhecimentos. Isso permite-lhes tecer uma teia valiosa quando se trata de transmitir uma mensagem, por exemplo.

Finalmente, os vendedores são indivíduos que pela sua personalidade e postura são capazes de convencer os seus interlocutores. Muitas vezes nem sequer precisam de palavras: o seu olhar, o seu sorriso são por vezes suficientes.

Mas mesmo que uma mensagem se espalhe por ter a sorte de bater à porta de pessoas com estas características, isso não garante que ela se aguente por forma a originar uma epidemia. A aderência é também crítica. Para exemplificar a importância deste factor e do trabalho por trás do caracter aderente de algumas mensagens, Gladwell fala, entre outros, da Rua Sésamo.

Finalmente, o autor cobre a terceira regra das epidemias sociais: o poder do contexto. A velocidade com que uma mensagem se espalha e a forma como ela se estabelece, depende também, e em grande parte, do contexto em que ela se insere. Exactamente por essa razão, Gladwell analisa diversos estudos que se debruçam sobre o papel que a sociedade tem no comportamento humano.

O que mais me impressionou neste trabalho foi a quantidade de exemplos dados e estudos evocados pelo autor para ilustrar e justificar as suas ideias. Não há uma só página deste livro que não narre ou descreva um acontecimento ou uma experiência feita. Para além da Rua Sésamo e da Hush Puppies, o livro recorre ainda ao Metro de Nova Iorque, à redução do consumo de droga, às eleições dos Estados Unidos, entre outros, para nos deixar rendidos à veracidade das suas alegações. Não tenho qualquer dúvida que este livro irá agradar a qualquer pessoa que tenha uma constante vontade de aprender.

Não esquecendo, porém, de que este portal se dedica à Gestão de Conhecimento e à Aprendizagem Organizacional, como é que este livro se enquadra? Perfeitamente! Numa área em que os resultados tangíveis são difíceis de encontrar, é difícil “vender” a necessidade de programas de gestão de conhecimento e de uma aprendizagem contínua a nível da organização. Sendo assim, é crítico saber identificar os mavens, os conectores e os vendedores para passar a mensagem. É necessário enriquecê-la e talhá-la e acordo com o perfil da organização. É necessário enquadrá-la no contexto envolvendo, justificando-a com a realidade que todos conhecem. Este livro oferece, sem dúvida, uma valiosa ajuda nesse processo.

The Tipping Point - capaSobre o livro:
The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big Difference
Malcolm Gladwell. Litle Brown and Company, USA, 2000.

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