Este trabalho é uma re-edição de um livro de 1996 cujo texto de suporte data já de 1994. Contudo, e devido ao seu caracter conceptual isso não lhe rouba qualquer validade ou actualidade. Está organizado de tal forma que nos leva numa viagem pelos diversos tipos de paradigmas organizacionais, desde os mais antigos até aos paradigmas e abordagens que hoje sentimos serem o caminho do futuro.
O autor inicia com o mito da objectividade que tem vindo a ser alvo de sucessivas críticas. Elas defendem que os factos não podem ser puros já que há a constante interpretação de quem os observa. Quem observa não consegue evitar relacionar o objecto de observação com a sua experiência e o seu conhecimento. Isto está intimamente ligado com a disciplina dos “Modelos Mentais” apontada por Senge.
Uma outra disciplina de Senge é de seguida referida mas com base no trabalho de Marsick. Segundo ele, o pensamento positivista, que considera a organização como um instrumento para atingir um fim, é substituído pelo pensamento sistémico que encara a organização como um sistema uno, onde mudanças numa parte desse sistema se repercutem por todas as outras.
Investigação-acção e a ciência-acção são apresentadas como duas estratégias de investigação compatíveis com o paradigma organizacional. A investigação-acção (action-research) considera o “processo de investigação em espiral”, interactivo e focado num problema. Por outro lado, a ciência-acção (action science) baseia-se na anterior mas centra-se nas diferenças entre as teorias que se defendem e as que se praticam. Esta última estratégia é defendida por Argyris e Schön, não fossem eles os autores do conceito de aprendizagem de ciclo duplo, uma aprendizagem capaz de questionar o que foi feito, inserindo as conclusões no processo de acção.
O autor apresenta depois um conjunto de pressupostos avançados em 1990 por Marsick:
- os problemas são dependentes do contexto em que são colocados;
- a investigação é dependente da influência de quem nela intervém;
- a informação deve privilegiar tanto a quantidade como a qualidade;
- o objectivo da investigação é encontrar as causas para o contexto particular do estudo sem exageradas preocupações de generalização;
- a investigação deve ser feita em colaboração e participação; e,
- “a investigação deve originar contribuições positivas para o funcionamento organizacional”.
O pensamento positivista dá início à viagem. Taylor, um dos grandes defensores deste corrente de pensamento, considerava os seguintes princípios: divisão de responsabilidades, métodos científicos para determinar a forma de execução de tarefas, selecção da pessoa mais capaz, formação das pessoas para o bom desempenho, controlo do desempenho, e vencimento deriva da quantidade de trabalho. Isto reflecte um descuido da componente humana: mais uma peça deste instrumento organizacional.
A abordagem burocrática é também descrita. Esta pretende eliminar os abusos de poder, uniformizando processos que permitam evitar a acção individual. O grande problema desta abordagem é que não considera a actividade expontânea e informal das organizações, actividade essa que é cada vez mais observável nos dias que correm.
A teoria da complexidade tão defendida por pessoas como McElroy relaciona-se de perto com a interpretação da organização como um ser vivo. Segundo esta teoria a organização é vista como interagindo com o ambiente que a rodeia. Mas, segundo Canavarro, além de poder ser significativamente influenciada pelo ambiente externo, uma organização tem também a capacidade de o influenciar. Mais ainda, o autor considera que, enquanto o organismo humano revela uma unidade funcional onde todos os órgãos trabalham para um mesmo fim, as organizações apresentam conflitos que resultam de divergências ideológicas, por exemplo.
A abordagem cultural, tão bem exemplificada pelo recente desenvolvimento do Japão, é a etapa seguinte deste percurso. Segundo vários autores, este desenvolvimento nipónico deve-se a aspectos bem definidos da sua cultura: cooperação, socialização, e uma forte interligação. Estes aspectos surgem como a resposta deste país às adversidades, e comprovam que, mais uma vez, “a necessidade faz o engenho”.
A abordagem cultural, tão bem exemplificada pelo recente desenvolvimento do Japão, é a etapa seguinte deste percurso. Segundo vários autores, este desenvolvimento nipónico deve-se a aspectos bem definidos da sua cultura: cooperação, socialização, e uma forte interligação. Estes aspectos surgem como a resposta deste país às adversidades, e comprovam que, mais uma vez, “a necessidade faz o engenho”.
Daqui parte o autor para uma reflexão sobre o que cria e define a cultura de uma organização: será que uma organização significa uma cultura, ou que uma organização apresenta uma cultura definida pelos aspectos comuns de todas as sub-culturas que nela co-habitam?
Depois de analisar a organização segundo a abordagem cultural, é tempo de a ver sob o prisma político, onde os interesses pessoais (tarefa, carreira, vida pessoal) colidem com os interesses colectivos da organização. Este jogo de interesses está intimamente ligado com os quatro sistemas de influência defendidos por Mintzberg: autoridade, ideologia, conhecimento, e poder. O caso da Ford é aqui descrito.
Finalmente o autor conduz-nos até à temática da aprendizagem organizacional onde a organização é vista como um sistema de processamento de informação onde as partes valem pelo todo. A importância deste conceito é reforçada pelas seguintes tendências: alteração da natureza do trabalho (processamento informação e criatividade), a necessidade de inovação e novidade (a qualidade é uma característica assumida), e a contínua transformação e mudança (difícil de prever).
Canavarro sugere aqui as ideias de Dixon que define o modelo de aprendizagem organizacional em cinco fases: aquisição de informação, interpretação e distribuição da informação, atribuição de sentido, memória organizacional, e recuperação ou reconstrução da informação.
Finalmente, são apresentados os contributos das organizações aprendentes que se aproximam grandemente da visão construtivista, mas que de muito podem beneficiar se não se descuidarem as questões culturais e políticas.
Este é um livro interessante para quem deseja saber as teorias na base das práticas organizacionais. Com esse intuito, é um livro directo, resumido, e simples de entender. Não tem qualquer pretensão filosófica e pena é que não espelhe um pouco mais do ponto de vista pessoal do autor. É apresentado numa sequência bastante lógica fazendo-nos progredir na história e sugerindo as desvantagens de paradigmas e abordagens anteriores como as razões para a criação dos seguintes.
Sobre o livro:
Teorias e Paradigmas Organizacionais
José Manuel Canavarro. Quarteto Editora, Portugal, 2000.